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25 - ATOS DOS APOSTOLOS
25 - ATOS DOS APOSTOLOS

CENTRO BIBLICO VERBO

NO CAMINHO DAS COMUNIDADES...

Atos dos Apóstolos: Roteiros e subsídios para Encontros

PRIMEIRO VOLUME

 

O livro dos Atos é a continuação do Evangelho de Lucas (compare Lucas 1,1-4 com Atos 1, 1-8). O Evangelho apresenta o caminho de Jesus, Atos apresenta o caminho da Igreja e juntos, formam o caminho da salvação. O que os une é a Ressurreição de Jesus.  No centro de tudo temos a cidade de Jerusalém, ponto de chegada do caminho de Jesus e ponto de partidas do caminho da Igreja, que continua o testemunho de Jesus em todos os tempos e lugares.

 

O mar é o mesmo, mas pode ser visto sob diversos pontos de vista. As pessoas têm diferentes formas de compreender a realidade; depende de sua cultura, de sua história, de suas experiências, de seus costumes, de suas necessidades e valores. Por exemplo: no ano passado (2016) assistimos manifestações, pró e contra o impeachment de Dilma Rousseff.  Para alguns grupos há crime de responsabilidade.  Para outros grupos, não há crime de responsabilidade por parte da presidenta. Sem crime, é um procedimento ilegal e ilegítimo. Se fosse legal, não haveria tantos juristas, intelectuais, acadêmicos e gente de muitos outros setores e lugares que se colocaram contra. O fato é o mesmo, mas os "olhares” são diferentes. A nossa visão de “mundo" depende do lugar em que vivemos. Cada pessoa e cada comunidade têm uma palavra diferente para descrever a realidade.

 

O mesmo se pode observar nas primeiras comunidades cristãs. Eram muitas comunidades! Algumas nos deixaram seu evangelho como herança. Cada evangelho, assim como cada texto bíblico, tem por trás a vivência da comunidade. Os evangelhos de Marcos e Mateus mostram que, após a morte de Jesus, os seus discípulos e discípulas se reuniram na Galiléia (Mt 28,10.16-20; Mc 16,7). No evangelho de Lucas, os discípulos e discípulas permaneceram, conforme a ordem de Jesus, em Jerusalém (Lc 24,44-48). No evangelho de João, a primeira testemunha da ressurreição é uma mulher (Jo 20,16) e Jesus se reúne com os seus discípulos na Galiléia (Jo 21,1). Qual é o evangelho que apresenta a verdadeira história de Jesus e de seus seguidores e seguidoras?

 

É importante lembrar que a história é a interpretação de um fato. E como diz o ditado: “cada ponto de vista é a vista de um ponto"; assim, cada comunidade, de acordo com a sua vivência e o seu contexto social, tem uma história para contar. Por exemplo, para a comunidade de Lucas, Jerusalém era a cidade santa dos judeus e das autoridades judaicas, que se consideravam o verdadeiro Israel e acusavam as comunidades cristãs de infidelidade à Lei de Moisés. Diante disso, nada melhor do que situar a formação do novo povo de Israel em Jerusalém e sob a inspiração do Espírito Santo (Lc 24,47; At 1,4).

 

Após a morte e a ressurreição de Jesus, os seus seguidores e seguidoras se espalharam para as aldeias no interior da Galiléia, Samaria, sul da Ásia, norte da África (Egito, Etiópia, Cirenaica e Líbia), Ásia e Europa... Nesses lugares nasceram pequenos grupos que começaram a se reunir ao redor das diferentes tradições sobre Jesus, como as narrativas dos milagres, de seus pronunciamentos, ensinamentos e ditos. Cada grupo, de acordo com o seu contexto e necessidade, teve o seu próprio desenvolvimento, organização e o seu jeito de contar a história. Essas diversas experiências estão descritas nos livros do Novo Testamento. O livro dos Atos dos Apóstolos, escrito entre os anos 80 e 90, descreve uma parte dessa história.

 

2- ABRINDO O LIVRO DOS ATOS DOS APÓSTOLOS

A história narrada no livro dos Atos dos Apóstolos apresenta a vida das primeiras comunidades entre os anos 30 e 60. O autor inicia situando a comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus em Jerusalém (1,4) e termina com Paulo chegando a Roma (28,14.31). O caminho começa em Jerusalém, na periferia do império romano, atinge toda a Judéia, Samaria, Ásia Menor, Grécia e Europa. É o caminho da periferia para o centro. De Jerusalém para Roma. Mais do que fazer uma crônica histórica, o autor se preocupa em mostrar a ação do Espírito Santo agindo na comunidade. O grupo dos Doze, inspirado pelo Espírito Santo, dirige a comunidade. Esse grupo institui uma nova liderança e mantém a direção das comunidades dentro e fora da Palestina.

 

As formas de dividir o livro dos Atos dos Apóstolos são muitas, mas o importante mesmo é ler o próprio texto... A divisão do livro depende do critério adotado, alguns consideram o aspecto geográfico, começando em Jerusalém, expandindo para a Judéia, Samaria, Antioquia até os confins da terra; outra forma de dividir o texto é seguir as pequenas sínteses apresentadas pelo autor (5,42; 6,7; 9,31; 12,24; 15,35; 19,20; 28,31).

 

A nossa divisão segue a missão das comunidades de Jerusalém (1,12-5,42), a formação e a missão da comunidade dos helenistas (6,1-15,35), a confirmação e a missão da igreja de Antioquia, tendo Paulo como personagem central (15,36-28,31). Logo no início uma pequena introdução (1,1-11).

 

Mas... vamos ao texto olhar parte por parte.

 

 

Organização dos Atos dos Apóstolos

 

1. Introdução (1,1-11) O livro começa com um prólogo, ou seja, uma apresentação. A primeira informação é que o livro dos Atos dos Apóstolos é o segundo escrito do autor. O primeiro - o Evangelho de Lucas - contém os ensinamentos de Jesus (1,1-2), e Atos é a continuação da missão de Jesus por meio dos apóstolos: o grupo dos Doze escolhidos por Jesus. A Palavra de Deus deve-se propagar a partir de Jerusalém até os confins do mundo: do mundo judeu para todos os povos (1,8). E tudo sob a inspiração do Espírito Sant

 

2. Os seguidores e seguidoras de Jesus em Jerusalém (1,12-5,42). Esta é a fase inicial, que pode ser situada logo após a morte e a ressurreição de Jesus. A partir desse momento, os seguidores e seguidoras de Jesus, conforme o livro dos Atos, foram para Jerusalém. Quem fazia parte desse grupo? Maria e outras mulheres; os Doze e o grupo de Tiago. O novo povo de Deus nasce a partir da descida do Espírito Santo sobre a comunidade reunida (2,1-13). O Espírito Santo é presença constante na vida da comunidade (2,4.33.38; 4,8.25.31; 5,3). A comunidade, fiel aos ensinamentos dos apóstolos, à oração, à comunhão fraterna e à fração do pão (2,42-47; 4,32-35; 5,12-16), vive o projeto da partilha e da solidariedade. Esta nova maneira de viver é organizada a partir da casa, lugar, por excelência, de acolhida e de solidariedade (4,23).

 

O movimento de Jesus atrai muitas pessoas. "E cada dia, no Templo e pelas casas, não paravam de ensinar e anunciar a Boa Notícia de Jesus Messias” (5,42). O anúncio da boa nova chega aos judeus helenistas, judeus criados fora da Palestina, com uma prática religiosa diferente da dos seus irmãos judeus hebreus criados na Palestina. Os helenistas são mais abertos em relação à observância da Lei. Por isso, eles, que já eram discriminados pelos judeus fariseus, passam agora a ser discriminados pelos judeus cristãos. Assim entramos na segunda parte.

 

3.De Jerusalém para Antioquia (6,1-15,35). Com a chegada dos helenistas estrutura-se uma nova comunidade com seus líderes e sua própria organização. Esse grupo tem uma postura crítica contra o radicalismo da Lei e do Templo. Por isso, é perseguido e expulso de Jerusalém. A expulsão traz como consequência a expansão da boa nova e a formação de várias comunidades, como, por exemplo, Antioquia (8,4; 11,19), que se toma o centro da missão dos helenistas. Os seus líderes são pessoas repletas do Espírito (6,3). É sob a força do Espírito que eles testemunham (6,10; 7,55) e anunciam a boa nova aos estrangeiros (8,26-27). Em Cesaréia, o Espírito Santo desce sobre os estrangeiros (10,44-48). É o Espírito que escolhe os missionários, envia-os em missão e acompanha seus enviados (13,2.4.9.52). Muitos estrangeiros passam a fazer parte do movimento de Jesus, e seus seguidores e seguidoras, em Antioquia, pela primeira vez, são chamados de cristãos (11,26). Surge um novo questionamento: para se tomar cristão seria necessário se tomar judeu como Jesus e seus primeiros seguidores? Para resolver esta questão é convocada uma assembleia, na qual a igreja de Antioquia, com algumas restrições, é confirmada (15,1- 35). Após esse acontecimento, a igreja de Antioquia se organiza, cresce e solidifica as novas comunidades. E assim entramos na última parte: as viagens missionárias de Paulo. Vamos lá!

 

4. As  viagens missionárias de Paulo e seu companheiros (15,36-28,31)  Esta parte tem início com a decisão de Paulo de fazer uma viagem às cidades onde eles tinham anunciado a Palavra do Senhor (15,36). Paulo rompe com Barnabé e viaja com Silas. Em Listra encontra Timóteo, filho de pai grego e de mãe judia que se tomara cristã. Timóteo é circuncidado (16,3). Paulo e seus companheiros continuam atuando em comunhão com a igreja de Jerusalém (16,4-40). A sua pregação é feita em primeiro lugar na sinagoga. No capítulo 17, Paulo prega na sinagoga, em praça pública e no Areópago. Paulo é a personagem principal, ele é comparado a Pedro. Paulo é apresentado como um judeu fiel: vai à sinagoga, viaja a Jerusalém para a festa de Pentecostes (20,16), cumpre os ritos de purificação e entra no Templo (21,26-27). E é exatamente no Templo que a multidão quer linchá-lo, mas ele é salvo pelas autoridades romanas (21,32-40). Paulo justifica a sua missão, é interrogado no Sinédrio - conselho supremo dos judeus (22). As autoridades reconhecem a inocência de Paulo (23,29; 25,18-19; 26,31-32), mas o mantém preso para agradar aos judeus. Como as autoridades locais nada resolvem, Paulo apela para César, então é levado preso à Roma, onde permanece por dois anos numa casa, "pregando o Reino de Deus". Paulo e seus companheiros estão sempre a caminho anunciando a boa nova. Percorrem várias cidades: Derbe, Listra, Icônio, Trôade, Neápolis, Filipos, Atenas, Corinto, Cesaréia, Éfeso... até chegar a Roma. E quem conduz a missão é o Espírito Santo (16,6; 20,22). Ele acompanha, passo a passo, os seus enviados (20,23; 21,11).

 

E assim chegamos ao final da história escrita no livro dos Atos dos Apóstolos... O autor reforça alguns fatos do passado que eram importantes para as comunidades do seu tempo, por exemplo: a ação do Espírito Santo, a importância da casa como novo espaço de organização e reunião da comunidade, o espírito missionário e o encontro entre povos de diferentes culturas. Mas ele omite alguns acontecimentos que poderiam prejudicar as comunidades:

 

1- Sob o domínio do império romano, as guerras pelo poder eram constantes, deixando o povo ainda mais pobre. Com o aumento dos impostos, muitas pessoas ficaram endividadas, perderam suas terras, passaram a trabalhar como arrendatários, escravos, meeiros... Havia uma multidão de não-trabalhadores (Mt 20,1-16). O descontentamento do povo era geral

 

2- O imperador Calígula, em 39, intensifica o culto ao imperador e ordena que sua estátua seja colocada no Templo de Jerusalém. Houve muitos protestos.

 

3- Em 49 o imperador Cláudio expulsa os judeus de Roma. A perseguição aos cristãos torna-se mais forte... Em 64, o imperador Nero coloca fogo em Roma e culpa os cristãos, que passam a ser vistos como inimigos do império.

 

4- O autor dos Atos termina o seu relato antes da morte de Tiago, por ordem do Sinédrio (62), e da morte de Pedro e Paulo em Roma (64).

 

5- Entre os anos 66 e 73 acontece a guerra judaica, levando à destruição do Templo e da cidade de Jerusalém, por volta do ano 70.

 

Esses acontecimentos tiveram profundas consequências na vida do povo judeu e na vida das primeiras comunidades cristãs. Por que será que o livro dos Atos, escrito depois desses fatos, com a pretensão de narrar a história das origens das comunidades cristãs, silencia sobre a situação de caos social vivida no império romano e, de maneira especial, na Palestina? É, as perguntas são muitas. Afinal quem escreveu este livro? Para quem e onde foi escrito?

 

5. AUTOR E DESTINATARIO

 

A tradição afirma que esse livro foi escrito por Lucas, o companheiro de Paulo (Cl 4,14; Fm 24; 2Tm 4,11). Em algumas passagens o autor narra como se ele estivesse presente nas viagens missionárias de Paulo. Mas terá sido mesmo um companheiro de Paulo? Em primeiro lugar, o livro dos Atos dos Apóstolos apresenta um Paulo conciliador, agindo de acordo com as leis judaicas: frequenta o Templo, faz peregrinações a Jerusalém, cumpre votos, faz rituais de purificação... É uma imagem de Paulo bem diferente das cartas (9,20;13,14;16, 1-3; 20,16; 21,15; 24,11.17-18).

 

Alguns afirmam que o livro dos Atos foi escrito por pessoas que viviam em comunidades que começaram com Paulo, cristãos da segunda geração (70-100), entre os anos 80 e 90. E onde esse livro foi escrito?

 

Pode ter sido na cidade de Antioquia, ou em Éfeso, < ou mesmo numa cidade da Grécia. O importante é que eram comunidades fundadas por Paulo, compostas por estrangeiros/as e judeu-cristãos, ricos e pobres, que enfrentavam problemas por causa desta mistura. Atos foi escrito para comunidades que precisavam de uma confirmação quanto aos ensinamentos recebidos.

 

Para legitimar a doutrina transmitida às comunidades, o autor faz questão de afirmar - e isso ele o faz muitas vezes - que este ensinamento é guiado pela ação do Espírito. E o grupo dos Doze exerce um papel fundamental: é a garantia de que o caminho traçado por Jesus continua por meio dos apóstolos e dos outros enviados pelos Doze. Quando Atos foi escrito, Pedro com os Onze, Paulo, Tiago... os fundadores das primeiras comunidades, já haviam morrido. E falsos mestres estavam aparecendo (At 20,25-31).

 

O livro dos Atos dos Apóstolos é uma cartilha da comunidade, pensada em vista de problemas concretos.

