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11.7 EXILIO DA BABILONIA Aprox. 587/6-538 a.C
11.7 EXILIO DA BABILONIA Aprox. 587/6-538 a.C

Retomando o caminho feito.

Na aula anterior, você pôde acompanhar a ascensão do reino do Sul (931-586), a atuação dos principais reis e profetas, o surgimento de escritos bíblicos e a subida dos babilônicos ao poder invadindo Judá, destruindo a cidade de Jerusalém, saqueando o templo e deportando parte da população para a Babilônia. Essa época representou para Judá um novo, mas triste momento. Era o fim da dinastia dravídica, de Jerusalém e do santuário.

 

Nesta aula, você poderá acompanhar mais de perto esse período do exílio. Foi o mais sofrido de toda a história de Israel. Talvez somente comparável à opressão dos hebreus sob os reis cananeus e o faraó do Egito há mais de 700 anos. Uma grande crise se abateu sobre quem sobreviveu à catástrofe e especialmente sobre os deportados. E, como sempre, é nas situações de crise que surgem novas propostas, novas alternativas. Avalia-se o passado. Ativa-se a memória do Êxodo e a esperança de uma nova libertação renasce. Foi uma época de muita criatividade literária. As deportações promovidas pelos babilônios representaram muita dor para quem foi levado como refém e geravam também muito sofrimento para quem ficou na terra. Mas foi justamente em meio à dor desse período que os expatriados e os remanescentes na terra mantiveram sua esperança, sua mística de resistência.

 

Nesta aula iremos analisar os fatos históricos do exílio, especialmente o seu significado para o povo de Israel e a produção literária desse período. Ao olharmos atentamente o exílio do século 6 a.C., queremos buscar luzes que nos ajudem a encontrar saídas criativas para o momento crítico em que vive a humanidade hoje. Nossa leitura bíblica tem a vida como ponto de partida e de chegada. Quer ajudar a defendê-la, promovê-la e recriá-la permanentemente, especialmente lá onde ela está sendo mais agredida e diminuída. Porque, acima de tudo, o sagrado é a vida.

 

1- Contexto histórico

Depois da Assíria, a Babilônia começou a destacar-se no cenário internacional. Já em 597 a.C., Nabucodonosor, rei da Babilônia, sitiou Jerusalém, a capital do reino de Judá, e a tomou. Aprisionou o rei Joaquin, seus familiares, toda a corte e os deportou para a Babilônia juntamente com os ferreiros e artífices, em um total de 3.023 pessoas e deixou em Judá só a população mais pobre. Saqueou o Templo de Jerusalém e o palácio real (2Rs 24,10-17), e levou os utensílios sagrados. Substituiu o rei Joaquin por seu tio Matanias, cujo nome mudou para Sedecias. Entre esses prisioneiros esta o profeta Ezequiel

 

Havia em Judá uma grande divisão interna em que, dos diversos partidos, uns eram a favor do Egito (2Rs 23,31-35; Jr 37,6-7), outros da Babilônia (2Rs 24,17; Jr 38,19; 19,11-12). Sedecias e o profeta Jeremias, que ficou em Judá, posicionaram-se a favor da Babilônia. Jeremias tinha consciência de que o povo não podia morrer, pois tinha uma missão a cumprir. Por isso, pedia ao povo que não fizesse resistência (Jr 27,10-12). Isso não quer dizer que Jeremias aprovasse a política da Babilônia. Também ela um dia seria subjugada (Jr 27,7). Mas era para impedir um mal maior, o extermínio do povo. Além disso, na memória de todos conservavam-se dois traumas: a destruição de Samaria em 722, que tentou resistir à Assíria, mas foi aniquilada e nunca mais se refez (2Rs 17,5-6), e a morte do rei Josias, em 609 a.C., ao se opor à passagem do exército egípcio pelo seu território (2Rs 23,29-30). Diante desses dois fatos, o povo ficou perdido, sem saber qual posição tomar (Jr 26,11.16.24).

 

E mesmo que Sedecias, o último rei de Judá, adotasse a linha babilônica, não tinha segurança em seus atos. Em diversos momentos consultou Jeremias para saber o que deveria fazer (Jr 37-38). Mesmo sendo indeciso, salvou a vida do profeta. Por outro lado, era incapaz de impedir que fosse feito algum mal a Jeremias e nem mesmo conseguia convencer os grupos divididos a adotar sua opção política. Insatisfeito com a submissão à Babilônia, formou uma coligação antibabilônica instigado pelo Egito, que desejava alcançar a Ásia. O plano não deu certo. Sedecias temeu uma repressão maior e, antes que a Babilônia viesse exigir seus direitos, enviou uma embaixada ao rei para renovar sua submissão (Jr 29,3; 51,59).

 

Não demorou muito para Sedecias, mesmo à revelia dos conselhos de Jeremias, partir para uma segunda tentativa de coligação antibabilônica com o Egito e os países vizinhos (Ez 17,15; 21,24-25). Outra vez não foi bem-sucedido. O exército da Babilônia cercou Jerusalém em 587[1] e a invadiu antes que chegasse o apoio do Egito[2]. Sedecias foi derrotado nas proximidades de Jerusalém. A cidade, os muros, as fortalezas foram destruídas e saqueadas. O Templo foi incendiado e a mesma sorte coube a muitas localidades de Judá.

 

Sedecias tentou fugir com a família, mas foi capturado (Jr 39,1-7; 52,6-11; 2Rs 25,3-7). Seus familiares foram mortos, e ele foi cegado e levado para a Babilônia, onde desapareceu. Com o rei, foi deportado um 822 pessoas, pequeno grupo, bem menor do que o de 597[3], pois muitos haviam morrido no combate, outros de fome, pela peste e um grande número foi degolado pelos vencedores. Por volta de 582, o profeta Jeremias refere-se a uma outra deportação da qual tomamos conhecimento por meio do seu livro (Jr 52,30).

 

Toda forma de dominação agride a dignidade e a liberdade humanas. Mas existem alguns métodos que são mais violentos do que outros. A Babilônia foi menos violenta com os países dominados por ela do que a Assíria.[4] Esta impunha sanções severas aos países vassalos que variavam segundo as faltas. Na primeira rebelião a punição era feita com o aumento dos "'tributos. No caso de uma nova tentativa de rebelião, os assírios intervinham com a força militar. Na terceira tentativa, o soberano local era deposto e substituído por um governador assírio. Deportava-se um número elevado da população nativa para evitar novos focos de rebeliões. Os deportados eram espalhados pelas cidades do império, e outros povos eram trazidos para o local. Foi o que aconteceu com os israelitas do reino do Norte (2Rs 17,24).

 

Ao transformar Judá numa província, os babilônios, ao contrário dos assírios, nomearam no lugar do rei Sedecias um governador da nobreza local de Judá, chamado Godolias (2Rs 25,22; Jr 40,7s).  Ele instala seu governo no antigo santuário de Masfa, mas os membros da dinastia davídica, que tinham fugido para o Edom, não concordaram com este novo governo e mataram Godolias.

 

E Jeremias? As informações a respeito da sua sorte são desencontradas. As narrativas devem apresentar lacunas, pois no seu livro, em 39,14, Jeremias é libertado em Jerusalém, "do pátio da guarda", e logo em seguida, no 41,1, aparece novamente entre os prisioneiros na cidade de Ramá, que estão sendo levados para o cativeiro da Babilônia. Segundo as informações de Jr 39,11- 12, foi-lhe dada a possibilidade de escolher entre ficar em Judá ou seguir para a Babilônia. Ele escolheu a permanência junto a Godolias, governador da região, e morou com ele em Masfa (Jr 40,6).

 

Com a morte de Godolias, a situação piorou e este fato provoca um terceira deportação de Judeus para a Babilônia, em um número de 645 pessoas. Tais números estão dentro do razoável e mostra que quando se fala em exílio não podemos pensar que todo o povo foi levado, mas apenas uma pequena parte da elite dirigente, os artesãos, os sacerdotes e escribas. Enfim, gente que poderia liderar uma revolta contra o poder invasor. A grande maioria do povo nunca foi nem retornou. Mas todos passam pela realidade que chamamos de exílio. O texto não deixa claro qual foi o paradeiro de Jeremias. Quando a Jeremias, a tradição nos informa que ele teria sido levado para o Egito, onde terminou sua vida.

 

2- Na angustia da destruição, surge a esperança de sobreviver na terra.

A situação vivida pelo povo durante o cerco de Jerusalém e mesmo depois da queda da cidade e da destruição do Templo, foi terrível: falta de comida (Lm 1,11); canibalismo (Lm 2,20; 4,10); sofrimento das crianças (Lm 2,11-12.19); violação das mulheres (Lm 5,11); assassinato de sacerdotes e profetas (Lm 2,6.14); enforcamento de homens respeitáveis (Lm 5,12); imposição de trabalhos forçados e de impostos por parte do império babilônico. O autor do livro de Lamentações descreve assim a situação de Judá depois da destruição: "Que solitária está a Cidade populosa! Tomou-se viúva a primeira entre as nações; a princesa das províncias, em trabalhos forçados. Passa a noite chorando, pelas faces correm-lhe lágrimas. Não há quem a console entre os seus amantes; todos os seus amigos a traíram, tomaram-se seus inimigos. Judá foi desterrada, humilhada, submetida a dura servidão; hoje habita entre as nações, sem encontrar repouso; o que a perseguiam alcançaram-na em lugares sem saída” (Lm 1.1-3). "Nossa herança passou a estranhos, nossas casas a desconhecidos. Somos órfãos, já não temos pai; nossas mães são como viúvas. Nossa água por dinheiro a bebemos, nossa lenha entra como pagamento. O jugo está sobre nosso pescoço, empurram-nos; estamos exaustos, não nos dão descanso" (Lm 5,2-5).