 

É um reforço para os missionários e missionárias continuarem o anúncio da boa nova. Na comunidade o que mais afetava o dia-a-dia era a convivência entre judeus e estrangeiros. Foi difícil para os judeus, ainda apegados às tradições judaicas, acolher os estrangeiros, sentar com eles à mesma mesa (10,28; Lc 14,15-24), partilhar o mesmo modo de vida, comungar dos mesmos ideais... Foi um longo processo.

 

Se era problema interno, em nível externo essas comunidades também eram questionadas pelos judeus fariseus que não admitiam essa mistura. Para reafirmar a autoridade de Paulo, o livro dos Atos o apresenta como alguém reconhecido pelos apóstolos (9,26-28) e como um verdadeiro judeu (22,1-3). Além do conflito com as autoridades judaicas, as comunidades cristãs também precisavam conquistar o direito de cidadania. Era questão de sobrevivência não criar caso com o império romano. Por isso, o autor procura mostrar que era possível ser romano e, ao mesmo tempo, cristão. Para comprovar isto ele apresenta o exemplo de Comélio, um centurião romano (10,1-2) que acolhe a boa nova. E também insiste em mostrar que as autoridades das cidades greco-romanas colaboram com os cristãos (21,31-40).

 

As comunidades que estão por trás dos Atos dos Apóstolos enfrentaram muitas dificuldades e conflitos internos e externos. O livro dos Atos expressa a tentativa da comunidade de fazer uma revisão, de voltar às origens e encontrar motivações para resistir. As nossas comunidades de hoje também passam por momentos difíceis. Olhando o testemunho das comunidades dos Atos podemos encontrar luzes para a nossa caminhada. pensando nisso escolhemos algumas passagem pera o nosso estudo. 

 

  1. POR QUE E COMO LER OS ATOS DOS APÓSTOLOS?

Entrando em uma igreja, podemos olhar a decoração, os enfeites, as pinturas das paredes. Ou podemos prestar atenção à sua arquitetura, em particular às pilastras ou colunas que sustentam a estrutura, paredes e tetos. É isso que queremos mostrar: quais os pilares que sustentam a obra de Lucas

 

O livro não é muito conhecido entre os católicos, com exceção dos grupos que se dedicam mais intensamente ao estudo da Bíblia. A liturgia dominical faz pouco uso dele, mas é o único lugar onde grande parte dos católicos escuta os Atos.

 

Este livro aparece apenas nos domingos do Tempo Pascal, como primeira leitura. Possivelmente a grande maioria dos católicos praticamente só conhece bem a rigor, três textos dos Atos: o de At. 1, 1-11, lido todos os anos na festa da Ascensão, o de At. 2, 1-11, que é o famoso relato de Pentecostes, e um trechinho do discurso de Pedro a Cornélio At. 10, 37-43, lido na Missa do dia da Páscoa. Na liturgia dominical, são lidos ao todo 140 versículos, isto é, 14% do total de cerca de 1000 versículos do livro! Pouco não?

 

Por outro lado, não faltam motivos para ler o livro, como mostraremos. Nele não somente está a origem das festas da Ascensão e Pentecostes, como também tem sido ao longo da história do cristianismo, um dos mais poderosos instrumentos de renovação ou de “reforma”.

 

Muitas vezes quando os cristãos tomaram a consciência de que a vida da Igreja se afastava do modelo deixado pelos apóstolos e pelas primeiras gerações de discípulos de Jesus, voltaram a ler os Atos, para reencontrar o caminho certo e o impulso para uma renovação radical.

 

O movimento de Jesus, portanto, foi antes da institucionalização da Igreja, isto é, foi um movimento do Espírito e um movimento missionário.

 

O livro dos Atos constrói assim na perspectiva do Espírito Santo, na perspectiva da missão e das pequenas comunidades.

 

É a partir dessas três perspectivas que nós devemos hoje repensar a Igreja atual. Se Lucas escreveu os Atos com o objetivo de obter uma perspectiva, uma metodologia ou um espírito para institucionalizar em sua época, o movimento de Jesus, nós também hoje podemos com o mesmo propósito confrontar nossa Igreja atual com movimento de Jesus, assim como Lucas o reconstruiu.

 

  1. O PODER POLITICO NA PALESTINA

7.1 Sinédrio: Conselho de judeus presidido pelo sumo sacerdote (papa judeu). Este governava religiosa e politicamente. Era assistido por 71 membros da nobreza e do sacerdócio. Resolvia assuntos internos.

 

7.2 Procurador: (Judéia). Mantinham a ordem, proferiam sentenças capitais e cobravam tributos. Fora isto deixava aos judeus resolver seus próprios assuntos, mas intervinham em épocas de crise, depunham sumos sacerdotes e nomeavam outros. Devido à firmeza monoteísta dos judeus o todo-poderoso império romano teve de fazer concessões a eles:

 

  • Isenção do culto ao imperador;
  • Isenção do serviço militar;
  • Judeu não podia ser intimado a julgamento durante o sábado;
  • Os militares romanos não podiam usar insígnias com figuras proibidas para os judeus;
  • Os judeus podiam receber tributos para o templo.

Em síntese, o Império romano tolerava o judaísmo como religião Lícita “religião lícita”. O povo estava insatisfeito e esperava a restauração da realiza de Israel (At. 1,6). Alguns judeus se organizaram em lutas de resistência e levantes – movimento dos zelotas - (66 d.C). Roma reagiu violentamente em 67 d.C matou 40 mil judeus (este mesmo ano de 67 d.C é considerado ano da morte de Paulo).

 

  1. O LIVRO DOS ATOS DEVE SER LIDO A PARTIR DE 3 CHAVES

 

A) Um movimento animado pelo Espírito Santo;

 

B) Movimento missionário (desde Jerusalém até os confins da Terra = Roma)

 

C) Movimento representado pelas comunidades domésticas (momentos decisivos acontecem nas pequenas comunidades. Todo o livro possui uma dinâmica que parte do Templo e chega a casa. A formação de pequenas comunidades é o que faz com que a Palavra se faça presente nas cidades e nas culturas. A pequena comunidade e o lugar onde se mantém vivo o ensinamento dos apóstolos (a memória de Jesus) e onde se vive a Koinonia (eles tinham tudo em comum), a Diakonia (não havia pobres entre eles) e a eucaristia (At2, 42-47).

 

O povo que compunha a sociedade da época era: • Hebreus: cristãos de origem judaica (fiéis a Lei e ao Templo); • Helenistas (viviam fora da Palestina e liam a Bíblia em grego  (tinham problemas com a Lei) • Prosélitos: pagãos de origem grega (simpatizantes da religião judaica).

 

  1. OS PRINCIPAIS PROLEMAS ENFRENTADOS NA ÉPOCA

 

9.1 O desafio da comunidade de “mesa”: Nas comunidades cristãs conviviam cristão-judeus e não-judeus (prosélitos e tementes a Deus). Os judeus não podem aceitar que pagãos sentem com eles à mesa para a refeição ou eucaristia. Até Pedro é vítima deste preconceito (At. 10,16-28).  Lc, para resolver este problema que diminuía os pagãos, vendo ameaçado seu espírito missionário, mostra que Paulo comia com os pagãos: Lídia (At. 16,14-15), carcereiro (16,34), Justo (18,6b), no navio (27,33-38). Até Pedro comia com eles (10,16SS; 11,1SS e 15,7ss. Se Paulo é acusado de ter introduzido pagãos no templo (21,29), Lc defende dizendo que isto já Pedro e Tiago o permitiram antes dele.  Lc faz com que a prática de Paulo seja legitimada por Pedro e Tiago.

 

9.2 Judeus se distanciando de Israel: Os cristãos vindos do judaísmo se sentem expulsos da sinagoga (Jo 16,2).  Não conseguem conciliar judaísmo e cristianismo. Depois da tragédia de 70 (guerra dos zelotas) os judeus (fariseus) se reorganizam em Jâmnia, uma cidadezinha a 50km de Jerusalém. O centro da vida religiosa será, de agora em diante, não mais o templo nem as funções sacerdotais, mas a Tora escrita e sua interpretação oral. Acentua-se desta forma a ortodoxia e os judeus pressionam os cristãos a voltarem ou seriam traidores. Lucas quer encorajar estes cristãos judeus. Os traidores do AT são os chefes de Israel, os doutores e sacerdotes e não Jesus e seus seguidores. Ele pinta negativamente os lideres judeus. Neste tempo a igreja está em fase de transição. Já não é bem judaísmo, mas também ainda não tem estrutura de igreja.

 

9.3 Os gregos e sua fidelidade ao império: Muitos funcionários do império aderiam à fé. Será possível ser fiel a Jesus e ao império? Como aderir a Jesus e ter Paulo por missionário importante se os dois foram eliminados pelo império? Lucas é muito simpático ao império romano. Assim, ele sempre empurra a culpa pela morte de Jesus e de Paulo aos chefes dos judeus, enquanto os romanos são bons (Lc 23,22; AT 3,13), o centurião romano reconhece que Jesus é justo (Lc 23,47), os chefes romanos protegem a Paulo (13,13; 16,30-34; 18,16). Paulo é perseguido pelos judeus e salvo pelos romanos. Os culpados sempre são os judeus. Lc nem se quer menciona o martírio de Pedro e Paulo em Roma, pois quer atrair a benesses do império.

 

9.4Convivência de Ricos e Pobres: Nas comunidades lucanas convivem ricos e pobres. No mundo grego isto era inimaginável. Havia os bem ricos e os quase mendigos. Lc mostra a convivência, insiste em acabar com a escravidão ao dinheiro (Lc 3,13; 12,33; 14,14). Em atos o dinheiro é visto de forma negativa (Judas 1,18; Ananias e Safira 5,1-11; Simão, o mago 8,20; o lucro dos ourives 19,24). Os apóstolos não têm dinheiro (3,5), Paulo não quer prata (20,33).

 

Em meio a todos estes problemas Lc quer mostrar que a palavra de Jesus, movida pelo espírito santo, avança. O número de fiéis aumenta. Se o evangelho de Lc é o livro de Jesus, o dos atos é o livro do espírito santo. O espírito produz a palavra. Existem muitos obstáculos, mas a palavra vence.

 

  1. UM POUCO DE HISTORIA

Na palestina, a grande maioria das pessoas, cerca de 80% morava em pequenos sítios nas aldeias e povoados do interior. O país todo era do tamanho do estado de Sergipe, com uma população de 600 a 700 mil habitantes.  Era um povo sem terra, trabalhando como diarista nas fazendas que estavam nas mãos de poucos proprietários, vários deles oficiais aposentados do exército romano. O desemprego era grande, inclusive no tempo das safras, quando costumava aparecer mais serviços (Mt 20,1-7). Os que possuíam pequenos pedaços de terra aproveitavam-na ao Máximo, plantando até em terrenos pedregosos, na esperança de colher alguma coisa (Mt 13,4-8). Muitos diaristas e pequenos proprietários de terra viviam endividados, por causa do desemprego e dos altos impostos (60% ia para o imperador e 14% ficava no Templo). Os não pagamentos das dívidas implicava cadeia e escravidão. O sofrimento era tanto que com frequência aconteciam revoltas populares de camponeses desesperados.

 

A situação econômica dos moradores de Jerusalém estava um pouco melhor, por causa do templo que tinha sido iniciado por Erodes 20 anos antes de Jesus nascer. Era o principal meio de vida para os 30 mil habitantes de Jerusalém, que durante as festas religiosas a população da cidade passava de 100 mil pessoas. O mal estar era grande, desemprego, fome e abandono provocavam doenças. Diante de tanta insegurança o povo buscava refúgio na religião, na observância da lei de deus. Mas a religião estava sendo manipulada pelos doutores da lei e pelos fariseus, impondo muitos preceitos e obrigações. Já não era a religião do coração, e sim das leis, dos ritos e gestos exteriores. Jesus não mediu palavras ao denunciar tanta hipocrisia.

 

Diante disso cresceu muito a busca de novas experiências religiosas. Religiões e cultos misteriosos, vindos do oriente e do Egito espalharam-se por todo canto conseguindo muitos adeptos. Nestes cultos buscava-se a proteção divina contra as forças negativas do destino.

 

Foi neste contexto sociopolítico-cultural que chegou a várias partes do império romano a boa noticia de Jesus levado por missionários (as).

 

11 - GRUPOS RELIGIOSOS E SOCIAIS

 

11.1 Os Fariseus. Os Fariseus são pessoas piedosas que vivem dependentes dos cumprimentos escrupuloso da lei, até os mínimos detalhes.  Foi precisamente este formalismo que Jesus não se cansou de denunciar. Nesta perspectiva religiosa foi um grupo radical. Politicamente foi um grupo oportunista, que acabaram por se tornar uma espécie de “diretores de consciência moral”, quando aceitaram serem fieis ao imperador Augusto, por imposição de Erodes Magno. Foi assim que perderão bastante da sua autoridade moral e política junto do povo. Só depois do ano de 70, após a derrocada de Jerusalém, e terminado o poder dos saduceus e dos sacerdotes, é que os fariseus voltaram a dominar o mundo judaico e a salvar Israel de perder a sua identidade religiosa, em confronto com algumas das primeiras comunidades cristãs.

 

11.2 Saduceus. É um grupo dentro do judaísmo e não podemos considerar tanto um grupo político, mas religioso. A sua origem está no período persa ou helenístico (536-170 AC). O nome dos saduceus deriva de Sadoque, sacerdote do tempo de Davi. A doutrina dos saduceus é mal conhecida, pois era um grupo pequeno, um grupo sacerdotal em torno do Sumo Sacerdote. Parecem não reconhecer outra lei que o Pentateuco. Não creem na ressurreição nem nos anjos e colaboram com os romanos para manterem o seu poder. Serão muito duros com Jesus e com o cristianismo nascente, pois foram eles que o entregarão a Pilatos para ser morto por motivos religiosos e políticos. Viram nele um blasfemo e um homem de ideias messiânicas capaz de arrastar multidões e pôr em perigo a estabilidade religiosa e política que sempre defenderam. Todavia, não tinham vitalidade religiosa bastante para sobre viverem ao desastre do ano 70 e desaparecem da história.

 

11.3 Essênios. É uma espécie de monges que viviam em comunidade nas margens do mar morto. Foi um grupo que protestou contra o sacerdócio mundano e imoral do templo de Jerusalém, assim como contra o culto vigente no mesmo templo. Sob a direção de um sacerdote chamado mestre de justiça criticam mordazmente os sumos sacerdotes de Jerusalém como usurpadores do verdadeiro sacerdócio. Invés de sacrifícios reuniu-se para participar de banquetes sagrados comunitários. Não se casavam e viviam no trabalho manual, todas as propriedades eram comuns, fomentando assim um espírito de fraternidade. Vivem na oração e na meditação das escrituras preparando ativamente a vinda do reino de Deus. O seu mosteiro será destruído pelos romanos em 70. São fanáticos e tradicionalistas.

 

11.4 Samaritanos. Eram habitantes da samaria descendentes da população mista (israelita e pagã). Os samaritanos afastaram-se do judaísmo oficial, tem o Pentateuco em comum com os judeus, mas construíram seu próprio templo no monte Gerizim. As relações entre eles e os judeus são muito tensas e o comportamento de Jesus ao seu respeito vai escandalizar seus contemporâneos.

 

11.5 Outros grupos de menor expressão

  1. Zelotas (zelavam pela independência de Israel); b. Herodianos (partidários da dinastia de Herodes); c. Movimentos Batistas (batismo como rito de iniciação).

 

 

1º ENCONTRO

 Todas as pessoas são convidadas para a festa! (Pentecostes) At 2,1-13

 

TEMA: Todas as pessoas são convidadas para a festa! PERSONAGENS: A comunidade - os apóstolos, Maria e algumas mulheres - e a multidão.

TEXTO: At 2,1-13.

PALAVRAS-CHAVE: Pentecostes, casa e Espírito.

PERSPECTIVA: A abertura é condição para a comunidade viver, de maneira nova, a presença do Espírito Santo.

Todos ficaram repletos do Espírito Santo (2,4).

 

  1. Preparar o ambiente

— Colocar no local do encontro uma tocha acesa, uma Bíblia aberta e um pequeno frasco com óleo. É importante escrever, numa cartolina, o tema do encontro.

— Colocar folhas de papel, algumas canetas ou pincéis. À medida que as pessoas forem chegando para o encontro, pedir que cada uma desenhe a sua própria mão, deixando-a no centro.

 

  1. Acolhida

— Bem-vinda! Bem-vindo! Que juntos e juntas pos­samos reviver a experiência das primeiras comu­nidades cristãs. Hoje iniciamos uma caminhada para conhecer a vivência dessas comunidades. Com muito entusiasmo e alegria vamos invocar as luzes do Espírito Santo com o canto: “Quan­do o Espírito de Deus soprou”, ou outro que a comunidade julgar mais apropriado.

— O coordenador ou coordenadora do encontro con­vida cada pessoa para pegar o seu desenho, se apre­sentar e dizer o que espera desses encontros.

— Encontro é sempre momento de festa. Invoque­mos as luzes do Espírito Santo para entender­mos a sua presença nas primeiras comunidades e hoje em nossas vidas. Rezar ou cantar: Vinde, Espírito Santo.

 

  1. Motivando a conversa

Somos diferentes uns dos outros e umas das outras. Cada um e cada uma têm a sua riqueza. Vamos observar os desenhos que estão no centro. Cada mão tem por trás uma vida, sonhos e esperanças, sofrimentos e alegrias, encontros e desencontros. Com as mãos podemos lou­var, pedir, falar, abençoar. Em cada mão há uma história de vida, marcada com linhas bem fortes. E nestes traços está a presença de outras pessoas e do Espírito de Deus ajudando-nos nesta caminhada.

Vamos olhar para as nossas mãos, contemplar as marcas que elas trazem e perceber os sentimentos quan­do elas estão abertas ou fechadas...

1) As minhas mãos estão abertas para acolher os excluídos e excluídas da sociedade?

2) Como seria nossa comunidade se as nossas mãos estivessem abertas?

Concluir este momento com a oferta das mãos a Deus e à comunidade para o serviço e proteção da vida. Canto: Quem disse que não somos nada (ou outro refrão esco­lhido pela comunidade).

 

  1. Situando o texto

A festa de Pentecostes era originalmente celebrada nos agrupamentos familiares, nos clãs, nas roças... Era a festa da colheita! Festa da solidariedade e da partilha dos frutos da colheita. Esta festa era comunitária, marcada pela partilha e pela solidariedade, sinal da pre­sença de Deus no meio do povo. Com o tempo se tor­nou a festa da Lei, celebrada no Templo, com a presen­ça intermediária do sacerdote. Só os judeus puros, aqueles que cumpriam todas as exigências da Lei po­diam participar.

Após a morte e a ressurreição de Jesus, chega o dia de Pentecostes. Vamos ver qual a novidade na vida da comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus.

 

  1. Leitura do texto

— Cantar o refrão de um canto antes da leitura.

— Ler At 2,1-13 - a leitura poderá ser proclamada por um dos participantes do encontro.

— Reler o texto. Sugerimos relembrar a história em mutirão, ou seja, uma pessoa começa a contar, com suas palavras, a história do texto, e as ou­tras vão ajudando. Em seguida, fazer uma pausa para reflexão pessoal.

 

Para conversar:

1) Aonde se manifestou o Espírito de Deus? E para quem?

2) O que a presença do Espírito de Deus provocou na vida da comunidade?

 

  1. Iluminando a nossa vida

A nova experiência da presença do Espírito San­to, em forma de línguas de fogo, é sinal da presença viva e atuante do Espírito de Jesus na comunidade cris­tã. Isto gera grande transformação na vida das pes­soas: de um pequeno grupo fechado, numa casa, a co­munidade vai ao encontro da multidão. E mesmo diante das ameaças das autoridades dos romanos e dos judeus (4,19-20; 12,1-3) os seguidores e seguidoras de Jesus não se calam.

1) Hoje, em casa, na comunidade, no bairro e no trabalho, como podemos celebrar a festa de Pentecostes?

 

  1. Celebrando a vida

Pistas para a celebração

— Convidar as pessoas para trocar o desenho de sua mão com alguém do grupo. Ao fazer essa troca pedir para cada um, cada uma, expressar com um gesto ou uma palavra a acolhida e a abertura entre todos e todas. Criar com todas as mãos um símbolo da comunidade e rezar o Pai-nosso.

— Como gesto final, a pessoa mais velha, aquela que tem mais experiência, ungirá com óleo os/as par­ticipantes. Enquanto isso, o grupo poderá can­tar ao Espírito Santo.

 

  1. Preparar o próximo encontro

— Para a próxima reunião ler o texto dos Atos 4,23- 35 e também o subsídio em preparação ao 2o encontro. É importante que todos e todas leiam, assim os participantes poderão contribuir mais. 0/a animador/a do encontro poderá sugerir às pessoas que não souberem ler, que peçam a al­guém que leia para elas.

— Cada pessoa deverá trazer um recorte de jornal ou de revista que retrate uma situação de exclu­são na sociedade hoje. As pessoas poderão es­crever numa folha o nome de alguém próximo da comunidade, ou mesmo da própria comuni­dade, que se encontra numa situação de sofri­mento.

— Distribuir as tarefas para a próxima reunião.

— Combinar a data e o local da próxima reunião do grupo.

 

  1. Gesto concreto

— Todo o grupo deverá ler em voz alta o gesto con­creto: visitar pessoas afastadas da comunidade ou com problemas familiares, como: filho ou fi­lha envolvido/a com drogas; marido que bebe ou é violento; desempregados etc. Em grupo levan­tar os nomes e dividir entre os/as participantes. A visita poderá ser individual ou em pequenos grupos.

 

Encerrar com a bênção.

 

  • Situando o texto

Chegou o dia de Pentecostes, uma festa muito importante para os judeus. O autor dos Atos lembra um momento forte de encontro da comunidade. Devia haver muita gente em Jerusalém. Uma cidade que, naquele tempo, tinha cerca de 60 mil habitantes chegava a receber mais de 125 mil peregrinos nas ocasiões das festas judaicas. A comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus também estava em Jerusalém para celebrar este momento.

 

Entre as principais festas do povo judeu estão as festas da Páscoa e de Pentecostes. A Páscoa era uma festa dos pastores, que acontecia na primavera e tinha como objetivo pedir a bênção da divindade sobre os animais, suas crias e suplicar a proteção na busca de novas pastagens. A festa de Pentecostes, uma festa dos agricultores e agricultoras, era celebrada sete semanas após o início da colheita. As pessoas ofereciam a Javé os primeiros frutos da terra.

 

Era um momento de muita alegria, precedido por vários mutirões. Os agricultores e agricultoras juntavam as forças para fazer a colheita da produção de cada família. A colheita era colocada nas eiras, perto das vilas e das roças. As eiras eram um tipo de terreiro batido, como existem em nossas roças ou sítios, para secar café, trigo, soja, arroz ou feijão. Esse ajuntamento dos vários agricultores e agricultoras era marcado pela solidariedade, semelhante aos mutirões que ainda hoje existem em muitas regiões do Brasil.

 

Com o tempo, a festa da Páscoa foi associada a um acontecimento marcante da história de Israel: passou a lembrar a saída da escravidão do Egito (Dt 16,1-8). E a festa de Pentecostes tomou-se a festa da renovação da aliança de Deus com o povo (Dt 16,9-12). No tempo tribal essas festas eram celebradas nas casas. Mais tarde, passaram a ser celebradas no Templo (2Rs 23,21-23) e foram transformadas em festas de Peregrinação. Todo o povo era obrigado a ir ao Templo para levar ofertas e cumprir os rituais de sacrifício.

 

Foi no período do pós-exílio, sob a influência dos sacerdotes e escribas, que a festa de Pentecostes tomou- se a festa da Aliança e da Lei, celebrada no Templo, tendo como intermediário o sacerdote. Naquele tempo havia um sistema de leis, imposto por sacerdotes e escribas, que dividia as pessoas em puros e impuros.

 

E quem eram os puros? Em primeiro lugar os judeus, que se consideravam escolhidos e abençoados por Deus. Havia também outras exigências, como guardar o sábado, abster-se de comer alimentos impuros, não se misturar com pessoas impuras: não-judeus, pobres, doentes... O simples contato com uma pessoa ou coisa considerada impura era suficiente para deixar o outro impuro. Para a mulher, a situação ainda era mais complicada, pois a menstruação e até mesmo a maternidade a deixavam impura (Lv 12,1-8).

 

Como a festa de Pentecostes tomou-se a festa da Lei, nem todas as pessoas podiam participar. Só os puros. Muita gente ficava de fora. Os estrangeiros não faziam parte do povo eleito por Deus, viviam uma condição permanente de impureza. Os pobres e os doentes eram vistos como pecadores, pessoas castigadas por Deus (Ex 20,5; 34,7; Nm 14,18; Dt 15,16-20). Contudo, havia um jeito de a pessoa se purificar: ela devia levar ofertas ao Templo e pagar o tributo religioso em dia. Os sacrifícios para a purificação tinham um preço muito alto, dificultando aos pobres o cumprimento da Lei (Lv 12,8; Lc 2,24).

 

Na época de Jesus a lei do puro e impuro excluía muitas pessoas da participação no Templo e na sociedade. Jesus rompeu com essa lei. Ele começou a conviver com os pobres, doentes, deficientes físicos, estrangeiros, mulheres excluídas... Jesus, com sua prática, volta ao Espírito original da festa de Pentecostes: o espírito de partilha e de solidariedade (Mc 6,34-44). Ele é O messias dos pobres (Mc 1,32-34), que admitiu entre os seus discípulos e discípulas as pessoas excluídas da sociedade.

 

Após a morte e a ressurreição de Jesus, o seu grupo de seguidores e seguidoras retoma a sua prática de acolher as pessoas rejeitadas pelo sistema oficial do puro e impuro. A comunidade encontra-se numa casa: "Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus” (1,14). O clima era de tensão e de expectativa. Como dar continuidade à proposta de Jesus? Era preciso continuar o anúncio da boa nova, mas como? Vejamos qual foi a resposta de Deus.

 

  • Comentando o texto

Chegou o dia de Pentecostes. Na cidade a agitação era grande. Os peregrinos continuavam chegando, vinham de todas as regiões para celebrar esta festa importante. A nova comunidade: os apóstolos (1,5), Maria, outras mulheres e o grupo dos irmãos de Jesus (1,14), também estavam em Jerusalém. Todos se preparavam para a festa da Lei, porém, aconteceu algo extraordinário... “De repente, veio do céu um barulho como o sopro 'de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo” (2,2-4). Isto aconteceu numa casa, e não no Templo, no espaço oficial dos judeus.

 

Desde o antigo Israel, a vida estava organizada ao redor da casa; que era a base da sociedade. A casa representava o conjunto de pessoas que dela dependia: esposas, filhos, famílias de diferentes gerações, parentes próximos, escravos e outros trabalhadores contratados. É na casa que se estruturavam as relações de poder, as leis, a organização da produção e a vida social. Nesse ambiente comunitário as mulheres também desempenhavam funções importantes. A casa garantia a vida e a proteção de todos os seus membros.

 

Com a chegada da monarquia, pouco a pouco, o sistema tribal, centralizado na casa e na aldeia, foi substituído pela corte e pelo Templo, com a exploração por meio de tributos. Esta tendência aumentou com a dominação de outros impérios - Assíria, Babilônia e Pérsia -, especialmente dos gregos. Com eles, implantou-se o helenismo, um sistema baseado na cidade. A organização da sociedade passou a ter o seu centro na cidade, no comércio, visando sempre mais ao lucro. Isso aumentou a concentração da terra nas mãos de poucos. A grande maioria dos camponesas e camponeses perdeu suas terras e sua liberdade por endividamento (Jó 24; Ecl 5,7-8).

 

Com a dominação do império romano (63 a.C.) aumentou a situação de caos social. No tempo de Jesus a vida de muitas pessoas era insuportável. Crescia dia a dia o número de endividados, empobrecidos e escravizados. As constantes guerras e a luta pelo poder tinham Consequências desastrosas na vida do povo. Como se isso não bastasse, parte das autoridades judaicas fez aliança com os romanos, isso piorou ainda mais a situação. A Lei judaica passou a ser usada para controlar o povo judeu. As festas eram ocasiões para arrecadar tributos. Era preciso resgatar o sentido original da casa e das festas na vida das comunidades.

 

Pois bem, Atos dos Apóstolos faz um retorno à casa. É no espaço da casa que o Espírito de Deus se manifesta. "Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e se puseram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem” (2,4). O dom das línguas na festa de Pentecostes, como também em outros textos dos Atos, tem um único objetivo: é para o anúncio profético da boa nova (4,8.31; 19,6).

 

Em seguida, a comunidade deixa o espaço da casa e vai ao encontro da multidão, assumindo assim o sentido original de Pentecostes: a abertura, a partilha e a solidariedade. As reações são diversas: confusão, perplexidade, admiração, “pois cada um os ouvia falar em sua própria língua" (2,6b). O anúncio da boa nova chega às pessoas dentro de sua situação de vida. Todos e todas têm oportunidade de ouvir a boa nova a partir de sua própria realidade. É a Palavra de Deus que faz caminho e se toma vida na vida das pessoas.