 

A destruição não havia poupado nada e as áreas que ficaram desocupadas com a saída dos deportados foram povoadas não só pela população camponesa que ficou em Judá[5], mas também pelos povos vizinhos[6].

 

Os sobreviventes recomeçaram lentamente a povoar as cidades e reconstruí-las. Os assentamentos judaicos concentraram-se nas regiões periféricas e em algumas distantes, provavelmente causando a separação com Judá logo na primeira deportação, em 597 a.C. Os nomes dessas cidades foram conservados na lista do "resto de Israel", no livro de Neemias (Ne 11,20.25-36). Ele cita, de fato, muitas localidades situadas nas regiões de Benjamim, do Negueb e da Sefelá, fora do território de Judá.

 

Godolias iniciou seu governo com um programa de reconstruções, convidando os remanescentes da catástrofe a repovoar as cidades e a retomar as atividades cotidianas. Para isso, distribuiu as terras dos deportados aos moradores da cidade e do campo[7]. Criou assim uma pequena classe de proprietários locais, cujo direito não se fundamentava na herança nem na compra, mas na ordem dada pelo imperador da Babilônia. Esse ato foi considerado válido e digno de fé e suscitou esperanças no povo. Mesmo assim foi muito difícil para os que permaneceram em Judá, pois todos os dias as ruínas dos lugares sagrados estavam sob seus olhos.

 

Godolias estava apenas no início do seu governo quando foi morto traiçoeiramente em Masfa (2Rs 25,25; Jr 40-44). Com sua morte, a situação tornou-se mais difícil ainda e a pobreza, maior. Sobreviver nesse contexto era muito penoso. Com medo de uma repressão maior, muitas famílias judias fugiram para o Egito. Refugiaram-se, predominantemente, na colônia de Elefantina (ou Yeb). Há quem atribua a eles a sua fundação, sendo, posteriormente, transformada em colônia militar de judeus aposentados. Jeremias também fugiu para o Egito (Jr 42), onde provavelmente concluiu seus dias (2Rs 25,22-26; Jr 40-44).

 

2.1 – Da crise de fé a uma vida nova

Nesse período o povo viveu uma grande crise de fé. Diante dos acontecimentos teve atitudes diferentes, ora de revolta contra Deus, ora de reconhecimento de sua culpa e, por fim, de pedido de socorro. O primeiro sentimento que invadiu o povo foi a revolta contra Deus, como se ele fosse o responsável pela desgraça: "O Senhor tencionou destruir o muro da filha de Sião: estendeu o prumo, não retirou sua mão destruidora; enlutou baluarte e muro: juntos desmoronaram [ ... ]. O Senhor realizou o seu desígnio, executou sua palavra decretada desde os dias antigos; destruiu sem piedade; fez o inimigo alegrar-se às tuas custas, exaltou o vigor de teus adversários" (Lm 2,8.17).

 

O desespero do povo era tão grande que ele chegou a sentir-se até no direito de chamar a atenção de Deus: "Vê, Senhor e considera: a quem trataste assim? Irão as mulheres comer o seu fruto, os filhinhos que amimam? Acaso se matará no santuário do Senhor sacerdote e profeta?" (Lm 2,20). Passado o impacto inicial, um outro sentimento invadiu o coração do povo, não mais de revolta contra Deus pela destruição, mas de reconhecimento da culpa do próprio povo. Ele avaliou a desgraça como consequência de sua infidelidade a Deus: "Elevemos nosso coração e nossas mãos para o Deus que está nos céus. Nós pecamos, fomos rebeldes [ ... ]. Nossos pais pecaram: já não existem; nós é que carregamos as suas faltas. Por causa dos pecados de seus profetas, das faltas de seus sacerdotes, derramou-se, no meio dela, o sangue dos justos!" (Lm 3,41s; 5,7; 4,13).

 

Mas o povo recobrou suas forças e renovou a confiança em Deus. Ele, sim, podia estar derrotado, mas Deus não, que continuava inabalável no seu trono. Se Deus continua firme, podemos acreditar no seu poder. Ele pode fazer brotar a vida num contexto de morte: "Mas tu, Senhor, permaneces para sempre; teu trono subsiste de geração em geração. Por que nos esquecerias para sempre, nos abandonarias até o fim dos dias?" (Lm5,19-20). O povo recobrou o ânimo e renovou sua fé: "O Senhor é bom para quem nele confia, para aquele que o busca. É bom esperar em silêncio a salvação do Senhor" (Lm 3,25s).

 

A fé pura no Deus de Israel não morreu. O lugar onde o Templo foi destruído continuou sagrado e nele se ofereciam sacrifícios, segundo a afirmação de Jeremias (Jr 41,4-5). Parte dos muros do Templo restou e continua em pé até hoje, como "Muro das Lamentações", lugar de orações e de peregrinação (1Rs 8,33). De acordo com o profeta Zacarias, esses ritos deviam ser observados quatro vezes ao ano: no 4º mês (junho/julho) por causa da conquista de Jerusalém; no 5º mês (julho/agosto) por causa do incêndio do Templo; no 7º mês (setembro/outubro) por causa do assassinato de Godolias; no 10º mês (dezembro/janeiro) por causa do cerco de Jerusalém (Zc 8,19; cf. 2Rs 25,1.8- 9.25). O povo imprimiu em seus acontecimentos históricos um caráter religioso e celebrativo.

 

2.2 - O "resto" eleito: um broto no tronco seco

Depois da destruição do reino de Judá em 587, nasce a consciência de serem eles o resto que foi disperso por Deus entre as nações: “[ ... ] não somos mais do que um resto no meio das nações para onde nos dispersaste" (Br 2,13; Ez 12,16). E nesse contexto fora e distante da sua terra, Israel se converterá e "então os vossos sobreviventes no meio das nações por onde tiverem sido levados cativos - quando eu tiver quebrado o seu coração prostituído que me abandonara, e os seus olhos prostituídos com ídolos imundos - se lembrarão de mim. Sentirão asco de si mesmos pelo mal que fizeram, por todas as suas abominações. Saberão então que eu sou o Senhor e que não foi em vão que lhes falei que havia de infringir lhes todo este mal" (Ez 6,9-10). Deus reunirá esse resto purificado para a restauração messiânica: "Eu mesmo reunirei o resto de minhas ovelhas de todas as terras para as quais eu as dispersei [ ... ], suscitarei a Davi um germe justo; um rei reinará e agirá com inteligência e exercerá na terra o direito e a justiça. Em seus dias Judá será salvo e Israel habitará em segurança [ ... ]" (Jr 23,3.5-6).

 

Mas depois do exílio o "resto" é novamente infiel e será novamente dizimado e purificado, como o expressa bem o profeta Zacarias: "E acontecerá em toda a terra - oráculo do Senhor - que dois terços serão exterminados e que o outro terço será deixado nele. Farei esse terço entrar no fogo, purificá-lo-ei como se purifica a prata, prová-lo-ei como se prova o ouro. Ele invocará o meu nome, e eu lhe responderei; direi: 'É meu povo!' e ele dirá: “o Senhor é meu Deus!” (Zc 13,8-9). Desse resto fiel nascerá o rei Messias, o Emanuel comparado a uma pedra angular (Is 28, l6-17) e ao broto ou rebento de um povo santo (Is 6,13; 11,1.10). A comunidade cristã retoma essa mesma ideia e relê em Jesus Cristo como esse "Rebento" do novo e santificado Israel (Mt 1,6.16).

 

3- EXILADO O POVO PROSPEROU

O exílio da Babilônia deixou marcas não só no povo que ficou na terra de Judá, mas também nos que foram deportados. Os remanescentes tinham a realidade da destruição sob os olhos. Os que foram deportados carregaram consigo as imagens da cidade destruída, do povo disperso e massacrado, do culto desfeito. Estavam agora fora da terra, sem Templo, sem culto e sem os seus dirigentes. Muitos sonhos construídos ao longo dos anos foram desfeitos.

 

O jeito era entrar no novo ritmo de vida, pois ainda tiveram sorte. Os babilônios não dispersaram os exilados, como fizeram os assírios. Eles foram assentados em núcleos nas proximidades do rio Cobar, nas cidades de Neppur, Susa, Uruk e outras (Ez l,ls; Ne 7,61).

 

Alguns deviam viver em regime de servidão (Is 42,22), e grande parte deles foi assentada em comunidades agrícolas (Ez 3,24; 33,30). Isso favoreceu a conservação do patrimônio espiritual, religioso e cultural. Podiam falar a própria língua, observar seus costumes e suas práticas religiosas. Tanto é que pouco a pouco foram-se aculturando, adotaram nomes, o calendário e a língua da Babilônia, o aramaico. Podiam livremente reunir-se, comprar terras, construir casas e comunicar-se com Judá, sua pátria (Jr 29,5). Não sofreram a mesma sorte dos irmãos do reino do Norte sob o plano ético e político; foram totalmente assimilados pelos povos entre os quais foram dispersos.

 

Na realidade, na Babilônia, conseguiram até uma certa prosperidade econômica num tempo relativamente curto, a qual foi comprovada pelas pesquisas arqueológicas mediante documentos descobertos na cidade de Neppur. São documentos de bancos, casas de comércio, contratos de compra e venda, contratos matrimoniais nos quais aparecem muitos nomes de origem hebraica. Não há indícios nesses documentos de que os deportados dessa região tivessem sido reduzidos à escravidão. Alguns acabaram conquistando postos administrativos e até altos cargos como Neemias e Esdras. O rei Joaquim e a família vivem no palácio, onde recebe tratamento privilegiado.