 

Nos w. 5-11 há uma lista de 12 povos e três regiões; primeiro apresenta os nativos: partos, medos e elamitas. Em seguida cita os habitantes da Judéia, Capadócia, Ponto, Frigia, Panfília e Egito e as três regiões: Mesopotâmia, Ásia e Líbia. E num terceiro grupo enumera os estrangeiros: romanos, cretenses e árabes. Em Jerusalém encontra-se representantes de muitos povos. Isso deixa bem  claro que o projeto de Deus é para todos/as, não tem fronteiras. Todos e todas são convocados/as para ouvir e viver as maravilhas de Deus.

 

Na festa de Pentecostes, vivida pelas comunidades dos Atos, cada povo preserva a sua cultura e descobre o seu jeito de seguir a prática de Jesus, de conviver no meio dos pobres e oprimidos, vencendo as barreiras que impedem a convivência entre as pessoas. Na convivência solidária e na superação das barreiras entre mulheres e homens de diferentes classes sociais, de vários grupos étnicos, de religião, a comunidade vive a experiência da presença do Espírito Santo.

 

Mas o que é o Espírito Santo?

 

  • Aprofundando: o Espírito Santo

A palavra Espírito, em hebraico ruah, aparece muitas vezes no Antigo Testamento. No Gênesis pode ser traduzida por sopro ou vento, que possui a força criadora: "A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas” (Gn 1,2; cf. Sl 33,6; Jó 33,4). E o sopro de Javé tanto possui uma força criadora, como também destruidora: "ele matará o ímpio com o sopro de seus lábios" (Is 11,4; cf. Ex 15,8; 2Sm 22,9; Jó 4,9).

 

Em todas as etapas da história do povo de Deus, o Espírito se fez presente, eis alguns momentos importantes:

— Na criação (Gn 1,2; 2,7);

— Na formação e organização do povo (Jz 3,10; 11,29)        .

— No período dos juízes e da monarquia, o Espírito era dado aos juízes, reis (ISm 11,6), especialmente o rei messiânico (2Sm 23,2; Is 11,2), e profetas (Mq 3,8).

— No exílio e no pós-exílio o povo sente a presença do Espírito de Deus dando vida nova, ajudando a refazer as esperanças (Nm 11,17; Zc 7,12; Ez 37,10- 14).

— No pós-exílio o Espírito não era só para as pessoas que tinham algum cargo especial, mas derramado sobre todo o povo (J13,1-2; Is 59,2; Zc 12,10).

 

Veja que interessante! No Antigo Testamento, a presença do Espírito de Deus tem a função de criar, animar, discernir, profetizar, ressuscitar, libertar e recriar. E estas também são as funções do Espírito no Novo Testamento. O Espírito continua vivo e atuante na vida de Jesus e das comunidades.

 

E Deus age por meio de pessoas concretas. Jesus, com sua maneira de ser e de agir, cria um novo modo de viver. Ele cria novas esperanças de vida para as pessoas, possibilita à pessoa a volta à comunidade; toca o impuro. “Jesus foi aonde ela estava, segurou sua mão e ajudou-a a se levantar" (Mc 1,31). Ele rompe a barreira do isolamento social imposto pela lei do puro e impuro, vive a lei do amor e da solidariedade. Faz a pessoa reviver (Mc 2,5).

 

A ação de Jesus vai além... ele organiza a comunidade. Na multiplicação dos pães “Jesus mandou que todos se sentassem na grama verde, formando grupos de cem e de cinquenta pessoas. Depois Jesus pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e ia dando aos discípulos para que os distribuíssem. Dividiu entre todos também os dois peixes. Todos comeram e ficaram satisfeitos... " (Mc 6,39- 42). Na festa da vida todos podem participar.

 

Jesus, em seu ministério, criou novos espaços para a pessoa viver, restituiu a vida pelo perdão e organizou a partilha. Ele recriou a vida na liberdade (Mc 5,8). Esse modo de agir sem dúvida era inspirado pelo Espírito. O que mais tarde levou os cristãos a dizerem: "Tão humano assim, só Deus". Seu programa de vida foi evangelizar os pobres, proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, restituir a liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor (cf. Lc 4,18).

 

Os seguidores e seguidoras de Jesus, guiados pelo Espírito, percorreram o caminho trilhado pelo Mestre. As primeiras comunidades criam novo espaço para as pessoas: “Pedro pegou a mão direita do homem e o ajudou a se levantar" (3,7). Depois de curado, o homem entrou no Templo. Ele voltou a fazer parte da sociedade. Mas, além de criar novos espaços, a comunidade também precisava de uma nova ordem.

 

As comunidades se organizaram a partir das casas (1,13; 2,2; 9,36-42; 12,12). Numa casa as pessoas estavam unidas por algum laço de parentesco ou por alguma relação de trabalho ou colaboração. Mas nas casas-comunidades cristãs, pela fé em Jesus, todos/as se consideravam irmãos e irmãs (1,15), sentiam-se acolhidos/as e partilhavam o pão (2,42), eram discípulos e discípulas (6,1), cristãos e cristãs (11,26).

 

E no livro dos Atos dos Apóstolos os seguidores e seguidoras de Jesus são enviados para anunciar a boa nova, a fim de que as pessoas se arrependam, e cada uma seja batizada "em nome de Jesus, para o perdão dos pecados; depois elas receberão o dom do Espírito Santo” (2,38; 5,31). Para o movimento de Jesus perdoar os pecados é libertar a pessoa, inclusive da escravidão da Lei. É soltar as amarras impostas pela lei do puro e impuro. Isto só era possível mediante a fé em Jesus Cristo e a presença do Espírito Santo. As comunidades entendiam que a morte e a ressurreição de Jesus era uma “oportunidade ao povo de se arrepender e receber o perdão dos pecados” (5,31b).

 

O movimento de Jesus é um movimento do Espírito: cria, organiza, profetiza, liberta, restaura, produz nova vida... É o Espírito de Jesus que anima e fortalece a vida das primeiras comunidades: "as igrejas gozavam de paz em toda a Judéia, Galiléia e Samaria. Elas se edificavam e andavam no temor do Senhor, repletas da consolação do Espírito Santo” (9,31; 13,52). As comunidades, sob a luz do Espírito, vão ao encontro de todos: judeus e não- judeus (11,15; 10,44-45.47). A presença do Espírito ajuda na busca de solucionar os conflitos existentes (15,8.28), acompanha os que coordenam as comunidades (20,28): os/as apóstolos/as (5,32; 15,28); as diversas lideranças (6,3), os/as missionários/as (13,4).

 

Da convivência solidária nasce uma nova experiência do Espírito. Essa experiência possibilita a compreensão da boa nova (2,6). É uma energia vital que põe as pessoas em sintonia com o projeto de Deus e as impulsiona para a missão (2,42-47; 4,32-35; 5,12-14).

 

Nos dias de hoje, em nossos encontros e momentos de oração, pedimos as luzes do Espírito Santo. Continuamos acreditando na sua força e nos dons que ele nos concede. É na vivência comunitária, vivificada pela força e ação do Espírito Santo, que recebemos forças para enfrentar os desafios e sofrimentos do dia-a-dia. A presença do irmão, da irmã, nos ajuda a viver melhor. O fardo fica mais leve. A solidariedade da comunidade sustenta a missão. Este é o tema que refletiremos no próximo encontro.

 

3.1 - Curiosidade

Torre de Babel e Pentecostes: Deus quer a vida na liberdade

Pentecostes nos faz lembrar da Torre de Babel (Gn 11,1- 9). Aparentemente são duas histórias opostas, mas se olharmos atentamente, vamos ver que a mensagem é parecida. Note bem: a construção da torre de Babel foi impedida porque Javé confundiu as línguas dos construtores. Em Pentecostes, todos entendiam a boa nova em sua própria língua. Qual a semelhança entre essas duas histórias?

 

Era interesse dos dominadores construir um grande império e para isso era necessário unificar a língua, os costumes e a religião. E o povo resistiu, falando em sua língua, e manteve as suas características próprias. E em Pentecostes não houve unidade das línguas, mas sim unidade da compreensão das maravilhas de Deus. Nas duas histórias o povo mantém a sua identidade, língua e cultura. A dominação cultural não faz parte do projeto de Deus. O anúncio da boa nova deve ser vivido dentro da cultura de cada povo.

 

2º Encontro

Comunidades em missão At 4,23-35

 

TEMA: Comunidade em missão.

PERSONAGENS: Pedro, João, outros apóstolos e a comunidade.

TEXTO: At 4,23-35.

PALAVRAS-CHAVE: anúncio, perseguição, comunidade e o Espírito Santo.

PERSPECTIVA: Buscar forças na vida comunitária para enfrentar os momentos de dificuldade.

E todos ficaram repletos do Espírito Santo, continuando a anunciar com coragem a palavra de Deus (4,31).

 

  • Preparar o ambiente

— Arrumar o espaço com vela acesa, Bíblia, vários pedaços de papel em branco e fita adesiva.

— À medida que as pessoas forem chegando, pedir que elas coloquem no centro do local do encon­tro os recortes ou as informações que elas trou­xeram sobre as pessoas excluídas ou marginali­zadas.

 

  1. Acolhida

— O/a coordenador/a dá as boas-vindas a todas as pessoas que vieram para o encontro. - Se alguém estiver participando pela primeira vez, acolher e pedir que se apresente.

— Quem fez a visita conforme combinamos no en­contro anterior? E como foi o encontro com pes­soas que enfrentam dificuldades sociais e fami­liares? O que podemos fazer para continuar essa prática?

— Concluir esta parte com o canto “Somos gente nova” ou “Animados pela fé".

 

  1. Motivando a conversa

— Iniciando o encontro de hoje, vamos ler, em voz alta, o tema: “Comunidade em missão”.

Coordenador/a: convidar as pessoas para obser­var os recortes ou as informações que foram colo­cados no centro. Em seguida, cada pessoa tome um papel em branco e escreva ou desenhe seus sentimentos: medo, tristeza, dor, angústia... Colo­car o seu desenho no centro.

— Muitas vezes em nossa vida nos sentimos tristes, perseguidos/as, ameaçados/as. As situações de sofrimento, de marginalização ou de perseguição, quando vividas e apoiadas pela comunidade for­talecem a pessoa. Dá força para continuar firme na caminhada e também une a comunidade.

1) Você já viveu alguma experiência de se sentir colocado/a de lado na família, na escola, na comu­nidade ou no trabalho?

2) Conhece alguém que se encontra nessa situa­ção? - deixar que as pessoas partilhem situa­ções de sofrimento provocadas por perseguição ou exclusão.

 

  1. Situando o texto

As primeiras comunidades foram perseguidas pelas autoridades judaicas. Os sacerdotes, o oficial do Templo e os saduceus ficaram contrariados ao ver Pedro e João ensinando ao povo. Para acalmar sua indignação, as autoridades judaicas perseguem os apóstolos (4,1-3). Após a prisão, o sinédrio - conselho dos judeus - foi con­vocado para interrogar os apóstolos. A resposta dos após­tolos é corajosa, eles dizem que têm poder em nome de Jesus (4,10).

Após saírem da prisão, os apóstolos se reúnem com a comunidade, irmãos e irmãs que sustentam e comun­gam os mesmos ideais.

Onde a comunidade encontrava forças para resis­tir? Vamos ler e reviver esta experiência.

 

  1. Leitura do texto

Cantar um refrão antes da leitura.

— Ler At 4,23-31. Os versículos 23-24a e 31-35 po­dem ser lidos por uma pessoa. Os demais versículos que se referem à oração deverão ser lidos por todos, pausadamente, em clima de oração.

— Repetir frases ou expressões mais fortes do texto.

 

Para conversar: Pedro e João se reúnem com a co­munidade. A comunidade é força e sustento para ajudar os seus membros a permanecer firmes na missão.

1) Quais os passos seguidos na reunião coordena­da pelos apóstolos?

2) O que aconteceu na comunidade?

 

  1. Iluminando a nossa vida

Pedro e João, ao retornarem para a comunidade, sentem que não estão sozinhos. Eles se enchem de cora­gem. Solidariedade e apoio são muito importantes. A comunidade procura entender os fatos à luz da Palavra de Deus. É na convivência solidária e amorosa que eles experimentam a presença do Espírito de Deus.

1) Em nossos encontros de oração a gente se lem­bra dos problemas concretos do Brasil e do mun­do? Normalmente quem nos ajuda a lembrar desses problemas?

  • E em nossas reuniões para discutir as questões da comunidade, do bairro, da sociedade... a gen­te se lembra de pedir as luzes e a força do Espíri­to Santo?
  • O que nos impede de agir e de viver a partilha, a oração, a unidade e a solidariedade, valores vivi­dos pelas primeiras comunidades cristãs?
  • Celebrando a vida

 

Pistas para celebração

— Convidar as pessoas para unir os pedaços de pa­pel, nos quais estão desenhados os seus sentimen­tos, e formar uma corrente. Enquanto as pesso­as estiverem formando os elos, cantar um cântico que fale de união e fraternidade. Com a corrente formada, todos e todas segurando-a e formando com ela um círculo, fazem uma prece comunitá­ria pedindo forças para enfrentar os desafios e riscos que a vida, dia a dia, nos coloca.

— Lembrar as pessoas que foram deixadas de lado, perseguidas por causa do Evangelho ou que sofre­ram injustiças - gente da comunidade, do bairro, do país, pessoas conhecidas e as que estão no anonimato.

— Fazer uma prece por todos/as missionários/as.

 

Preparar o próximo encontro

— Para a próxima reunião ler At 6,1-7 e, quem pu­der, o subsídio em preparação ao 3o encontro. Já sabem: quem não consegue ler, pedir ajuda para alguém de sua casa ou da vizinhança.

— Distribuir as tarefas para a próxima reunião.

— Combinar a data e o local da próxima reunião do grupo.

 

Gesto concreto

— Identificar uma situação de exclusão ou de in­justiça - pode ser em casa, na comunidade, no trabalho - e dar passos concretos para resolver o problema. Outra sugestão é a comunidade se mobilizar para escrever uma carta prestando sua solidariedade aos grupos excluídos e injus­tiçados.

 

— Concluir com a oração do Pai-nosso e a bênção.

 

Situando o texto

 

Em Atos 4,23-35 temos a descrição de uma reunião da comunidade em tempos de perseguição, e logo em seguida um resumo sobre o ideal de vida das primeiras comunidades cristãs. Para entender esse texto é necessário voltar ao início do capítulo três. O primeiro fato que o autor apresenta é a cura de um aleijado (3,1-10). É um milagre que Pedro realiza fora do Templo. Naquele tempo as pessoas pobres, doentes e estrangeiras, de acordo com a Lei oficial dos judeus fariseus, eram consideradas impuras, não podiam participar do culto no Templo. E quem era barrado no Templo, também não tinha vez na sociedade.