 

O profeta Ezequiel vivia entre os exilados. Ele os ajudava muito a superar as dificuldades e a alimentar a esperança do retorno à Terra Prometida. Numa de suas visões chegou a descrever uma nova distribuição da terra santa entre as 12 tribos de Israel, colocando-as lado a lado, em uma convivência de perfeita unidade (Ez 48,1-29). A descrição dos seus confins corresponde aos antigos confins da terra de Canaã que aparece no livro de Números (cf. Nm 34, l-12). Ezequiel acrescenta nessa descrição nomes geográficos contemporâneos, incluindo províncias da Babilônia do seu tempo (Ez 47,13-23). Ainda que os deportados tivessem encontrado a possibilidade de reconstruírem suas vidas viveram a experiência do exílio como uma grande catástrofe.

 

3.1 - A Saudade de Deus alimentava a fé e a esperança

Com o exílio, o povo pensava que todas as promessas de Deus tivessem falido: terra, descendência e um grande nome. Viveu uma enorme crise de fé no Senhor, seu Deus. O deus da Babilônia, Marduc, havia vencido o Deus de Israel, tinha mais poder do que ele. Por isso, muitos exilados aderiram à religião de Marduc. Não só por ele ter sido mais poderoso, mas também por- que poderiam obter alguns privilégios de seus senhores babilônios (Ez 14,1-11).Além do mais, as festividades religiosas dedicadas a Marduc eram muito suntuosas, com liturgias e procissões solenes, que levavam os exilados a acreditar que, de fato, o Senhor fora vencido junto com seu povo. Porém, havia os que permaneciam fiéis ao Deus de Israel, e o sentimento e a sensação dominante que os afligia era em relação ao problema da retribuição individual e nacional, ou seja: quem é o culpado por tanta desgraça que caiu sobre nós? Estamos pagando pelos nossos pecados ou dos nossos antepassados? Estamos pagando pelos nossos pecados individuais ou coletivos? (Ez 18,2; 23,32).

 

Ezequiel e o Segundo Isaías não mediram esforços para manter viva no povo a fé no Deus da Promessa e a esperança de uma restauração na própria terra. Por isso, Ezequiel tenta apresentar um extenso programa de reconstrução do Templo, do culto (Ez 40-46) e do próprio Estado com seus limites e com distribuição da terra (Ez 47,13-48,29). O chefe da nova terra não será mais um rei, e sim um príncipe (Ez 48,21s).

 

No exílio reafirmaram a identidade israelita mediante algumas práticas culturais e religiosas, como a circuncisão, a observância do sábado e da lei mosaica. O referencial não era mais o Templo, mas o Livro da Lei, as escrituras sagradas. Elas eram anunciadas principalmente pelos profetas do exílio, Ezequiel e o Segundo Isaías (Is 40-55). A "religião do Livro" foi tomando importância cada vez maior no exílio; nele surgiram muitos escritos e outros foram reescritos. Os exilados mantinham viva a fé pelas celebrações litúrgicas, orações e cânticos, embora não conseguissem esquecer Sião (SI 137). Conservavam a firme esperança de retomarem a ela, pois Deus a havia prometido a eles, que se consideravam descendentes de Abraão (Gn 12,7). Isaías via o retomo do exílio como um novo êxodo, em cujo deserto haveria abundância de água e toda espécie de plantas (Is 41,18-20).

 

Longe da terra, os exilados, buscaram solidificar sua identidade por meio de algumas práticas que já existiam entre eles antes do exílio e que perduram até hoje: a circuncisão, a observância do sábado, das regras alimentares e, fundamentalmente, a leitura da Lei de Moisés ou Torá. Esses sinais externos os identificavam diante dos outros povos.

 

Antes do exílio eram os sacerdotes que congregavam o povo ao redor do culto no Templo de Jerusalém. Agora, no exílio, sem altar, sem templo, sem sacrifício, valoriza-se a Palavra. A Palavra estava no centro da vida do povo. Na reflexão das Escrituras, a lei tinha um destaque especial. Ezequiel, por exemplo, faz referências à observância dos mandamentos de Deus (Ez 11,20; 44,24). Mais tarde, como veremos, Esdras dará à fé judaica uma estrutura bem definida. Centralizada na observância da lei, a comunidade judaica pôde manter-se unida, mesmo dispersa por todo o mundo.

 

Inicialmente, as reuniões eram realizadas em casas de uma forma livre e espontânea na forma de círculos bíblicos como acontece hoje em nossas comunidades (Ez 8,1; 14,1; 33,30-33). Aos poucos, porém, o espaço ficou apertado e surgiu a necessidade de reservarem um lugar maior e específico para realizar tais atividades.

 

Assim, como se tornou impossível realizar o culto centralizado no templo em ruínas aparece pela primeira vez a sinagoga como espaço que substituiu o templo agora em ruínas. Porém, não como lugar de sacrifícios, mas como lugar de oração, de instrução na lei de Deus, de reflexão das Escrituras, da Palavra. Sinagoga é uma palavra grega que significa "assembleia", "reunião" e foi uma forma criativa encontrada para manter a fé e a identidade judaica.

 

4 - A BÍBLIA NASCE DO OLHAR ILUMINADO SOBRE A HISTORIA

O Exílio da Babilônia dividiu a população de Judá em dois contextos geográficos distintos: Judá e a Babilônia. Nos dois contextos floresceu a literatura bíblica.

 

Em Judá nasceu a Tradição Deuteronomista, Jeremias, Lamentações e a releitura dos profetas; enquanto que na Babilônia nasceram os escritos de Ezequiel, Segundo Isaías, Tradição Sacerdotal, Levítico 8,10;17-26, e os Salmos 42;42; 69;70;137.

 

4.1- Literatura em Judá: Tradição Deuteronomista.

O primeiro núcleo do livro do Deuteronômio (caps. 12-26) foi escrito no reino do Norte. Depois da queda da Samaria, em 722 a.C., esses escritos foram levados para o Sul e compilados pelo grupo deuteronomista durante o reinado de Josias. A redação e a compilação do núcleo maior foram feitas no período do exílio e a finalização e a fusão das quatro grandes tradições, por volta de 445 a.C., quando Israel estava sob o domínio persa, tema do nosso próximo estudo.

 

A palavra Deuteronomista vem do livro do Deuteronômio, que significa "segunda lei". O Deuteronômio recebeu esse nome porque nele fala-se que o rei, ao assumir o trono, devia receber "uma cópia dessa lei ditada pelos sacerdotes levitas" (Dt 17,18). De fato, no livro do Deuteronômio (Dt 5,6-22) encontramos uma cópia do Decálogo que está no livro do Êxodo (Ex 20,2-17). O tema da Aliança é central, já na sua compilação na época de Josias, e foi assumido por toda a obra Deuteronomista, que compreende mais seis livros: Josué, Juízes, 1 e 2 Samue1 e 1 e 2 Reis.

 

Os compiladores da Tradição Deuteronomista, no período do Exílio, não escreveram esses seis livros, mas serviram-se de fontes já existentes vindas de muitas regiões, como também do reino do Norte. As fontes às vezes são divergentes entre si, mas eles não as modificaram. Respeitaram-nas embora tivessem muita liberdade em dispor e reorganizar os textos, chegando algumas vezes a alterar a ordem cronológica dos acontecimentos. Tudo indica que o interesse maior desse grupo era descrever a trajetória dos reis de Israel e de Judá conforme 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis. Os outros três livros - Deuteronômio, Josué e Juízes - são considerados uma introdução à monarquia. A Obra Deuteronomista inicia no primeiro capítulo do livro do Deuteronômio e termina com o capítulo 25 de 2 Reis com a narrativa da destruição de Jerusalém em 587 a.C.

 

A homogeneidade do processo redacional encontra confirmação, na coincidência dos dados cronológicos: 1Rs 6,1 fala que o rei Salomão começou a construir o Templo 480 anos depois da fuga do grupo de Moisés do Egito. Calculando os vários períodos dos quais falam os demais livros da Tradição Deuteronomista, obtém-se exatamente a soma de 480 anos. Outros elementos convergem para afirmar a unidade desse bloco literário, como o estilo e a mensagem teológica. Em todos esses livros encontramos expressões típicas como: "amar a Deus"; "servir, andar atrás, voltar-se para outros deuses"; "obter vida longa, longos dias"; "terra, cidade que vosso Deus vos deu como herança"; "a terra na qual estás para entrar e tomar posse...” Palavras e sinônimos: Lei, norma, estatuto, instrução, prescrição. E, ainda, traz frases longas e muitas repetições.

 

A mensagem teológica presente nesses livros é a fidelidade de Deus à sua Aliança com o povo de Israel. Deus o escolheu e fez com ele um pacto. Mas o povo e seus representantes nem sempre foram fiéis ao pacto e escolheram a própria infelicidade.

 

4.1.1 – Deuteronômio: A herança de Moisés para os exilados

O livro do Deuteronômio é uma coleção de homilias centradas no amor à lei de Deus, na paixão por sua observância e no agradecimento pelo dom da terra de Canaã. Não é um manual árido permeado de leis. Ele se parece mais com uma pregação e uma catequese sobre a Torá que deve envolver toda a pessoa, por isso insiste sobre determinadas expressões: vê, olha, presta atenção, observa, escuta. Muitas vezes aparece ouve: "Ouve, ó Israel, os estatutos e as normas que hoje proclamo aos vossos ouvidos. Vós os aprendereis e cuidareis de pô-los em prática" (Dt 5,1). Usa com frequência a expressão "hoje" como forma de atualização da Torá.