 

A cura do aleijado ajudou o povo a acreditar na força de Jesus de Nazaré. Diante do olhar insistente do homem que pedia esmola, "Pedro lhe disse: ‘Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu lhe dou: em nome de Jesus, o Nazareu, levante-se e comece a andar!’. Depois Pedro pegou a mão direita do homem e o ajudou a se levantar” (3,7).

 

Esse milagre gerou confusão. De um lado estava o povo, admirado, atônito, de boca aberta. De outro, estavam as autoridades judaicas furiosas. Elas se consideravam as únicas pessoas autorizadas a ensinar e curar. Por isso agiram rapidamente, antes que o poder escapasse do seu controle: prenderam Pedro e João. E eles, de maneira corajosa, enfrentaram os poderosos no Sinédrio. E uma vez soltos, os apóstolos continuaram anunciando a prática de Jesus, homem que viveu com os/as excluídos/as.

 

Essa nova maneira de viver era vista como ameaça à tradição judaica (4,2; 18,13; 21,28). Por isso, nos primórdios do movimento de Jesus nos deparamos com pessoas ou grupos que foram marginalizados e perseguidos até a morte. O livro dos Atos nos apresenta alguns exemplos, entre eles está o apedrejamento de Estêvão (7,55-60), o assassinato de Tiago, por ordem de Herodes (12,1-2) e as muitas vezes que Paulo é perseguido e açoitado (16,16-24).

 

Apesar das perseguições e ameaças, o número das pessoas que aderia à Palavra de Deus crescia dia a dia. Isso aumentou ainda mais as perseguições contra as comunidades cristãs. Na comunidade havia o esforço de acolher a todas as pessoas sem distinção de nação, classe social, idade, sexo e religião. O anúncio do novo reino era dirigido a todos e todas. Essa convivência colocava por terra a lei do puro e impuro. Era uma afronta para as autoridades judaicas. Por isso, os judeus cristãos foram duramente perseguidos pelos dirigentes da sinagoga (13,13-52).

 

As comunidades cristãs também eram perseguidas pelos chefes das cidades do império greco-romano (14,1- 7). Eles se viram ameaçados, pois o anúncio da boa nova não aceitava injustiças e exploração das pessoas. Isso colocava os negócios da elite por água abaixo. Um fato que podemos lembrar é a cura de uma jovem escrava, na cidade de Filipos. Diz o texto que era uma jovem possuída por um Espírito de adivinhação e obtinha muito lucro para seus patrões. Paulo a libertou. Por isso, seus patrões agiram violentamente contra Paulo e Silas (16,19- 22). O livro dos Atos traz ainda outros conflitos com as religiões gregas (19,18-19; 19,23-40).

 

Desde o início as comunidades cristãs foram perseguidas. As dificuldades para continuarem firmes na proposta de Jesus foram muitas. Sempre foi assim. Na história, independente da religião, testemunhamos que as pessoas que lutam em defesa da vida ameaçada são mortas ou silenciadas. Os exemplos são muitos... Dom Romero, Margarida Alves, Chico Mendes, Marçal Tupã, Santo Dias, Dorcelina (prefeita de Mundo Novo/MS, assassinada no ano 2000) e tantos outros e outras que ousaram sonhar e buscar vida digna para todos e todas. Pessoas que não comungaram com as injustiças.

 

Mas, apesar de tudo, as primeiras comunidades cristãs, movidas pela fé em Jesus, não desanimaram. Resistiram.

 

Comentando o texto

Os apóstolos estão a caminho do Templo. Na entrada, provavelmente no pátio de fora - o lugar reservado aos impuros -, encontram um aleijado. Uma pessoa necessitada (3,1-2). Há entre eles um encontro capaz de produzir vida nova: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareu, levante-se e comece a andar!” (3,6). A partir desse fato eles anunciam ao povo a morte e a ressurreição de Jesus. O ensinamento dos apóstolos ameaça o poder das autoridades judaicas, que se consideram os únicos mestres do povo. Por isso, os missionários são presos, interrogados e ameaçados. Porém, eles têm uma convicção: "não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (4,20).

 

Os apóstolos se reúnem com a comunidade. Esta reunião, descrita no capítulo 4 do livro dos Atos, tem a seguinte pauta:

 

  1. Análise da realidade: v. 23;
  2. Oração: v. 24 - toda a reunião prossegue em clima de oração;
  3. Leitura da Palavra de Deus: w. 25-26;
  4. Interpretação da Palavra: w. 27-28;
  5. Prece - pedido para continuar pregando a Palavra de Deus: w. 29-30;
  6. Resposta de Deus - Descida do Espírito sobre todos: v. 31a;
  7. Ação - Pregavam a Palavra de Deus com coragem: v. 31b.

Neste encontro, todas as pessoas ficam sabendo dos acontecimentos: prisão, perseguição e ameaças (4,23). A partilha da realidade faz brotar a oração: “Senhor, tu criaste o céu, a terra, o mar, e tudo que existe neles. Por meio do Espírito Santo disseste através do teu servo Davi, nosso pai: ‘Por que se amotinam as nações, e os povos planejam em vão? Os reis da terra se insurgem e os príncipes conspiram unidos contra o Senhor e contra o seu Messias"' (4,24-26). Nesta oração está presente a imagem de Deus como senhor e criador do universo, aquele que tem o poder de conduzir a história (cf. Sl 121,2; 124,8; 146,6-10).

 

A comunidade procura entender a sua situação de sofrimento e perseguição. Ao rezar o Salmo 2 encontra luz para entender a sua realidade. O salmo fala da entronização do rei de Judá. A comunidade compara a aliança dos reis e príncipes da terra contra o Ungido do Senhor (4,26) à aliança de Herodes e Pilatos contra Jesus. Ela acredita no messianismo de Jesus, descendente de Davi, servo de Javé (4,25), não como rei, mas como o servo sofredor (Is 42,6). E como consequência da prática da justiça, ele sofre e entrega a própria vida (Is 42,1-9; 52,13-53,12). Naquele contexto, colocar Jesus como rei- servo é uma denúncia contra a dominação do império romano.

 

À luz da Palavra a comunidade vê os acontecimentos como parte do projeto salifico de Deus (4,28). Consciente de sua missão, a comunidade reza. Pede que Deus lhe conceda coragem e fidelidade para continuar pregando a Palavra de Deus: 4,29-30. E mais uma vez Deus se manifesta na comunidade reunida, não no Templo, mas na casa: "Tendo eles assim orado, tremeu o lugar onde se achavam reunidos. E todos ficaram repletos do Espírito Santo, continuando a anunciar com coragem a Palavra de Deus” (4,31; cf. Sl 68,8-9).

 

O versículo 31 nos lembra o primeiro Pentecostes da comunidade (At 2,1-12), uma forte experiência de Deus vivida por pessoas pobres, marginalizadas e excluídas pelo sistema oficial dos judeus fariseus. Aqui, mais uma vez a comunidade está reunida, rezando a realidade à luz da Palavra de Deus. Pelo testemunho de seus membros, ela volta a vivenciar a força transformadora do Espírito Santo. A comunidade vê a nova sociedade, que já está acontecendo, no esforço de cada pessoa em viver novas relações.

 

Assim, temos a apresentação do sonho da nova comunidade: "uma só alma e um só coração”. Um grupo marcado pela unidade e pela fé (4,24.32; Dt 6,5). O que desencadeou a perseguição foi a cura de uma pessoa necessitada (3,1-10). Na nova comunidade não há necessi- tados/as (4,34). Tudo é colocado em comum. A partilha não é uma lei, mas um gesto espontâneo que nasce da solidariedade de cada pessoa.

 

A nova comunidade era fiel aos ensinamentos de Jesus e dos apóstolos, à comunhão, à partilha e à solidariedade. Tudo era comum, sob a orientação e administração dos apóstolos (4,35). As comunidades, descritas no livro dos Atos dos Apóstolos, era uma realidade histórica ou apenas um sonho? Elas viviam conflitos internos, desentendimentos, nem todos os membros tinham a mesma fé... O que animava e unia as pessoas era o desejo de vivenciar mais profundamente a partilha e a solidariedade. A fé na ressurreição fez acontecer essa nova vivência.

 

Aprofundando: a vida das primeiras comunidades

No livro dos Atos dos Apóstolos há três fotografias sobre a vida das primeiras comunidades cristãs em Jerusalém (2,42-47; 4,32-35; 5,12-16). O modelo comunitário, proposto pelo autor dos Atos, está baseado em alguns elementos fundamentais; o ensinamento dos apóstolos (2,42- 43), a missão (1,8; 4,33; 5,15-16), a comunhão fraterna (2,42.44-45), a fração do pão (2,42.46) e a oração (2,42).

 

Ensinamento dos apóstolos. É bom lembrar que a comunidade apostólica incluía os Doze, algumas mulheres, entre as quais Maria, e os setenta e dois discípulos e discípulas de Jesus. Mas em que consistia o ensinamento da comunidade apostólica? Na releitura de textos bíblicos à luz de Cristo. A comunidade cristã fazia memória dos ensinamentos de Jesus (1,8). E não só relembrava, mas colocava em prática por meio de sua maneira de viver a partilha, a solidariedade, a acolhida aos rejeitados e impuros (3,7; 4,23; 9,33.41.43). As comunidades cristãs começam a derrubar os muros que separam as pessoas em puras e impuras (10,28.34-35). O testemunho das comunidades e o anúncio da morte e ressurreição (2,22- 24) causam impacto nos ouvintes (4,33; cf. 2,32; 3,15;). Todos - mulheres, homens, crianças, de todas as nações e línguas - são chamados a viver a ressurreição de Jesus, para ter uma vida plena, levantar a cabeça, pois Deus criou o ser humano para a vida. A comunidade apostólica, impulsionada pelo Espírito de Deus, anunciava continua- mente. Todos os/as batizados/as também assumiam a mesma missão.

 

Missão. “O Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os extremos da terra" (1,8). As primeiras testemunhas de Jesus atuaram com grande dinamismo missionário. O conteúdo da missão era a Palavra de Deus (20,32). Os seguidores e seguidoras de Jesus anunciaram a Palavra, enfrentaram sofrimentos, prisões, torturas e perseguições (4,17; 7.12.58; 12,1-3; 16,19-24). E não desanimaram! Quando o grupo dos cristãos helenistas foi perseguido e expulso de Jerusalém, todos se "espalharam pelas regiões da Judéia e da Samaria” (8,1-2). Aqueles que se dispersaram iam de um lugar para o outro, anunciando a Palavra (8,4). Os missionários e missionárias eram fiéis à pregação da Palavra por que viviam profundos laços de comunhão (4,29; 12,12; 17,10).

 

Comunhão fraterna. “Todos os que abraçaram a fé estavam unidos e tudo partilhavam. Vendiam suas propriedades e os seus bens para repartir o dinheiro apurado entre todos, segundo as necessidades de cada um” (2,44-45); "A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (4,32). O livro dos Atos dos Apóstolos insiste na partilha dos bens materiais. A riqueza é associada às situações de injustiça e de pecado. O apego ao dinheiro é oposição ao anúncio da boa nova (1,18; 5,1-11). O dinheiro precisa ser dividido com os pobres e necessitados (4,34-36; 11,29; 20,35).

 

Na tradição grega, entre os cidadãos ricos, havia o ideal de que entre os amigos tudo era comum. Entre os romanos, existia o sistema de clientela: o cidadão rico favorecia uma pessoa que em troca tomaria o nome de seu patrono, de alguma forma, respeitável. As comunidades cristãs tinham como proposta partilhar os bens com os pobres, o que na realidade era uma tentativa de retomar o sonho de uma sociedade igualitária, presente no Antigo Testamento, no período tribal, por volta de 1200 a 1000 a.C. (Dt 15,4). O sonho de ter tudo em comum sempre esteve presente no coração da humanidade. Para realizar esse sonho é necessário a solidariedade e a partilha do pão nas pequenas coisas do dia-a-dia.

 

A fração do pão. O "partir o pão” no ambiente judaico fazia parte do ritual inicial da refeição em comum. O chefe de família tomava nas mãos um pedaço de pão, dava graças a Deus, partia e distribuía às pessoas que estavam à mesa (SI 127,2). Esta refeição acontecia nas casas (2,46b), diferente dos cultos tradicionais, que eram celebrados no Templo. Jesus, como judeu, fez uma última refeição com os seus discípulos e discípulas (Lc 22,14- 20; 24,30; At 20,7), que passou a ser celebrada como um memorial da prática de Jesus. A refeição fraterna dos cristãos possibilitava aos membros mais pobres ter a sua porção diária de alimento (ICor 11,21). Mais tarde, esta celebração recebeu o nome de Eucaristia, tomando-se assim um momento central na vida da comunidade cristã.

 

Celebrar a eucaristia exige comunhão de fé em Jesus Ressuscitado e solidariedade. Há uma frase muito conhecida que diz: “Enquanto houver uma pessoa passando fome é sinal de que nossas eucaristias não estão sendo verdadeiramente celebradas”. Este é um grande desafio para nós cris- tãos/ãs de hoje. Até que ponto estamos realizando a partilha em nossas comunidades? Qual a nossa contribuição para uma sociedade com mais partilha e menos injustiças?

 

— A oração. O ensinamento da comunidade apostólica, a missão, a comunhão fraterna e a fração do pão eram avaliadas e refeitas na oração. Em Jerusalém, os Onze, algumas mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos eram constantes na oração (1,14). No início a comunidade cristã participava da oração no Templo. No livro dos Atos 2,46a ficamos sabendo que os cristãos eram assíduos na liturgia do Templo, mas também temos a informação de que a comunidade costumava rezar na casa (2,2).

 

Em Atos 4,23-31, a comunidade reza após a libertação de Pedro e João. Uma oração que brota da vida, baseada na Palavra de Deus lida à luz de Jesus. Nessa oração há um momento de louvor a Deus, marca característica das reuniões comunitárias.

 

A oração era um elemento fundamental na vida da comunidade cristã, especialmente nos momentos importantes e de dificuldades (cf. At 1,24; 4,24-30; 6,4; 7,59-60; 8,15; 9,40; 11,5; 12,5.12; 13,3; 16,25; 20,36; 28,8.15). A vida de oração possibilitou maior união, solidariedade e abertura da comunidade para a missão.

 

Não é fácil viver em comunidade. É preciso a força do Espírito, bem como o testemunho e o apoio de outras pessoas ou comunidades que vivem a partilha e a luta por uma sociedade de iguais. Assim cantam as nossas comunidades: "Viver em comunidade exige decisão; ter responsabilidade em tudo que se faz”. Cada qual tem os seus dons e suas qualidades. Todos são igualmente importantes para o crescimento da comunidade. Este é o tema do próximo encontro, no qual refletiremos sobre os diversos serviços à comunidade. Até lá!

 

3º Encontro

 Todos os serviços para a comunidade têm o mesmo valor  At 6,1-7

A palavra de Deus crescia, e o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém (6,7) 

 

 

  1. Preparar o ambiente

— Arrumar o espaço com uma vela acesa, Bíblia e objetos que lembrem os vários serviços existen­tes na comunidade e nos grupos (acolhida, catequese, liturgia, visita, coordenação, convo­cação, limpeza, saúde, pastoral da mulher, do dízimo, da criança e do adolescente etc.).

— Escrever numa cartolina o tema do encontro.

 

  1. Acolhida

Receber as pessoas com água de cheiro e um for­te abraço.

— Dar as boas-vindas e cantar: "O Senhor me cha­mou, me ungiu e me enviou"... Ou outro canto que lembre os serviços à comunidade.

— Partilhar como foi a vivência do gesto concreto proposto no encontro anterior: solidariedade com as pessoas excluídas.

— Concluir esta parte com o canto: “Feliz o povo que ama o Senhor”, ou outro canto que lembre a alegria de servir a Deus e à comunidade.

 

  1. Encontro do dia

— Iniciando o nosso encontro de hoje, vamos ler juntos o tema proposto para a nossa reflexão: todos os serviços à comunidade têm o mesmo valor.

— Oração: observar atentamente todos os símbo­los e fazer uma prece agradecendo a Deus o ser­viço que cada pessoa realiza na comunidade.

— Na comunidade e na sociedade, há diversos ser­viços. Muitas pessoas colaboram para o bom andamento da comunidade. Algumas pessoas são responsáveis pela limpeza, outras pela organiza­ção e preparação da liturgia, há ainda as pessoas que assumem a responsabilidade da administra­ção, promoção de festas e quermesses. Muitas pessoas estão envolvidas na catequese, na pasto­ral da saúde, na pastoral da criança (as pessoas podem lembrar quais os ministérios que existem em sua comunidade ou no seu grupo).

  • O que motiva cada um, cada uma de nós para desempenhar com amor e dedicação o nosso ser­viço à comunidade?
  • Como ajudamos a sociedade com o nosso tra­balho?

 

  1. Situando o texto

"Naqueles dias o número dos discípulos tinha au­mentado” (6,1a). O movimento de Jesus cresce. A nova comunidade, inicialmente só de judeus hebreus, acolhe os helenistas. O grupo dos hebreus é formado por judeus de língua aramaica e de cultura hebraica, fiéis à Lei e ao Templo. Os helenistas são judeus de língua e cultura grega, cria­dos fora da Palestina, mas que voltaram a morar em Je­rusalém. Um grupo profético, crítico em relação à Lei e ao Templo. Com a chegada dos helenistas na comunida­de cristã surgem algumas dificuldades. Nesse novo con­texto, vamos ver como a comunidade se organiza.

 

  1. Leitura do texto

— Cantar um refrão apropriado antes da leitura;

— Ler At 6,1-7 - Leitura feita em voz alta por uma pessoa.

— Reconstruir, em mutirão, o texto. Em seguida, motivar uma pausa para a reflexão pessoal.

Para conversar

  • Quais os problemas que estavam acontecendo na comunidade de Jerusalém?
  • Qual foi a solução?

 

  1. Iluminando a nossa vida

Os apóstolos e a comunidade se reúnem para juntos encontrar solução para um problema concreto. Todas as pessoas da comunidade participam. Ninguém é excluí- do/a. Todos/as são responsáveis pelo bom andamento da vida em comunidade.

  • Que serviços existem em nossa comunidade? Va­mos fazer um levantamento dos grupos de tra­balho que existem e das pessoas que estão assu­mindo.
  • Há alguém que está sobrecarregado/a? Vamos conversar sobre isso.
  • Alguém está sobrecarregado? Quem a gente po­deria convidar para colaborar?

 

    7 . Celebrando a vida

Pistas para a celebração

— Convidar os/as participantes para lembrar nomes de pessoas que servem à comunidade e fazer uma prece em agradecimento pelo serviço que a pes­soa nomeada realiza. Rezar a oração do Pai-nosso ecumênico.

 

  1. Preparar o próximo encontro

— Para a próxima reunião ler o texto de At 10,44-48 e, quem puder, o subsídio em preparação ao 4o encontro. Quem não souber ler, peça ajuda a uma pessoa amiga.

— Distribuir as tarefas para a próxima reunião.

—, Combinar a data e o local da próxima reunião do grupo.

 

  1. Gesto concreto

— Nesta semana ajudar um outro grupo de pasto­ral da comunidade. Assumir um serviço diferen­te do que você está habituado/a a fazer.

— Bênção final. Concluir o encontro com o canto: Quem disse que não somos nada, ou outro cântico que a comunidade julgar mais apropriado.

 

Situando o texto

Vamos relembrar alguns aspectos da história da co­munidade de Jerusalém. Atos 4,32-5,16 narra a expan­são e o fortalecimento da comunidade dos judeus cris­tãos. O confronto com as autoridades do Templo obrigou as comunidades cristãs a definir sua própria identidade. Mesmo correndo risco de vida, a comunidade continuou pregando a Palavra (4,31). Ela fincou suas próprias raízes, buscando viver a união (2,46), a partilha dos bens (4,32), o testemunho e o anúncio da ressurreição do Senhor (4,33). Todos tinham grande aceitação (4,33).

 

O sinédrio, após a intervenção de Gamaliel, dá um momento de trégua às comunidades cristãs. Gamaliel era um rabino muito importante no século I d.C. Ele faz al­gumas considerações sobre o movimento de Jesus e con­clui dizendo: “Deixai de ocupar-vos com esses homens. Soltai-os. Pois, se o seu intento ou sua obra provém dos homens, destruir-se-á por si mesma; se vem de Deus, porém, não podereis destruí-los. E não aconteça que vos encontreis movendo guerra a Deus. Concordaram, en­tão, com ele” (5,38-39). Gozando de paz, as comunida­des cristãs de Jerusalém conseguiram se organizar inter­namente e também se expandir.

 

Jerusalém, conforme o livro dos Atos dos Apóstolos, tomou-se o centro para os primeiros seguidores e seguidoras de Jesus. A proposta cristã vai sendo aceita entre os habitantes da cidade de Jerusalém. Pois bem, aqui te­mos algumas informações sobre esta cidade. Na década de 40, Jerusalém tinha cerca de 60 mil habitantes, dos quais 20% falavam o grego. A cidade tinha duas partes: a cidade baixa e a cidade alta. A nobreza sacerdotal e leiga morava na cidade alta. Os pobres: levitas, pequenos co­merciantes, artesãos, trabalhadores manuais e os sacer­dotes pobres moravam na cidade baixa. Os miseráveis: escravos, mendigos, as pessoas que tinham profissões desprezadas, como prostitutas, marinheiros, pastores, vendedores ambulantes, curtidores de pele, eram obri­gados a viver na periferia da cidade.

 

Em Jerusalém havia sinagogas separadas para os hebreus e para os helenistas. O Templo era o mesmo, mas existia o pátio reservado aos helenistas - os judeus de segunda categoria. Os hebreus eram filhos de pais ju­deus, nascidos e criados na Palestina. Os helenistas eram judeus que foram criados fora da Palestina sob a in­fluência da cultura grega. Havia também sinagogas e cen­tros comunitários especialmente para acolher os helenistas que viviam fora de Jerusalém. A maioria dos habitantes de Jerusalém falava e entendia apenas o aramaico, uma língua falada do povo judeu. Outros, somente o grego. Os judeus religiosos também entendiam o hebraico falado na liturgia. Os helenistas falavam so­mente o grego (6,5.9) e moravam na cidade baixa. O cenáculo (1,13), lugar de culto para os cristãos que fala­vam aramaico, encontrava-se na cidade alta.

 

A primeira comunidade cristã de Jerusalém ini­cialmente era formada só por hebreus, pessoas que con­tinuavam fiéis à Lei, às tradições hebraicas e ao Templo. Depois vieram os helenistas. Aí começa um novo mo­mento de crise. Os cristãos helenistas protestam contra os cristãos hebreus porque as viúvas helenistas não esta­vam sendo atendidas no serviço à mesa (6,1). Este era um problema grave, pois não se tratava de viúvas em geral, mas das viúvas helenistas. Este fato questionou a organização e a vida das comunidades cristãs.

 

Afinal, a comunidade cristã era aberta a todos e to­das ou era apenas mais um grupo judaico? Aonde está mesmo o conflito? Na falta de atendimento aos pobres ou na discriminação de um grupo que ainda era considerado impuro? Vejamos como este conflito será resolvido...

 

 

Comentando o texto

Pela primeira vez, em Atos, os/as seguidores/as de Jesus são chamados de discípulos/as (6,1). E esse grupo aumentava sempre mais. É uma comunidade muito diversificada, composta por judeus, helenistas e gregos. O primeiro conflito que surge é que as viúvas dos helenistas não estão sendo bem atendidas (6,1b).

 

A comunidade cristã de Jerusalém tinha sua própria organização para o atendimento aos pobres. O serviço à mesa era muito bem organizado. Servir à mesa (6,2; 16,34; Lc 10,40; 12,37) era um ministério que incluía a preparação de uma refeição, compra e distribuição de alimentos, servir durante a refeição comunitária e fazer a limpeza depois. E não era só isso. O serviço à mesa incluía a administração das distribuições de refeições, alimentos e esmolas.

 

Na comunidade de Jerusalém há uma denúncia: o serviço à mesa não está sendo bem administrado. A ad­ministração da comunidade estava nas mãos dos Doze (4,35.37). A resolução não deve ter sido tão simples, como o livro nos apresenta. Muito mais do que o atendimento às viúvas o que está em jogo é a discriminação do grupo dos hebreus em relação ao grupo dos helenistas.

 

Assim novos ministros são escolhidos para o serviço à mesa. A iniciativa para resolver o problema parte dos Doze. São eles que convocam a assembleia dos discípulos/as e expõem para todos/as o problema. Eles reservam para si o direito de pregar a Palavra (6,2) e também o de permanecer assíduos na oração (6,4).

 

O grupo dos Doze sugere a eleição de Sete homens para realizarem o serviço à mesa. O grupo apontou as qualidades necessárias: homens de boa fama, cheios do Espírito Santo e de sabedoria (6,3), mas quem indicou os nomes concretos foi a comunidade. Por que só ho­mens? Com certeza também havia mulheres na comuni­dade com essas qualidades.

 

As queixas dos helenistas foram ouvidas. Isso mos­tra que, apesar das falhas e das discriminações existen­tes, existe abertura e sensibilidade na comunidade para atender às necessidades dos pobres. Sete homens são escolhidos para o atendimento aos pobres. Isso indica que eles iriam precisar ter uma caixa de recursos pró­pria, bem como reuniões separadas.

 

Em Jerusalém havia sinagogas só para os helenistas. É possível que eles também estivessem formando um grupo de cristãos separado dos hebreus. Os Sete, esco­lhidos para o serviço à mesa, não aparecem realizando esse serviço, mas sim atuando na pregação da Palavra de Deus (7-8). Na realidade eles se tomam os dirigentes dos cristãos de língua grega.

 

Uma igreja helenista, mas com reconhecimento apos­tólico. Os apóstolos impõem as mãos sobre eles (6,6). O gesto de impor as mãos indica identificação e comunhão de ideais (Nm 27,16-23; Dt 34,9). Os Sete são escolhidos para exercer o serviço à mesa. O ministério surge em fun­ção das necessidades concretas da comunidade. A comu­nidade dos helenistas se desenvolve, mas com o reconhe­cimento da comunidade dirigida pelos apóstolos.

 

Assim temos duas comunidades bem distintas. A comunidade dos hebreus, apegados à cultura judaica, e a comunidade dos helenistas, sob a liderança dos Sete. O grupo dos helenistas tem uma postura crítica contra a Lei e o Templo. Após o testemunho de Estêvão e sua morte por apedrejamento, esse grupo é perseguido e expulso de Jerusalém. Dessa forma, o anúncio da boa nova che­ga a outras regiões. Entre os samaritanos e gregos mui­tos acolhem a mensagem cristã. Surgem novas comuni­dades entre os samaritanos e gregos, que mais tarde serão reconhecidas pela igreja de Jerusalém.

 

O texto do nosso encontro termina com uma peque­na síntese: "A palavra de Deus crescia, e o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém; uma multidão de sacerdotes obedecia à fé" (6,7). Supe­rada a crise, a igreja sente-se mais fortalecida.

 

Aprofundando: ministérios ou serviços?

Viver em comunidade exige participação nos diver­sos serviços, como, por exemplo: evangelização, catequese, liturgia, coordenação, limpeza da igreja ou do salão, canto, economia, governo, atendimento aos neces­sitados, visitas aos doentes... Todos os serviços são importantes para o crescimento da comunidade. Para que todas as necessidades da comunidade sejam atendidas é necessário organização e coordenação. É como diz o can­to: “Igreja é povo que se organizai”.

 

O serviço à comunidade nós chamamos de ministé­rio. Como nasceram os ministérios? É simples, foram criados em vista das necessidades concretas de cada co­munidade. A palavra usada para falar de serviço à comu­nidade era diakonia, um termo grego que traduzido para o latim é ministerium. Em português significa serviço, cargo, função.

 

O livro dos Atos dos Apóstolos, escrito entre os anos 80 e 90, apresenta uma igreja um pouco mais organiza­da em relação às primeiras comunidades. Com o cresci­mento e a expansão da comunidade cristã surgem novas necessidades. Eis aqui algumas funções específicas:

 

1- Os Doze: o número doze na tradição hebraica está ligado aos doze patriarcas e às doze tribos de Israel. O novo povo de Deus se forma a partir de doze testemunhas. Quem fazia parte do gru­po dos doze? É o grupo de seguidores e seguidoras que se formou na Galiléia: Simão, a quem deu o nome de Pedro; Tiago e João, filhos de Zebedeu, aos quais deu nome de Boanerges; André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes” (Mc 3,16-19). Este último foi substi­tuído por Matias (1,26). O grupo dos Doze é men­cionado como o fundamento da igreja, por isso era necessário manter esse número. Porém, após a morte de Tiago, filho de Zebedeu (12,2), não houve substituição. Isso mostra que os Doze não era uma instituição perpétua, pois o critério para fazer parte desse grupo era ter caminhado com Jesus desde o princípio, isso só era possível para a primeira geração de seguidores/as palestinenses. É bom lembrar que algumas mulheres estiveram com Jesus desde o início (Lc 8,1-4; At 1,14). Elas também poderiam estar incluídas en­tre os Doze, mas no livro dos Atos elas não rece­beram esse título, dado exclusivamente ao grupo da Galiléia, àqueles que testemunharam a vida, a morte e a ressurreição de Jesus” (4,33).