 

O livro pode ser estudado de diferentes modos. Um deles é analisá-lo em grandes blocos segundo os três grandes discursos de Moisés. Começa com uma introdução que situa os discursos no tempo e no lugar, fazendo uma ligação com o livro de Números (Nm 21,21-35). O primeiro discurso de Moisés (Dt 1,6-4,4) traz um resumo da história de Israel, desde sua permanência no Sinai até a chegada na Transjordânia, diante do Jordão.

 

O segundo discurso (Dt 4,44-28,69) começa também com uma breve indicação de tempo e lugar (Dt 4,44-49; 1,1-5), depois apresenta o Decálogo, suas exigências e o Código Deuteronômico (Dt 12,1-26,15), que reúne diversas coleções de diferentes origens dos reinos do Norte e do Sul. Foi esse o livro da Lei encontrado no Templo sob o reino de Josias (2Rs 22,8-9). Segue uma longa conclusão (Dt 26,16-28,69).

 

O terceiro discurso (29-30) lembra: o passado salvífico de Israel (Dt 29,1-8); o empenho pela fidelidade à Aliança como fonte de bênçãos e a infidelidade, de maldições (Dt 29,9-28); o exílio como punição da infidelidade e o retomo como sinal do perdão divino (Dt 30,1-10).

 

Por fim, faz um apelo a uma opção pela fidelidade à Aliança (Dt 30,11-20). Os capítulos 30-34 formam uma espécie de conclusão geral não só do Deuteronômio, mas de todo o Pentateuco. Reúnem elementos de origem e épocas diversas que foram incorpora- dos ao livro do Deuteronômio, na redação final da Tradição Deuteronomista, por volta de 445 a.C. Por essa época o livro foi destacado da sua ligação original com a Obra Deuteronomista, para fazer parte do bloco do Pentateuco.

 

4.2 - Josué: a bênção de Deus é a terra

O tema central do livro de Josué é a terra. Deus prometeu aos antepassados dar uma terra ao povo de Israel. O livro de Josué mostra a realização dessa promessa. Depois do prólogo (cap. 1), o livro compreende três grandes partes: a conquista da terra (caps. 2-12), a distribuição da terra (caps.13-21) e as conclusões (caps. 22-24). O capítulo 22 apresenta a fixação das tribos orientais na Transjordânia e o conflito cultual entre o santuário de Silo e as tribos da Transjordânia, que segundo eles viviam fora da Terra Prometida. O capítulo 23 apresenta o testamento de Josué, sucessor de Moisés, e o 24 a aliança firmada por Josué em Siquém, selando a liga das 12 tribos.

 

E para encorajar e iluminar esse povo a um recomeço, é narrada a primeira conquista da terra por Josué e pelos filhos de Israel (Js 1,6). Como no tempo da saída da casa da escravidão do Egito, hoje Israel deve se preparar para conquistar de novo sua terra. Após anunciar a ressurreição do povo (Ez 37,11), o profeta vai falar da distribuição reconquistada: haverá de novo um povo de Deus na sua terra, unido ao redor do templo do seu Senhor. É essa nova esperança que a releitura da conquista de Canaã por Josué pretende, também, suscitar no coração do povo exilado.

 

Assim, o livro de Josué narra acontecimentos do 13º século a.C, mas sua redação final é do 7º ou 6º século a.C. A conquista da terra é relida num contexto deuteronomista fortemente influenciado pelo sacerdócio (por exemplo, a função de Eleazar e de Finéias vai até ultrapassar, em alguns casos, a função de Josué, como podemos verificar em Josué 14,1-21,1; 22,13.30-34).

 

Nessa conquista é Javé quem lutou em favor dos israelitas (Josué 23,3-10; 24,11-12) e deu como herança a terra prometida aos pais (Josué 23,5-14). A terra, sendo um dom de Deus, tem sua conquista narrada num contexto litúrgico; e é esse aspecto, mais do que o aspecto militar, que deve nortear a leitura desses acontecimentos.

 

Devemos ficar sensíveis a essa dimensão cultual e litúrgica, como na travessia do rio Jordão, a circuncisão e a celebração da primeira Páscoa em Canaã, ou ainda a tomada da cidade de Jericó. A travessia do rio Jordão é uma verdadeira celebração litúrgica: é por meio de uma grande procissão que o povo de Deus vai tomando posse da terra. Como as águas se dividiram para permitir aos escravos hebreus passar a pé enxuto o mar dos Juncos, assim se abrem as águas do rio Jordão, deixando passar o povo guiado por Deus (a arca).

 

A mesma perspectiva litúrgica encontra-se na história da tomada de Jericó. É a primeira cidade-estado que os hebreus encontram: eles estão se defrontando com o símbolo do sistema opressor de Canaã. A narração está aí para significar a substituição de um sistema por outro. Para se tornar uma terra livre, Canaã tem que ser liberta do sistema social de opressão que nela domina através das cidades-estados.

 

É interessante notar como a destruição da cidade vai realizar-se totalmente no sétimo dia de toda uma liturgia processional. Foi também numa grandiosa liturgia, presidida por sua palavra, que Deus criou o universo. Ele criou o homem e a mulher e lhe deu uma terra abençoada por toda espécie de animais e vegetais. De novo Deus cria, e dessa vez cria o seu povo e lhe dá uma terra abençoada, terra onde corre leite e mel. Como outrora, nos primórdios da história do povo, Deus agiu em favor dos sem-terra, assim hoje Ele agirá de novo em favor dos exilados. Israel deve se lembrar que ao tomar posse da terra convém implantar um sistema social diferente; em vista disto toda cidadeestado, símbolo do sistema a ser destruído, deve ser arrasada e sua população exterminada.

 

De fato, na cidade residiam todos aqueles que pelas suas funções davam sustento ao regime dos reis. O livro do Deuteronômio nos esclarece também quanto ao sentido dessa maneira de proceder (Dt 20,17). Havia grande perigo de idolatria. Os cultos cananeus podiam seduzir e contaminar os israelitas recém-chegados. A releitura da conquista da terra por Josué visa dar ânimo aos exilados, esperança no Deus que nunca abandonou o seu povo. Mas essa releitura quer também lembrar, mais uma vez, aos israelitas a radicalidade da aliança: não há acordo possível entre o sistema dos reis de Canaã, sustentado por uma ideologia religiosa de baals e astartes, e o Deus único e verdadeiro, com suas exigências de justiça e fraternidade.

 

Enfim, percebemos que neste livro, mais que no de Josué, o "personagem central" é a Terra prometida. O que era objeto de promessa no Pentateuco, é agora realização. A terra é o lugar da fidelidade de Deus para com seu povo, e do povo para com seu Deus. O livro de Josué afirma, ao mesmo tempo, que a terra é dada e sempre deve ser conquistada. Existe uma tensão permanente entre o presente e o futuro, que é constitutiva do povo de Deus. É essa tensão que os israelitas estão experimentando de novo nesse exílio babilônico.

 

4.3 - Juízes: Deus tem paciência com os erros do povo

O livro de Juízes, em uma primeira introdução (Jz 1,1-2,5), retoma, em síntese, a instalação das tribos em Canaã, com seus fracassos e sucessos, descritos, longamente, no livro de Josué de 1 a 12. A seguir, depois de algumas considerações gerais sobre o sentido religioso do período tribal (Jz 2,63,6), apresenta, em sequência narrativa detalhada, o período de Josué como tempo de fidelidade ao Senhor, e o período dos juízes, como o da infidelidade (Jz 3,7-16,31). O livro termina com duas conclusões (Jz 17-18 e 19-21). A primeira narra a migração da tribo de Dã para o norte e fala de seu santuário. A segunda conclusão fala do crime dos habitantes de Gabaá e da guerra das tribos contra a tribo de Benjamim que se recusava a punir os responsáveis pela morte da concubina de um levita de Efraim.

 

4.4 – 1 e 2 Samuel: os livros do "Nome de Deus"

Esses dois livros constituíam uma só obra na Bíblia hebraica. Foram divididos em duas pelas Bíblia grega, que os chamou de 1 e 2 Reis. Assim, os atuais 1 e 2 Reis passaram a ser chamados 3 e 4 Reis. Essa divisão foi seguida também pelas traduções latinas. Hoje, com a valorização das línguas originais, voltou-se a chamar o livro de Samuel conforme o texto hebraico, conservando, porém, a sua divisão em 1 e 2 Samuel, e o 3 e 4 Reis voltaram a se chamar 1 e 2 Reis. É dessa forma que aparecem nas traduções das Bíblias atuais.

 

Samuel, na língua hebraica, significa "nome de Deus". O livro apresenta uma justificativa popular do nome: Ana deu à luz um filho a quem chamou de Samuel, porque, disse ela, "eu o pedi ao Senhor". O nome de Samuel é aqui associado ao verbo hebraico "pedir" (Sha' al). O livro fala longamente da infância, da vocação e da missão de Samuel (1Sm 1-7). Exerce a missão de juiz em meio às tribos de Israel e faz a transição do sistema de governo tribal para o sistema monárquico, elegendo Saul como primeiro rei de Israel (lSm 8-15).

 

Mesmo enquanto Saul é rei, Samuel o rejeita e unge a Davi como seu sucessor. Davi foi-se projetando como escudeiro do rei, mas se destaca deste, que começa a persegui-lo (1Sm 16-21). Davi já havia conquistado a confiança das tribos do Sul mesmo antes da morte de Saul (1Sm 22,31), e, quando ela ocorre, foi logo acolhido como rei (2Sm 2,4). Sete anos depois, assumiu também o governo das tribos do Norte (2Sm 5-8). A habilidade política de Davi fez com que em seu tempo o reino chegasse a maior expansão. No final da vida teve de enfrentar o problema de sua sucessão ao trono. Muitas intrigas foram provocadas por seus generais e por seus próprios filhos (2Sm 9-20).

 

Com os capítulos 21-24 de 2 Sm, há uma interrupção da grande sequência da história da família de Davi e da sucessão ao trono, que continuará em 1 Reis, nos capítulos 1 e 2.

 

Os capítulos finais de 2 Samuel (21-24) são um apêndice ou acréscimo posterior, apresentado na forma de narrativas paralelas: a fome de três anos (2Sm 21,1-14) e a peste dos três dias (2Sm 24,10-17); duas séries de anedotas heroicas: os quatro gigantes filisteus (2Sm 21,15-22) e os valentes de Davi (2Sm 23,8-39); e duas peças poéticas: o cântico de Davi (2Sm 22) e as últimas palavras de Davi (2Sm 23,1-7).

 

4.5 - Valor do escrito Deuteronomista

A abundância e a variedade de material coletado pelo grupo deuteronomista, por um lado, constitui uma riqueza e, por outro, uma dificuldade. Riqueza pelas tradições diferentes que chegaram até nós. Dificuldade para uma compreensão justa das narrativas no contexto em que elas foram inseridas. A justaposição confirma o trabalho respeitoso e atento da tradição deuteronomista de não o harmonizar, mas de conservá-lo e anexá-lo à obra. A revisão deuteronomista inseriu 1 e 2Samuel nas grandes linhas da história do povo. Ela abrange o período desde a morte de Moisés até o exílio. Poucos retoques foram feitos. O retoque mais importante foi a integração da aliança davídica na aliança mosaica (2Sm 7,1-29), cujas exigências são recordadas ao povo (1Sm 7,3-4; 12,6-11) e aos reis (1Sm 10,25 que evoca Dt 17,18-19).

 

Toma-se difícil determinar o valor histórico dos dois livros de Samuel, pois não existem escritos extrabíblicos que possam servir de confronto. Um estudo atento dos próprios textos pode nos oferecer a compreensão de seus objetivos e a sua relação com a história. As narrativas sobre a arca, por exemplo, sob o ponto de vista religioso, revelam que nem sempre o povo era fiel a Deus. As narrativas envolvendo o profetismo nascente e os profetas Natã, Gad e Samuel procuram apontar para o sentido divino de sua missão e de sua autoridade diante do poder político. Mesmo assim, o rei está no centro dessas narrativas.

 

O profeta Isaías por sua vez, anima o povo com o seu livro da Consolação (Is 40-55) e o profeta Ezequiel vê o povo como ossos ressequidos, mas que poderão voltar à vida (Ez 37).

 

Quando os teólogos viram o exílio, lembraram que a causa de tudo isto foi a idolatria. Os desmandos dos reis. Para isto, queriam acabar com o modelo monárquico e queriam o modelo profético. A idolatria era a porta de entrada de todo o mal que Israel estava sofrendo e colocaram na boca de Moisés a preocupação de acabar com a idolatria. Sem dúvida, está sempre foi uma das preocupações de Moisés.

 

Essa preocupação está no livro do Deuteronômio e se apresenta como se fossem três grandes discursos de Moisés ao seu povo. O primeiro discurso está em Dt 1,1-4,43. O segundo discurso em Dt 4,44-28,68 e o terceiro discurso de Moisés está em Dt 28,69-33,29. Nestes discursos de Moisés, entre as muitas preocupações, está a advertência contra a idolatria.

 

Assim sendo, em Dt 5,6-21 ele reproduz o Decálogo que já se encontra em Ex 20,2-11. Em Dt 6,4ss está a grave preocupação de mostrar que Javé é o único Deus. Em Dt 12 começa o Código deuteronômico com a preocupação de apagar todos os vestígios de lugares idolátricos (Dt 12,2ss). O sacrifício não poderá ser feito em qualquer lugar (Dt 12,13ss). O povo não pode seguir os deuses dos povos cananeus (Dt 12,29ss). Os profetas dos falsos deuses devem ser mortos (Dt 13,2-6). Até mesmo os familiares idólatras devem ser exterminados (Dt 13,7ss). Os idólatras devem ser apedrejados (Dt 17,2ss).

 

Além desta séria preocupação com a idolatria, o livro do Deuteronômio também se preocupa com a figura do rei (Dt 17,14ss) e com a figura do profeta (Dt 18,15ss). O rei sofre sérias limitações. Não deve viver no luxo, na devassidão e no adultério e para a comunidade funcionar bem, Deus suscitará um profeta como Moisés. Este substituirá o rei.

 

Acima dizíamos que o Deuteronômio se formou com a segunda Lei, no reino do Norte, onde a idolatria era forte. O livro veio para o sul e agora foi desenvolvido nos tempos do Exílio. Logo, os três discursos de Moisés não são a gravação de suas palavras, mas antes, são a leitura da Lei de Moisés que os teólogos fizeram em momentos de desastre ocasionado pela idolatria. Quando os teólogos viram o exílio, lembraram que a causa de tudo isto foi a idolatria. Os desmandos dos reis. Para isto, queriam acabar com o modelo monárquico e queriam o modelo profético. A idolatria era a porta de entrada de todo o mal que Israel estava sofrendo. A partir dos tempos do exílio, os teólogos olhavam para trás e reliam a história. Colocavam na boca de Moisés a preocupação de acabar com a idolatria. Sem dúvida, está sempre foi uma das preocupações de Moisés. Para tanto, chegam a pedir a morte aos infratores, o que é comum naqueles tempos, mas absolutamente não é assumido por Jesus no Novo Testamento.

 

Portanto ao ler Deuteronômio, mais do que ler palavras de Moisés, estamos lendo princípios de Moisés reinterpretados por teólogos em tempos bem posteriores quando a teologia de Moisés estava sendo esquecida. Não podemos pensar em três discursos de Moisés, pois isto seria de todo impossível. Eles são longos e sem o auxílio de um gravador não se poderia escrever palavra por palavra daquilo que Moisés disse. Mas uma coisa é certa: com Moisés se iniciou uma aliança com Javé, e o Deuteronômio dá seguimento a esta aliança.

 

O livro do Deuteronômio marcou profundamente a teologia que sobre ele se formaram seis livros que hoje estão na Bíblia. São eles: Josué, Juízes, 1 e 2Samuel e 1 e 2 Reis. Estes livros se inspiram na teologia do Deuteronômio, isto é, na luta contra a idolatria (Dt 17,1ss) e na visão crítica diante da monarquia (Dt 17,14ss) a partir dos profetas (Dt 18,15ss). Esta coleção de livros recebe o nome de Obra Historiográfica Deuteronomista (OHD).

 

As ideias fortes da OHD são a visão negativa da Monarquia, a visão negativa da Idolatria e a visão positiva da Profecia. Vejamos mais de perto cada uma dessas visões.

 

4.5.1 - Visão negativa da Monarquia

Em Dt 17,14ss se põe freios às ambições desmedidas dos reis. Esta teologia encontra eco em Jz 9, onde se relata a tentativa de instauração de uma monarquia por parte de Abimelec. Este, para implantar a monarquia, apela para a violência e para o assassinato. Em Jz 9,7-15 se narra a lenda das árvores que querem um rei. Nenhuma árvore útil, a figueira, a videira e a oliveira aceitaram ser rei. Somente o espinheiro aceitou tal ofício. Ou seja, rei é algo que só serve para espinhar. Ainda se pode destacar o texto de 1Sm 8,10-20. Lá se mostra que o rei vai extorquir o povo, vai levar os filhos para o serviço real, as melhores terras, os melhores pomares, os melhores animais e ainda vai cobrar o dízimo sobre o pouco que o povo produzir. O povo vira escravo.

 

4.5.2 - Visão negativa da idolatria.

Em Dt 17,1ss se apela à destruição da idolatria. Estes versículos encontram em 1Rs 11,1-8. O rei Salomão teve setecentas esposas e trezentas concubinas. Elas desviaram o coração do rei e ele construiu altares para os deuses de suas esposas. Por meio dos múltiplos casamentos do rei a idolatria entrou em Israel. Além deste texto, há muitos outros textos que mostram a idolatria promovida pelos reis de Israel e de Judá. Lendo os dois livros de Reis, a grande maioria dos reis é apresentada de forma negativa. Quase sempre se diz na descrição inicial de cada rei: “fez o que Javé reprova” (1Rs 14,22; 1Rs15,3; 1Rs 15,26; 1Rs 15,34, etc). Poucos são os reis descritos nos dois livros dos Reis que não levem esta descrição negativa. Isto mostra que, junto com a monarquia vinha a idolatria. Ou seja, os reis promoviam a idolatria.

 

4.5.3 A profecia:

Em Dt 18,15ss se aponta, como saída, para a figura do profeta. Nos livros de 2Sm e 1-2Rs aparece muitas vezes a figura do profeta como contraponto do rei. Lembremos aqui o texto de 2Sm 11,2ss. O rei Davi se apoderou de uma mulher casada (Betsabéia) e mandou matar seu marido (Urias). Ninguém podia enfrentar o rei, pois este tinha poder. Surge, então, afigura do profeta Natan (2Sm 12,1ss). Ele, qual destemido herói, através de uma pequena lenda, atira toda a maldade do rei no seu rosto. O mesmo se pode ver em 1Rs 21,1ss. O poderoso rei Acab e sua mulher Jezabel mandaram matar um agricultor chamado Nabot para se apoderar de sua vinha. Novamente o rei se vê soberano, sem limites. Surge, no entanto, a figura do profeta Elias que faz presságios trágicos para o rei.