 

2 - Sete. Este número é uma referência às nações estrangeiras e também à ideia de plenitude e per­feição. O grupo dos Sete foi escolhido para exer­cer a diaconia, o serviço à comunidade. As pes­soas escolhidas deveríam preencher os seguintes critérios: "homens de boa fama, repletos do Es­pírito Santo e de sabedoria” (6,3). Essas qualida­des são necessárias à pregação e à liderança da comunidade, e não para o serviço à mesa. As pes­soas escolhidas são: Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Tímon, Pármenas e Nicolau de Antioquia (6,5). Todos os nomes são gregos, en­tre eles Nicolau é um prosélito, e os outros ju­deus helenistas. A maneira de agir desse grupo, contra o radicalismo da Lei e do Templo, provo­ca a perseguição por parte da sinagoga dos helenistas (6,9), culminando com a morte de Es­têvão e a expulsão dos helenistas de Jerusalém (7,58; 8,2). Os sete se destacam pelo anúncio da Palavra (8,4). Nasce uma nova comunidade cris­tã em Antioquia (11,20), que se tomará o centro da igreja helenista. Uma igreja que envia missio­nários para o anúncio da boa nova. 

 

3. Apóstolos: no grego a palavra apóstolo significa enviado. A igreja de Jerusalém envia Barnabé para Antioquia (11,22); bem como Judas e Silas (15,27). A igreja de Antioquia, por sua vez, envia Barnabé e Saulo (Paulo) às nações estrangeiras (13,2-3). O livro dos Atos dos Apóstolos registra um pequeno número de apóstolos: os Doze, Pau­lo e Barnabé (14,14); outros livros do Novo Tes­tamento citam ainda Tiago (G1 1,19), Andrônico e Júnia (Rm 16,7), porém, muitos ficam no ano­nimato. Os apóstolos têm a missão de anunciar a boa nova e criar novas comunidades. Cumpri­da a missão, eles seguem em frente. Os contatos com as comunidades são feitos por meio de car­tas, enviados e visitas ocasionais. Os apóstolos escolhem anciãos para dirigir e organizar cada nova comunidade.

 

4. Anciãos: (At 11,30; 14,23, Tg 5,14). A primeira vez que se usa esse título para falar de um con­selho de Anciãos é na comunidade cristã de Antioquia (11,30). Esta é uma instituição que, vem da sinagoga. As comunidades cristãs, co­meçando pelo grupo de Tiago, formado basica­mente por hebreus, adotaram esse modelo de organização. Os anciãos tinham a função de orientar a comunidade no estudo da Lei, nas orientações pastorais e morais (15,6). O conse­lho de anciãos existia tanto na comunidade hebraica de Jerusalém, como nas comunidades helenistas de Jerusalém, de Antioquia e mais tar­de nas comunidades fundadas por Paulo. Os anciãos administravam os bens da comunidade (11,29-30). No livro dos Atos 21,18-19 os após­tolos, junto com os anciãos, recebem o relató­rio de Paulo sobre a missão aos gentios. Junto com os anciãos, os mestres e doutores faziam parte do governo da comunidade.

 

5. Mestres e doutores: eles eram responsáveis pelo ensino sistemático, fundamentado nas Escritu­ras. Na sinagoga era costume haver os mestres, eles ocupavam uma função muito importante, pois na visão dos rabinos o ensino é uma função sagrada, uma das funções que aproxima quem ensina do próprio Deus. Os mestres e doutores faziam parte da igreja de Antioquia (13,1), afinal os doutores eram convertidos da sinagoga dos helenistas. Entre eles encontramos Saulo, forma­do na escola de Gamaliel (22,3) e Apoio, versado nas Escrituras (18,24). Os mestres e doutores, em geral, são citados ao lado dos profetas e profetisas (13,1)

 

6. Profetas e profetisas: o que caracteriza essas pessoas é o falar em Espírito. A existência de pro­fetas e profetisas é sinal da presença do Espírito (11,27-28; 13,1; 15,32; 21,9). Eles e elas lêem, in­terpretam e pregam a Palavra de Deus por meio de oráculos ou previsões futuras. No livro dos Atos dos Apóstolos encontramos dois oráculos. O primeiro é numa assembléia litúrgica da co­munidade de Antioquia (13,2) e o segundo é em Cesaréia: Ágabo anuncia a prisão de Paulo (21,11). Em outro momento Ágabo anuncia a si­tuação de fome e miséria que abaterá sobre a igre­ja de Jerusalém (11,28). Nas reuniões litúrgicas era função dos profetas e profetisas anunciar a Palavra.

 

7. Diáconos e diaconisas: é uma função que apa­rece na igreja no fim do primeiro século (lTm 3,8-13). Os diáconos e diaconisas, juntamente com os pastores, presbíteros, epíscopos, tinham a preocupação com a animação das igrejas lo­cais. O termo diácono designa aquele que serve à mesa. Eram os encarregados de servir os pobres e os doentes. Diácono, mais que uma função es­pecífica, eram os coordenadores, os guardiões da comunidade (20,28). O grupo dos Sete não rece­be, nos Atos dos Apóstolos, o título de diáconos. A diaconia era um ministério exercido por mu­lheres e homens. A carta aos romanos menciona Febe, “nossa irmã e diaconisa na igreja de Cencréia" (Rm 16,1).

 

Além dos ministérios destacados, é possível encon­trar nas igrejas primitivas muitos outros, por exemplo: o ministério da coleta, da oração, da correção fraterna. Além desses serviços, responsabilidade de todos, havia também os colaboradores, os guias e líderes; pessoas que exerciam a acolhida, como é o caso de Rode (12,13), as donas de casa, pessoas que colocavam suas casas à dis­posição da comunidade (12,12; 16,15).

 

O ministério é serviço à comunidade, é dom do Es­pírito. Os diversos serviços eram exercidos por mulheres e homens. Os diferentes ministérios nasceram para res­ponder às necessidades das comunidades. Este critério continua válido para os nossos dias. A criação dos mi­nistérios não é de cima para baixo, mas nasce a partir das necessidades das comunidades, dos seus problemas e conflitos cotidianos. Cada comunidade se organiza de acordo com a sua realidade. Os diversos serviços exis­tem para criar, dinamizar e sustentar a vida da comuni­dade.

 

Todos os ministérios são importantes. Eles estão em função do crescimento e da renovação da comunidade. Como vimos em Atos 6,1 -6, os Sete foram escolhidos para atender às necessidades da comunidade dos helenistas.

 

Portanto, eles nascem do chão da vida das comunida­des, não são universais nem para a vida toda. O único ministério universal é o do amor (1 Cor 13), que faz supe­rar as barreiras entre as pessoas de diferentes nações, classes sociais, sexo, costumes e culturas (G1 3,28).

 

À medida que as primeiras comunidades cristãs cres­cem, elas são obrigadas a rever seus posicionamentos e, cada vez mais, incluir a todos/as. No próximo encontro, Cornélio, centurião romano, acolhe a mensagem cristã. Mais uma vez a comunidade é chamada a superar a bar­reira do puro e impuro.

 

Curiosidade

Comunhão de mesa: “Todos vão comer no mesmo prato”

Judeu e não-judeu juntos à mesma mesa era impensável. Isso significava contaminar-se, uma trans­gressão gravíssima à Lei. Essa repugnância existia tanto entre os judeus na Palestina, como entre os que viviam em outras nações. Aceitar os não-judeus à mesma mesa era o mesmo que aproximar-se deles, comungar do mes­mo modo de vida... Isso colocava em risco a identidade judaica.

 

Nas comunidades cristãs, todos - mulheres, homens, estrangeiros, senhor e escravos - eram convidados a se sentarem à mesma mesa, partilhar do mesmo pão e co­mungar os mesmos ideais. Esse era o ideal, mas na práti­ca do dia-a-dia ainda existia muitos preconceitos dos ju­deus em relação aos estrangeiros. No livro dos Atos, o autor insiste em mostrar que Pedro e Paulo praticaram a comunhão de mesa (11,3; 16,14-15.34; 18,6b; 27,33-38) para deixar claro que na comunidade cristã não devia haver separação entre as pessoas.

 

 

4º encontro 

O Evangelho é para todos e todas At 10,44-48

O Espírito desceu sobre todos os que ouviram a Palavra (10,44)

     

  1- Preparar o ambiente

vela, Bíblia e símbolos religiosos que lembrem ás várias manifestações religiosas tanto da tradi­ção católica como de outras tradições (judeu, afro, indígena, pentecostais etc.) e fotos de pes­soas ou grupos excluídos, por exemplo: morador de rua, mendigos, mulheres prostituídas etc.).

— Frase motivadora: “Todos comerão no mesmo prato".

 

  1. Acolhida

O/a coordenador/a acolhe as pessoas e convida o grupo a cantar: “Quando o dia da paz renascer”; ou outro canto que fale da união entre as pessoas.

— Partilhar o gesto concreto do encontro anterior: como foi a experiência de ajudar em outro servi­ço a comunidade?

 

  1. Motivando a conversa

— Vamos ler, em voz alta, o tema do encontro de hoje: o Evangelho é para todos!

— Oração: Em silêncio, olhar os símbolos que estão expostos no centro e tentar perceber: quais den­tre eles são significativos para a minha vida? Ten­tar expressar, em poucas palavras, qual ou quais são os símbolos que expressam a minha fé? Quais os símbolos ou imagens que me incomodam?

— Concluir com o canto Romaria, ou um canto que expresse a devoção mais forte na comunidade.

— A mensagem cristã chega a diferentes grupos, pessoas que não pertencem à tradição judaica. E assim, a comunidade formada por judeus cristãos percebe que a mensagem do novo reino é para todos. Deus não exclui ninguém. Vamos nesse momento fazer uma pequena experiência: tirar os sapatos, as sandálias ou os chinelos e colocar no centro. Observar por alguns instan­tes, e em seguida procurar responder: Como eu me sentiria se usasse o calçado de outra pessoa?

— Após a partilha, concluir dizendo: Impor a nossa cultura, nossos valores, nossa condição de vida e o nosso jeito de pensar e viver é querer que o outro entre em nosso sapato. Se for muito aper­tado, vai incomodar o tempo todo e impedir que o outro seja livre. E se for grande demais dificul­ta a caminhada.

 

  1. Situando o texto

Acolher os não-judeus e partilhar da mesma mesa é um grande desafio para os judeus cristãos, como Pedro e Tiago. Comélio é um centurião romano e homem temente a Deus, ou seja, ele é um gentio que nutre simpatia para com a religião judaica, mas não aceita a circuncisão e as obrigações impostas pela Lei de Moisés. Portanto, é con­siderado um impuro.

Alguns reprovam o fato de Pedro ter entrado na casa de pessoas impuras e ter feito a refeição com eles. Aos poucos, na convivência, os judeus cristãos foram enten­dendo que Deus não faz distinção de pessoas. É mais um passo de algumas comunidades no anúncio da boa nova. Vamos ver como aconteceu esse encontro!

 

  1. Leitura do texto

— Cantar um refrão antes da leitura do texto.

— Ler At 10,44-48.

— Reler o texto. Cada pessoa poderá ler uma frase ou versículo do texto. Fazer um espaço de silên­cio para deixar a palavra de Deus cair na terra do seu coração.

 

Para conversar

  • Por que Pedro e o seu grupo não queriam ir ao encontro dos não-judeus?
  • Para quem e como se manifesta a presença do Espírito Santo?

 

  1. Iluminando a nossa vida

Em Jerusalém, o grupo de hebreus cristãos conti­nua apegado às leis e tradições judaicas. Portanto, não consegue aceitar em seu meio pessoas que, de acordo com a Lei, são consideradas impuras, como Comélio e os membros de sua casa. O fato de Pedro, uma autorida­de apostólica importante para as comunidades, ir ao en­contro dessas pessoas, quer reforçar a necessidade de a comunidade retomar a prática de Jesus, que rompe com as barreiras do puro e impuro. É nesta abertura que se manifesta a presença do Espírito.

  • E hoje, o que nos impede de ir ao encontro das pessoas que são de outra religião?
  • Quais as barreiras e preconceitos que nossa co­munidade precisa superar para ir ao encontro das pessoas excluídas de nosso convívio?

 

  1. Celebrando a vida

Pistas para a celebração

— Convidamos cada um, cada uma para lembrar nomes de pessoas, nossos/as amigos/as ou não, que estão afastados de nossa convivência na co­munidade, no bairro.

— A verdadeira religião é a que nos aproxima de Deus e dos irmãos e irmãs. Vamos novamente fazer memória das pessoas excluídas em nossa sociedade, rezar por elas e pedir a Deus que nos ajude a superar os preconceitos que nos impe­dem de tratá-las como irmãs.

— Pronunciar o nome dos grupos excluídos. Inter­calar com a oração: “Senhor, dai-lhes a vossa paz!

— No final, rezar a oração do Pai-nosso ecumênico.

 

  1. Preparar o próximo encontro

— Para a próxima reunião ler At 15,1-29 e, quem puder, o subsídio em preparação ao 5o encontro. Quem não souber ler, já sabe, procure alguém que possa ajudar, fazendo a leitura em voz alta.

— Distribuir as tarefas para a próxima reunião.

— Combinar a data e o local da próxima reunião do grupo.

 

  1. Gesto concreto

— Visitar uma pessoa que está afastada de nossa comunidade ou que rompeu, por um motivo ou outro, a amizade conosco.

— Encerrar com a bênção: colocar a mão na cabe­ça um/a do outro e da outra dizendo: “Que Deus lhe dê a sua graça e a sua bênção”.

 

Situando o texto

A boa nova chega a outros povos... O grupo dos helenistas assume uma atitude crítica em relação à Lei e ao Templo, por isso é perseguido. Estêvão é morto por apedrejamento e todo o seu grupo é expulso de Jerusa­lém. Eles fogem para a Judéia e a Samaria. E por onde passam anunciam a boa nova. O movimento de Jesus não é mais formado só por judeus. Outros grupos ade­rem à proposta de Jesus, entre eles encontramos judeus helenistas, samaritanos, asiáticos, gregos e romanos. Com a chegada de não-judeus, aparece um novo problema: os estrangeiros que acolhem a mensagem cristã devem ou não seguir as tradições, os costumes judaicos e assumir a Lei de Moisés?

 

Os cristãos de tradição judaica continuavam fiéis à Lei de Moisés. Um sistema de leis amplamente seguido era o do puro e impuro. De acordo com as leis desse sis­tema não era permitido nenhum contato com pessoas consideradas impuras. Acolher um estrangeiro na pró­pria casa ou entrar na casa de pessoas impuras era terminantemente proibido. Comer com um estrangeiro, nem pensar.