 

Assim, na leitura dos seis livros da OHD (Js, Jz, 1-2sm e 1-2Rs) encontram-se, em grandes linhas, reflexos do livro do Deuteronômio, pois na realidade, estes livros são a releitura que os teólogos inspirados neste livro fazem, da história. A OHD, mais do que relato de história, é a teologia deuteronomista da história.

 

Nos livros da OHD encontramos uma teologia que desmascara a monarquia, a idolatria e apela ao modelo profético. Mais do que ver a história aprendemos que o abandono do Deus verdadeiro traz graves consequências para a vida do povo.

 

4. 6 – 1 e 2Reis: um olhar iluminado sobre a história

Já vimos que os dois primeiros capítulos (1Rs 1-2) são continuação de 2Sm 20. Falam da sucessão ao trono de Davi. O período de abrangência dos dois livros vai da sucessão de Salomão ao trono de Davi até a destruição de Jerusalém e o início do exílio babilônico em 587 a.C. Apresenta, portanto, três grandes períodos: a) a história de Salomão e a divisão do reino em dois: Israel e Judá (1Rs 1-13), pois os compiladores de cronologias - na época dos escritos bíblicos - fizeram uma sincronia entre os reis do reino do Norte e do reino do Sul; b) as narrativas sobre os dois reinos continuam em paralelo até o final do reino do Norte em 724, com a sua queda (1Rs 14-2Rs 17); c) depois, a narrativa prossegue falando só sobre o reino do Sul, até sua queda em 587 a.C. (2Rs 18-25).

 

A Tradição Deuteronomista condena todos os reis do Norte pela adesão ao culto de Baal, vindo de Tiro (1Rs 16,31-32). O Sul também é acusado de ter participado do culto das alturas ou ao menos de tê-la tolerado (2Rs 8,18.27; 16,2-4) e de ter introduzido divindades estrangeiras (2Rs 21). Apenas dois reis, Ezequias e Josias, são considerados fiéis como foi Davi (2Rs 18,3; 22,2), por causa das reformas religiosas que ambos empreenderam. Essa avaliação corresponde à doutrina do livro do Deuteronômio que defende um só Deus e rejeita toda a idolatria; defende um só Templo e exige a rejeição de todos os outros santuários, até mesmo os de Dã e Betel (Dt 12-13).

 

4.7. Releituras do Pentateuco entre os deportados

Você ainda deve ter lembrança de que já falamos da leitura de antigas tradições a respeito das origens de Israel feita em diferentes momentos e lugares da história.

 

Na época de Salomão no final do Reino Unido, houve uma intensa atividade literária nesse sentido. No Reino do Norte, o mesmo processo de reinterpretação e atualização ocorreu. Na época do rei Josias, os deuteronomista de Judá revisaram toda a história de Israel desde as origens até o rei Josias (OHD). E neste volume, você já estudou a respeito de uma nova edição da OHD e da profecia durante o exílio. Viu também releitura do Êxodo feita pelo movimento profético de Isaías para revizrar a esperança dos cativos.

 

Esse processo de releituras foi permanente em Israel. Cada momento histórico tinha os seus problemas, as suas perguntas. As reelaborações tinham a intenção de jogar luzes sobre os novos contextos.

 

4.8 - Jeremias: escritor por vontade de Deus

O profeta foi testemunha ocular de toda a tragédia a ação, em 586: presenciou o cerco a Jerusalém, viu o Templo e os palácios serem incendiados, viu a deportação do povo para a Babilônia. Foi nesse contexto que ele passa a ser o porta-voz das esperanças do povo que permaneceu na terra, sem rei nem templo. Sua missão foi fundamental no processo educativo do povo. Ao mesmo tempo em que profere julgamentos e condenações contra o povo, também ajudou a despertar no povo a consciência do compromisso da aliança com Deus.

 

Durante o cerco dos babilônios (587 a.C) a Jerusalém chegou a ser preso e lançado numa cisterna para morrer. Para sua sorte, foi salvo por um amigo etíope (Jr 38). Foi crítico severo das várias instituições existentes em sua época: Templo, Sacerdócio, Rei e até profetas. Após a destruição de Jerusalém, Jeremias ganha permissão para ficar no país e viver junto do governador da Judéia, Godolias e promove uma ampla reforma agrária entre os que ficaram.

 

Jeremias propõe um novo modelo de relações com Deus, mediado pelo anúncio da Nova Aliança (Jr 31,31-34). Era uma visão renovada por compromissos que exigiam uma religião pessoal, interiorizada pela força da Lei no coração. Com os olhos de hoje, a missão de Jeremias pode ser considerada como um fracasso, mas sua figura jamais deixou de ter influências profundas na fé daqueles que buscavam um novo sentido para a vida. Pode-se dizer que esse profeta representa uma forma de "pai" para o judaísmo pós-exílico, amparado pelo ideal da "Nova Aliança" e centrado na religião da Lei no coração. A fé cristã também não deixou passar em branco o 'sentido profundo dessa mensagem: “Jesus como a Nova Aliança”.

 

4.9 - Abdias: O amor apaixonado por Sião

O livro do profeta Abdias é o menor livro do Primeiro Testamento. Contém apenas 21 versículos, os quais expressam toda a amargura do povo judaíta contra os edomitas que invadiram Judá depois da desgraça do exílio, agravando ainda mais a situação de sofrimento (vv. 1-15). Edom, segundo a Bíblia, é habitada pelos descendentes de Esaú, portanto, parentes dos judaítas. Abdias insiste na restauração da realeza universal do Senhor, na justiça de Deus, no amor apaixonado por Sião e na restauração do Reino de Deus no dia do Senhor. O livro, embora pequeno, traz os temas clássicos do profetismo de Israel (vv.16-21).

 

4.10 - Lamentações: a dor do abandono e da destruição

O livro das Lamentações consiste basicamente em cinco cânticos que lamentam a queda da Cidade Santa, Jerusalém, em 587 a.C. Os quatro primeiros apresentam em sua estrutura, no início de cada parágrafo, as 22 letras hebraicas (estilo acróstico). O quinto cântico não é acróstico, mas tem tantos versículos (22) quantas são as letras do alfabeto hebraico.

 

No primeiro cântico, lamenta-se a destruição de Jerusalém, apontada como resultado da culpa e dos pecados do povo. No segundo cântico, chora-se a punição que Jerusalém recebeu e se exorta a cidade à penitência (2,1-19); em 2,20-22, Jerusalém pede misericórdia. No terceiro cântico, o autor apresenta a dor e a desgraça que se abateram sobre Jerusalém, e a espera da misericórdia divina. No quarto cântico, chora-se novamente a ruína de Jerusalém, castigada segundo a justiça divina por causa dos pecados de seu povo. O quinto cântico tem a forma de oração que implora a ajuda de Deus para as vítimas da catástrofe de Jerusalém.

 

Segundo longa tradição, o autor do livro das Lamentações seria o profeta Jeremias, apoiando-se em 2Cr 35,25. Por isso, em algumas Bíblias, Lamentações vem logo após o livro de Jeremias; em alguns casos, está na parte final e quase que fazendo parte do livro de Jeremias.

 

Hoje em dia essa tese não é aceita por todos. Dificilmente Jeremias teria afirmado o fim da inspiração profética (cf. Jr 42,7-22 e Lm 2,9), nem teria esperado auxílio do Egito (cf. Jr 37,7s e Lm 4,17), tampouco teria elogiado o rei Sedecias (cf. Jr 22,13-28; 37,17s e Lm 4,20), nem teria apelado para a culpa dos pais (cf. Jr 31,29 e Lm 5,7). É bastante provável que Lamentações seja de um discípulo de Jeremias.

 

4.11 - Releitura dos profetas: uma lanterna nas mãos dos exilados

No exílio, os livros dos profetas começaram a ser lidos e interpretados, e passaram por atualizações e releituras. Já vimos o do profeta Jeremias, que passou por revisões do grupo deuteronomista, de tal forma que em alguns textos é difícil saber, com certeza, o que é de Jeremias e o que foi acrescentado por outras mãos. Outros livros proféticos também sofreram releituras, acréscimos e alterações na sua disposição interna.

 

Certamente isso aconteceu quando os livros proféticos passaram de um uso restrito, o círculo profético, para o uso da comunidade. Eram lidos em comunidade, nas celebrações e nas reuniões, sendo assumidos por todo o Israel. Daí os acréscimos, como, por exemplo, o Salmo de Isaías (Is 12); a mudança de visão sobre as nações estrangeiras, antes corno "instrumentos do juízo de Deus" em relação ao povo de Israel, e agora são rechaçadas pelos oráculos proféticos (Jr 50-51).

 

Antes do exílio, a palavra profética era carregada de ameaças e advertências (Jr 8,4-17; Os 5,86,6). No exílio e depois dele, a situação havia mudado e fazia-se necessária uma palavra de ânimo e esperança, de estímulo e encorajamento como a de Isaías 40,1-31. Antes a palavra profética dirigia-se especificamente a Israel e a Judá no exílio, mas no pós-exílio tomou dimensões que ultrapassaram as fronteiras nacionalistas, como o indicou a releitura de alguns profetas (Am 1-2; Is 24-27).

 

A releitura dos textos proféticos parece não ter sido feita antes do exílio, pois se acredita que eles ainda não estavam em circulação. Nem mesmo foram relidos no âmbito do Templo e da corte, como aparece bem em Jeremias, capítulo 36, quando o rei de Judá reage com violência queimando o rolo que continha as palavras do profeta. Mas elas foram lidas, conservadas e protegidas nos círculos proféticos e em meio ao povo do campo, corno aparece em Miquéias de Morast (Jr 26,17-19), na região de Judá.

 

5 - Literatura Bíblica na Babilônia

Durante o exílio na Babilônia surgiram importantes escritos como o de Ezequiel, o Segundo Isaías, partes do Levítico e Salmos. Eles infundiram nos exilados a esperança do retomo, de um novo êxodo em que Deus mesmo vai reunir o seu povo como o pastor reúne o seu rebanho: "Eis aqui o Senhor Deus: ele vem com poder, o seu braço lhe assegura o domínio... Como um pastor apascenta o seu rebanho" (Is 40,10-11).

 

5.1 - Tradição Sacerdotal:

Quem trabalhou nessa tradição foi um grupo de sacerdotes e teólogos, formados em Jerusalém cuja preocupação era como infundir fé conservar a identidade do povo submerso pela apatia e pela dispersão. Sabemos que, quando uma nação vencia os vencidos eram levados para o exílio e espalhados por todo o império para colonizar novas áreas. Com isso os contatos se tomavam muito difíceis. Daí a preocupação dos sacerdotes de como salvar a identidade do povo hebreu. Por isso surgiram as genealogias que aparecem principalmente em Gn 1-11 e pelos textos narrativos[8] espalhados nos livros de Gênesis, Êxodo, Números e em alguns versículos do Deuteronômio e Josué para não perderem a memória do seu próprio povo. Era uma espécie de carteira de identidade.

 

Um dos textos mais conhecidos no exílio da Babilônia é o poema litúrgico de Gênesis 1,1–2,4ª. Os sacerdotes exilados estruturaram o poema da criação com o refrão: "E Deus viu que era bom" (Gn 1,4.10.12.18.20.24;1,31). Numa realidade confusa e devastada pela violência, os autores recordam que o mundo criado por Deus é belo, ordenado, perfeito e bom e que a condição do ser humano não é ser escravo, mas pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus. Também os textos do Dilúvio (Gn 6,5-9,17) e da torre de Babel (Gn 11,1-9) foram redigidos dentro dessa óptica.

 

Narrando as origens da criação, o povo de Israel exilado é reportado a um passado comum, fazendo-o criar uma identidade também comum e, por sua vez, mobilizando a todos na construção de um futuro promissor. A narração de um passado distante e harmonioso cria uma espécie de coesão social no presente, superando possíveis tensões e conflitos, e unifica a ação em vista de um novo horizonte.

 

Diante da catástrofe do exílio, ao ouvir o poema da criação, pouco a pouco, Israel começa a juntar os retalhos de sua história e a recompor sua identidade. Ele se vê novamente como povo cujo Deus é o único e verdadeiro criador. O seu poder é capaz, portanto, de perdoar os erros que levaram ao exílio e recomeçar tudo de novo.

 

A palavra de Elohim na criação é uma palavra abrangente de vida, e o mundo foi criado para ser a casa de vida para todos. Neste sentido, fora da criação não existe salvação, pois destruir a vida na terra, qualquer uma de suas criaturas – as águas, as matas, o sol, a lua, as estrelas, os animais ou os seres humanos - é afastar-se do projeto do Deus criador. E o povo de Israel na Babilônia compreende que o projeto da criação se concretiza na história: Deus vai libertá-lo do sofrimento que eles vivem no exílio. O povo ganha alento e reconstrói a esperança de um novo êxodo.

 

A Tradição Sacerdotal tem algumas características que a distinguem das demais. O estilo é seco, o vocabulário é técnico, prima pelas cronologias, cifras, elencos, listas e genealogias não só do gênero humano,[9] mas também do céu e da terra (Gn 2,4). A obra tem sua origem no exílio da Babilônia, quando já não existiam as instituições que até então eram centrais, como o Templo, o sacerdócio, o culto, a terra, o rei. Não existia mais nada disso. Eles mesmos estavam fora da sua terra e buscavam, no passado, referenciais para alimentar a própria fé. Os sacerdotes aparecem como animadores da comunidade e incentivavam algumas práticas como a circuncisão e o sábado, para indicarem a pertença ao povo de Israel, o povo escolhido por Deus.

 

A reflexão do grupo sacerdotal queria ajudar a comunidade desanimada e infeliz a entender os desígnios de Deus. E procurou mostrar que a situação na qual grande parte do povo se encontrava não contradizia as promessas divinas. Também os patriarcas haviam experimentado a migração (Gn 23; 33,18-20) e, no entanto, a terra havia sido doada aos seus descendentes. Eles tinham a preocupação de mostrar que Deus foi fiel às alianças que fez com seu povo no passado, desde Noé, Abraão, Moisés e continuará a ser fiel (Ex 19,3-8).

 

5.2 - Levítico (8-10; 17-26): o convite à santidade

O livro do Levítico em grande parte foi escrito no período do exílio, na Babilônia. Os capítulos que foram redigidos nesse período compreendem a parte que corresponde à investidura dos sacerdotes (Lv 8-10). Descrevem nos seus pormenores as cerimônias que aconteceram na investi dura sacerdotal de Aarão e de seus filhos. Esses três capítulos, na sua origem, talvez tivessem sido a continuação do capítulo 29 do Êxodo, pois detalham as referências sobre as prescrições da purificação, da investidura e da unção dos sacerdotes. Eles aparecem como mediadores entre Deus e o povo, daí a exigência de santidade, porque Deus é santo.

 

A função de intermediário entre Deus e o povo deveria ser exercida na santidade de vida. Por isso, o grupo sacerdotal que exercia essa função estabeleceu as suas leis de santidade (Lv 17- 26). Tudo indica que as leis eram inspiradas na experiência sacerdotal do Templo de Jerusalém, já no final do período da monarquia. Há muitas semelhanças com alguns textos de Ezequiel, sacerdote, que apresenta a santidade como atributo essencial do Deus de Israel. A ideia primeira é a da separação, de inacessibilidade, de uma transcendência que inspira temor religioso (Ex 33,20).

 

O grupo sacerdotal tinha consciência da enorme distância que há entre a santidade de Deus e a indignidade humana. Acreditava que o ser humano não poderia ver Deus e continuar vivo (Ex 19,21), nem mesmo apenas ouvi-lo (Ex 20,19). Como exemplo temos Elias (1Rs 19,13) e Moisés (Ex 3,6), que cobrem o rosto diante da revelação do Senhor. Em outros textos, o fato de ter visto Deus e não ter morrido levou as pessoas que passaram por essa experiência a uma profunda gratidão (Dt 5,24-27) pela graça recebida (Ex 24,9-11), em particular Moisés, que falava com ele face a face, como se o fizesse com outro homem (Ex 33,11).

 

A santidade comunica-se com aquele que se aproxima de Deus ou lhe é consagrado, como os lugares (Ex 19,12), os tempos (Ex 16,23; Lv 23,4), a arca (2Sm 6,7) os objetos (Ex 30,29; Nm 18,9), particularmente as pessoas (Ex 19,6) e, especialmente, os sacerdotes (Lv 21,6). Estes se relacionavam com Deus por meio do culto, por isso, observavam as leis de santidade que, por sua vez, tinham ligação com as leis de pureza ritual. Os sacerdotes deviam buscar tudo o que facilitasse a comunhão com Deus e evitar tudo o que, física ou moralmente, colocasse obstáculos a essa comunhão vital. Por isso, não podiam consumir sangue, por- que ele é considerado a sede da vida, dada por Deus. Deviam recusar quaisquer relações sexuais anormais, aceitar a Deus como ÚNICO, respeitar o ser humano como criatura de Deus, garantir a dignidade do sacerdócio e dos sacrifícios, celebrar fiel- mente as festas, os anos santos e outras leis menores.

 

5.3 - Ezequiel: O vigia do povo de coração renovado

Ezequiel era sacerdote, e foi exilado na Babilônia juntamente com os seus compatriotas judeus. Diante dos acontecimentos do ano 586 a.C., fez a experiência da dureza do que é ser escravo, do que é cativeiro. Sentiu também as dores dos cativos e assumiu as suas dores e suas lutas promovendo um árduo trabalho de conscientização da comunidade de Judá e da Babilônia. Pede ao povo para ver com realismo a situação. De um lado, Jerusalém estava de fato destruída. Não se podia criar a ilusão de que de uma hora para outra tudo mudaria. Por outro lado, era preciso controlar o desespero e não entrar em pânico. Misturando sentimento de perda, desânimo, desespero, mas também de esperanças, o profeta propõe um futuro radical: é preciso "renascer" das cinzas (Ez 37). Sua mensagem é dirigida através de visões carregadas de simbolismo vivo (Jr 1-3; 8-11; 40-48); valoriza a dramatização da mensagem através de ações simbólicas: assédio, fome, morte e deportação (Jr 4-5); usa alegorias (Jr 16).

 

Como toda mensagem profética, a de Ezequiel atinge certo grau de polêmico quando diz que o próprio Deus havia abandonado o Templo (Ez 11,22-24). Sua vocação está narrada nos capítulos 1-3. Sua mensagem, por ser dura e direta, se volta para o povo rebelde.

 

Ezequiel descreveu o exílio da Babilônia dando um enfoque profundamente profético. O exílio, nesse sentido, foi um meio necessário para fazer com que um povo rebelde retornasse a Deus. Via no exílio um estímulo pedagógico capaz de provocar no povo o desejo pela busca do "novo coração" (Ez 36,26).

 

Através de símbolos fortes[10], Ezequiel quer indicar os novos caminhos para a reconstrução da nação. Em primeiro lugar, o sistema antigo como não respondia mais às exigências dos novos tempos. Era preciso assumir esse fracasso; em segundo lugar, não bastava reformar um sistema corrupto, pois ele já estava contaminado pelos males que levaram o povo à destruição; Finalmente, pede-se a conversão incondicional a Deus, assumindo um projeto concreto de sociedade e comunidade.

 

Assim como Deus abandonou o Templo (11,22-2), Deus voltará a habitar no meio do povo (43,1-7). A condição exigida será a volta do povo a Deus enquanto mediado por um modelo novo de sociedade onde vigora a justiça, a fraternidade e a vida.

 

5.4 - Segundo Isaias – O Consolador

Entre as lições que o Exílio da Babilônia ensinou encontramos a mensagem do "Segundo Isaias" (Cap. 40-55).

Os capítulos 40 a 55 foram atribuídos a um autor desconhecido que representava um grupo de judeus exilados. Por isso, esse grupo, conhecido por "Segundo Isaias" nos apresenta um projeto de restauração para o povo Israel que se encontrava exilado na Babilônia. O profeta aponta aqui para um tempo de esperanças: todos deverão ter a terra para nela trabalhar; a nova ordem implantada será baseada na justiça e fim da opressão estrangeira; a reconstrução do templo será o sinal visível do retorno dos exilados; Israel é o "servo sofredor" do Senhor, e será guiado pelo próprio Deus da aliança; a restauração da comunidade não depende mais dos reis. Agora é o povo que passa a ser o legítimo herdeiro das promessas feitas a Davi, de cuja linhagem irá surgir o "ungido" (Messias).

 

Para a confusão de muitos leitores, em determinado momento, até o imperador Ciro é interpretado como instrumento desse projeto divino. Ele é considerado pelo profeta como Messias, o "ungido de Javé" (Is 41; 44,24; 45). Ciro foi quem publicou o decreto que permitiu aos judeus o retorno a Israel para reconstruir o templo e a nação. Por isso, o profeta viu em Ciro o cumprimento de planos divinos.

 

Uma das maiores descobertas feitas pelos profetas nessa época foi que a libertação de Deus não se faria mais pela intervenção militar de reis poderosos. É o povo humilde, pobre e sofredor que passa a ser o próprio agente da redenção, tendo Deus por guia. Os textos de Isaías 52,13 e 53,4 deixam à nossa imaginação traçar a identidade do "servo sofredor". O profeta quer nos dar pista para refletir e amadurecer o ideal de salvação que se aproxima. Para o profeta, o salvador pode ser qualquer um, nascido do povo de Israel, chamado de "servo sofredor". Não é preciso mais esperar por um rei grande, forte e poderoso. Ele deve ser humilde. Seu reino será construído na paz e seu poder não mais dependerá, como antes, da força militar de exércitos poderosos. Com o retorno dos exilados, o profeta vê brotar a esperança de um Novo Êxodo, fim da escravidão e começo da libertação (Is 40,11).

 

Somos surpreendidos por essa alteração intencional do profeta, algo talvez impensável antes do Exílio. Agora Israel não precisa mais esperar um rei glorioso e cheio de pompa. É do povo eleito, pobre, sofrido e castigado no exílio de onde deverá surgir o verdadeiro "ungido" (=Messias) de Deus. A mensagem profética do Novo Testamento faz paralelos muito semelhantes, ao interpretar o servo sofredor na morte redentora de Jesus (Mt 8,17). Para os profetas do Exílio a linha que separa redenção e martírio é quase inexistente. A salvação deve passar pela realidade das contradições históricas humanas, das quais o sofrimento é uma delas.

 

5.5 – Salmos

Os salmos eram a oração do povo, tanto dos que ficaram na terra de Judá como daqueles que foram deportados. Esses salmos parecem retratar a experiência do povo que foi para o exílio. Os salmos 42 e 43 mostram a saudade do fiel "que vive exilado longe do Senhor", longe do santuário onde Deus mora e longe das festas que reúnem seu povo. Os salmos 42-43 e o 69-70 são de oração individual. O fiel invoca o nome do Senhor, expõe sua situação, suplica e espera, confiante de ser atendido. O salmo 69 reúne duas lamentações, cada uma formada por uma queixa e uma prece. A primeira (vv. 2-7 e 14-16) fala do tema da água infernal e dos inimigos. A segunda (vv. 8-13 e 17-30) fala do grito de angústia do fiel vítima do próprio zelo. O salmo termina com um hino de caráter nacionalista (vv. 31-37). O salmo 70 igualmente lança um grito de angústia porque o fiel sente-se "pobre e indigente": "ó Deus, vem depressa! Tu és meu auxílio e minha salvação: Senhor, não demores!".

 

O salmo 137 evoca a queda de Jerusalém em 587 a.C. e o exílio na Babilônia. Recorda na dor os fatos vividos quando os caldeus abriram a brecha nos muros de Jerusalém, a invasão dos edomitas e a ação arrasadora da Babilônia. Enquanto se lembra ao mesmo tempo com saudades de Sião, e deseja vingança dos inimigos.

 

Conclusão

O exílio marcou profundamente o povo de Israel, embora sua duração fosse relativamente pequena. De 587 a 538 a.C., Israel não conhecerá mais a independência. O reino do Norte já havia desaparecido em 722 a.C. com a destruição da capital, Samaria. E a maior parte da população dispersou-se entre outros povos dominados pela Assíria. O reino do Sul também terminará tragicamente em 587 a.C. com a destruição da capital Jerusalém, e parte da população será deportada para a Babilônia.

 

Tanto os que permaneceram em Judá como os que partiram para o exílio carregaram a imagem de uma cidade destruída e das instituições desfeitas: o Templo, o culto, a monarquia, a classe sacerdotal. Uns e outros, de forma diversa, viveram a experiência da dor, da saudade, da indignação, e a consciência de culpa pela catástrofe que se abateu sobre o reino de Judá.

 

Os escritos que surgiram em Judá no período do exílio revelam a intensidade do sofrimento e da desolação que o povo viveu. São os livros de: Lamentações, Jeremias e Abdias. Os exilados na Babilônia igualmente recordaram na dor o que viveram: "À beira dos canais de Babilônia nos sentamos, e choramos com saudades de Sião; nos salgueiros que ali estavam penduramos nossas harpas. Lá, os que nos exilaram pediam canções, nossos raptores queriam alegria: 'Cantai-nos um canto de Sião!' Como poderíamos cantar um canto do Senhor numa terra estrangeira?" (Sl 137).

 

A experiência foi vivida pelos que ficaram e pelos que saíram, como provação, castigo e reconhecimento da própria infidelidade à aliança com Deus. Pouco a pouco foram retomando a confiança em Deus que pode salvar o seu povo e os conduzirá nesse Novo Êxodo de volta a Sião, conforme afirma o Segundo Isaías. Deus novamente devolverá a terra ao povo como a deu no passado (Ez 48). De fato, no Segundo Isaías já se entrevê a libertação do povo que virá por meio de Ciro, rei da Pérsia. Ele será o novo dominador não só de Judá e Israel, mas de todo o Oriente. Ciro será, de fato, o "ungido", o salvador do povo de Judá e dos exilados? É o que veremos na próxima lição.

 

Perguntas:

  • Na sua opinião qual foi a causa do Exílio?
  • Longe da terra, os exilados, buscaram solidificar sua identidade por meio de algumas práticas que já existiam entre eles antes do exílio e que perduram até hoje. Quais são essas práticas?
  • Qual foi a forma criativa encontrada para manter a fé e a identidade judaica no exílio?
  • O Exílio da Babilônia dividiu a população de Judá em dois contextos geográficos distintos: Judá e a Babilônia. Nos dois contextos floresceu a literatura bíblica. Quais livros foram esses?

 

[1]Cf. 2Rs 25,1-8; Jr 52,1.29; 2Cr 36,14-21; Jr 39,1-14.

[2] Cf. Jr 37,5.11; Ez 24,1-2; Lm 4,17.

[3] Cf. SCBWANTES, M. Sofrimento e esperança no exílio. São Paulo, Paulus, 1987. p. 29. Em 598/7 teriam sido deportados um total de 10 mil pessoas entre militares e funcionários do Estado. Em 587, o total de deportados não teria chegado a mil pessoas. A deportação de 582, da qual nos informa apenas Jeremias (52,30), embora discutida, também não chegaria mil pessoas.

[4]Documentos das cronistas assírios revelam a prática de torturas como: esfolamento em vida, empalação, amputação das orelhas, do nariz, dos órgãos genitais e aprisionamento das vítimas mutiladas em gaiolas para servirem de exemplo às cidades que ainda não tinham se rendido. A Bíblia não faz referência a essas torturas porque os exilados do reino de Israel não conservaram por escrito a memória da experiência do seu exílio. Ou talvez não tenham chegado até nós.

[5] Cf. 2Rs 24,13-17;25,8-12

[6] Cf. Jr 47 (filisteus); Jr 48 (moabitas); Jr 49 (amonitas, edomitas e arabes)

[7] Cf. Jr 39,10;52,16; 2Rs 25,12; Ez 33,24

[8]Gn 1,1-2.4a; 17,1-27; 23,1-20; Ex 1,1-5: 28,1-41; Nm 9,1-14; Dt 34,7-9.

[9]Adão (Gn 5,1); Noé (Gn 6,10; 10,1); Sem (Gn 11,10-24); Taré (Gn 11,27). Abraão gerou: Ismael (Gn 25,12), Isaac (Gn 25,19) e mais seis filhos com Cetura (Gn 25,1-4). Isaac gerou: Esaú e Jacó (Gn 25, 25-26) Jacó gerou 12 filhos entre eles Levi (Ex 29,34), do qual nasceu Moisés (Ex 2,1).

[10] Visão dos ossos secos começou a reanimar a esperança do povo. O profeta Ezequiel diz que o Senhor lhe fez ver um montão de ossos secos, espalhados por uma imensa planície. E mandou profetizar sobre estes ossos secos e eles se reanimaram e voltaram à vida (Ez 37).