 

A lei do puro e impuro separa e divide as pessoas. Mas como nasceu essa tradição? Para responder a essa questão é importante fazer um retomo à história do povo judeu. Vamos voltar ao exílio da Babilônia, em 587 a.C. (S1 137). Os judeus arrancados de sua pátria, sem Tem­plo, sem monarquia, no meio dos estrangeiros, come­çaram a acentuar seus costumes e suas tradições para preservar sua identidade como povo. Renasceu o nacio­nalismo do povo judeu, que se considerava o povo eleito, os verdadeiros herdeiros das promessas de Deus. Eles fortaleceram a antiga lei do sábado e da circuncisão. Mas qual o significado dessas leis? A lei do sábado era um dia para a comunidade descansar e celebrar a memória de sua caminhada. A circuncisão era uma medida de higie­ne, ainda hoje mantida em alguns países do Oriente. Ori­ginalmente, essas leis eram para defender a vida.

 

Com o tempo cumprir ou não cumprir essas leis tor- nou-se um dos critérios para determinar quem era puro ou impuro. No pós-exílio, por volta de 450 a.C., os sacer­dotes e escribas reorganizaram a vida do povo em tomo da Lei e do Templo (Esd 7,1-26). A Lei passou a controlar todos os aspectos da vida. A Lei da pureza impedia o casamento com estrangeiros para não contaminar a raça (Esd 9-10), pois os judeus se consideravam o único povo escolhido por Deus, os puros. E havia outro aspecto: a lei da pureza definia quem estava mais perto ou mais distante de Deus. A pessoa impura não podia participar do culto no Templo (Lv 21,16-24; 22,3). Para se purificar, era necessário que a pessoa oferecesse sacrifícios e ofer­tas ao Templo. Os sacrifícios custavam caro e muitas pessoas não conseguiam estar em dia com as exigências da Lei.

 

Quem mais sofria com essas leis eram as mulheres. Quase sempre estavam endividadas com o Templo. A menstruação, as relações sexuais e até mesmo a mater­nidade deixavam a mulher impura (Lv 15,19-30). As pes­soas pobres, mulheres, estrangeiros, deficientes físicos, eram consideradas impuras. Ficavam à margem da so­ciedade, quase sem participação alguma, vivendo na mi­séria e ainda por cima acreditando serem amaldiçoados por Deus.

 

Jesus, com sua prática de acolher os pobres, oprimi­dos e deserdados da sociedade, foi rompendo com a lei do puro e impuro. Ele colocou a vida humana acima da Lei. E o seu Espírito, presente na caminhada dos primei­ros cristãos, ajudou a provocar mudanças. As comuni­dades cristãs foram, pouco a pouco, libertando-se das separações e opressões criadas pelas leis da pureza.

 

O livro dos Atos dos Apóstolos mostra que a comu­nidade cristã teve sérias dificuldades para superar as leis do puro e impuro. Este era um problema central no con­flito entre os cristãos judeus e os não-judeus. Era neces­sário superar as divisões que existiam entre judeus e es­trangeiros. Em Jesus todos somos irmãos e irmãs. É um momento decisivo para a vida das comunidades cristãs. Vejamos alguns passos desse processo.

 

Comentando o texto

O capítulo 10 do livro dos Atos dos Apóstolos apre­senta a conversão de Comélio. Este fato representa a chegada de estrangeiros à comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus. Comélio é um centurião romano - comandante de um grupo de cem soldados - homem pie­doso e temente a Deus (10,1-8). Ele, um cidadão roma­no, representa as forças romanas em Cesaréia.

 

Após a apresentação de Comélio e a informação de que Pedro está hospedado na casa de um curtidor de peles (10,6), o autor fala da visão de Pedro (10,9-16), nesta vi­são ele se recusa a comer os alimentos proibidos pela Lei (Lv 11,1-47; Dt 14,3-20). Diante da rejeição de Pedro, o próprio Deus diz: “Não chame de impuro o que Deus purificou” (10,15). Tudo é dom de Deus. Nada há de im­puro (Mc 7,17-23).

 

Pedro é convidado a ir à casa de Comélio para ser ouvido (10,17-23). Ele, sob inspiração do Espírito, acei­ta (10,19). Nos w. 24-33 acontece o encontro entre Pedro e Comélio, que recebe Pedro como um mensageiro divi­no (10,25.33). E Pedro, de maneira nada simpática, lem­bra a lei da pureza: “Vocês sabem que é proibido para um judeu relacionar-se com um estrangeiro ou entrar na casa dele. Deus, porém, mostrou-me que não se deve di­zer que algum homem é profano ou impuro" (10,28).

 

Pedro, representando a comunidade de Jerusalém, aos poucos percebe que a mensagem de Jesus é para to­dos e todas. Ele anuncia a vida e os ensinamentos de Jesus (10,34-43). Mais uma vez o Espírito se faz presen­te. Desce sobre todas as pessoas que ouviam a Palavra (10,44). Acontece um novo pentecostes. A convivência entre judeus cristãos e gentios é legitimada pela presen­ça do Espírito.

 

Os judeus que acompanham Pedro ficam totalmen­te surpresos, porque "o dom do Espírito era derramado até sobre as nações pagãs” (10,45). Deus não exclui nin­guém do seu projeto. Pedro percebe que não é possível negar o batismo àqueles que tinham recebido o Espírito Santo. O batismo na igreja primitiva é sinal de compro­misso e de pertença à comunidade cristã. Batizar os pa­gãos significa admiti-los à convivência comunitária em todos os sentidos. Dessa forma, a comunidade cristã se abre para os outros povos e também dá legitimidade à ação missionária de Paulo.

 

Que significado teve a conversão de Cornélio para as comunidades cristãs de Jerusalém? Leva a comunida­de a tomar consciência de que a mensagem cristã não é restrita somente aos judeus, mas é para todos os povos. Por isso é necessário superar as leis que excluem os es­trangeiros e aceitá-los na comunidade. "Em Cristo não há judeu, nem grego, nem escravo, nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus" (G1 3,28). É preciso superar o preconceito que impede que um judeu coma com um pagão.

 

Aprofundando: a diversidade das primeiras comunidades cristãs

Pouco sabemos sobre a vida das primeiras comuni­dades cristãs. Na história narrada no livro dos Atos, elas percorrem o seguinte caminho: nasceram com um gru­po de galileus que, após a morte de Jesus, foram para Jerusalém (1,4.8-11). Elas começaram a crescer, alguns grupos enfrentaram perseguição e expulsão, levando as­sim o anúncio da Palavra para fora da cidade de Jerusa­lém (8,1-4). Novas comunidades foram surgindo em Antioquia (11,19-21), Alexandria, Ásia Menor e Europa.

 

Vamos ver algumas informações sobre os primeiros grupos de seguidores e seguidoras de Jesus:

 

— Galileus: Jesus exerceu seu ministério na Galiléia, ao seu redor foi se formando um grupo de seguidores e seguidoras, mulheres e homens que acolheram as suas propostas. Após a morte de Jesus, seus seguidores e seguidoras se disper­saram e formaram várias comunidades. Alguns grupos foram para o interior da Galiléia e da Síria. Em Marcos e Mateus, a comunidade cristã começa na Galiléia (Mc 14,28; Mt 28,7). Mas ou­tros grupos de galileus (1,12-14) foram para Je­rusalém. A pregação dos galileus em Jerusalém converteu hebreus e helenistas. Pois bem, vamos ver quem fazia parte desses grupos:

 

1) Hebreus: formado por judeus cristãos de língua aramaica e de cultura tradicional hebraica. Co­munidades que ainda eram muito apegadas à tra­dição da Palestina e à Lei de Moisés (21,20). Para eles qualquer ataque ao Templo ou à Lei era vis­to como infidelidade. Eles tinham uma perspec- tiva bastante judaica do Messias, acreditavam na vinda gloriosa de Jesus para restaurar Israel. De acordo com Atos dos Apóstolos, até o ano 44 os Doze lideravam essas comunidades em Jerusa­lém (1,14.21-22; 6,2). Depois a liderança passou para Tiago, que não é apresentado como apósto­lo, mas como irmão do Senhor.

 

2) Helenistas: Judeus de língua e cultura grega, porém, muitos falavam também o aramaico. Em Jerusalém eles tinham suas comunidades sepa­radas e também seus líderes: o grupo dos Sete. Esse grupo adotou uma postura crítica e proféti­ca em relação à Lei e ao Templo (7,1-53). Os helenistas foram perseguidos e expulsos de Jeru­salém. Paulo também perseguiu os helenistas cristãos em Jerusalém (9,1-31; G11,13.23). A per­seguição forçou os helenistas a emigrar, assim a boa nova foi proclamada para além das frontei­ras da Judéia (6-8,3). Eles fundaram a igreja de Antioquia (11,19-20). Lúcio de Cirene e Bamabé de Chipre são citados como profetas e doutores em Antioquia (13,1). Paulo de Tarso, por meio do testemunho dos cristãos, faz a experiência do Ressuscitado e torna-se apóstolo (G1 1,16-18). Passa a fazer parte do grupo dos helenistas.

 

Além desses grupos havia outros, como, por exem­plo, o grupo de Alexandria, representado por Apoio (18,24- 28; ICor 1,12; 3,4-11); o grupo de Éfeso, com a presença de Áquila e Prisca e um grupo de discípulos de João Batis­ta; o grupo de Paulo e, mais tarde, os seguidores da tradi­ção do Discípulo Amado e o grupo do apocalipse.

 

Como podemos verificar, entre as comunidades cris-/ tãs existia uma grande diversidade, tendências e doutri­nas diferentes. A convivência não era fácil. As dificulda­des externas e internas eram muitas. O problema de acei­tar à mesa os não-judeus foi muito sério. Para resolver esta questão foi convocada uma assembléia em Jerusa­lém. O objetivo dessa assembléia era manter a unidade e ajudar a comunidade cristã a romper as barreiras do pre­conceito religioso: admitir todos à mesa, comendo no mesmo prato. O desafio continua ainda hoje. Vamos lá! Queremos buscar luz na Palavra de Deus para derrubar os muros que separam as pessoas.

 

Curiosidade

 

Prosélito e Temente a Deus

Conforme o livro dos Atos dos Apóstolos muitos prosélitos (2,11; 6,5; 13,43), tementes a Deus (10,22; 13,16) e adoradores de Deus (16,14; 18,7) acolheram a boa nova. O termo prosélito se aplica unicamente ao estrangeiro que aderia totalmente ao judaísmo. O prosélito perdia sua ci­dadania e se tomava membro da comunidade judaica.

 

Os tementes a Deus era a designação dos estrangeiros que aceitavam a religião judaica, mas sem a circuncisão e a observância total da lei. Os prosélitos amavam a reli­gião judaica e suas instituições e, ao mesmo tempo, sentiam-se discriminados e rejeitados pelos judeus. Os ju­deus não recebiam os prosélitos em sua casa, muito menos comiam com eles à mesma mesa. O Templo também era outro lugar de discriminação: havia o pátio reservado aos gentios. A comunidade cristã suprime essas barreiras: na comunidade que se forma a partir da casa, todos e todas podem participar.

 

 

QUINTO ENCONTRO

 

TEMA: Tomar decisão: missão da comunidade!

PRINCIPAIS PERSONAGENS: Pedro, Tiago, Paulo, Barnabé, apóstolos, anciãos e ex-membros do partido dos fariseus.

TEXTO: At 15,1-29.

PALAVRAS-CHAVE: circuncisão, Lei de Moisés, comum acordo.

PERSPECTIVA: Acreditar que a vida está acima da Lei.

 

Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não impor sobre vocês nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis (15,28).

 

Preparar o ambiente

Arrumar o local com uma vela acesa, Bíblia aberta e colocar numa cartolina o tema do encontro. Colocar no centro, na mesa ou no altar, de maneira desorganizada, um vaso de flores, uma toalha, caderno, livros (outros objetos que a comunidade tiver à disposição).

 

Acolhida

O/a coordenador/a acolhe a todos e todas com alegria e convida-os para cantar: "Povos todos, toda gente" (CF-2000) ou outro canto que fale do respeito entre as pessoas.

Partilhar como foi a visita ou o reencontro com a pessoa que estava afastada do convívio, em nível pessoal ou comunitário.

 

Oração: em silêncio, cada um, cada uma, faça uma prece agradecendo pela presença dos amigos e amigas em sua vida. Agradeça pela possibilidade que você tem de dialogar, de ir ao encontro das pessoas. Ao mesmo tempo, renove o seu pedido ao Espírito de Deus, que Ele lhe dê forças para continuar aberto/a para saber ouvir e fazer espaços para todos e todas participarem. Encerrar esse momento com uma prece comunitária (cada pessoa pode escolher uma invocação apropriada).

 

Encontro do dia

Primeiro passo: O/a coordenador/a do encontro chame a atenção das pessoas para olharem como a mesa está amimada e pergunta: Estamos contentes de vendo as coisas como estão?  Em seguida pedir para algumas pessoas arrumarem os objetos que estão sobre a mesa. Terminada a arrumação, dizer: Agora melhorou? Alguém gostaria de arrumar de outra forma? Quem quiser mudar algum objeto de posição sinta-se à vontade.

Segando passo: Como eu me senti arrumando a mesa? E qual foi o meu sentimento quando outras pessoas organizaram de maneira diferente? Eu colaborei para melhorar ou apenas fiquei observando? (Deixar as pessoas falarem dos seus sentimentos.)

Terceiro passo: E o que esse exercício nos diz sobre nossa participação na comunidade?

 

  1. Situando o texto

Os judeus cristãos, que ainda estavam apegados à tradição e à Lei de Moisés, queriam que os novos convertidos fossem circuncidados. Para eles a circuncisão era condição para ser salvo. Nasce então um sério conflito. Paulo e Barnabé eram contra esse modo de pensar. Em Jeruasalém eles expõem o problema e encontram oposição por parte de alguns, As principais lideranças se reúnem e buscam uma solução para essa nova dificuldade. Assim, temos um relato da primeira assembleia dos cristãos. Vamos juntos e juntas tomar conhecimento desse fato.

 

  1. Leitura do texto

Cantar: "Chegou a hora da alegria, vamos ouvir esta Palavra que nos guia", ou outro refrão que fale sobre a vida comunitária,

Ler Atos 15,1-29, A leitura poderá ser feita segundo as personagens que aparecem no testo: narrador, Pedro, Tiago e os ex-membros do partido dos fariseus.

— Reler o texto e repetir frases mais significativas. Pausa para reflexão.

 

Para conversar:

1) De onde surge o problema da comunidade?

2) Como a comunidade resolveu a questão?

 

6- Iluminando a nossa vida

Na assembleia da comunidade de Jerusalém todas as lideranças tiveram oportunidades de falar, de colocar suas posições. Todos tiveram vez e voz! Em comunidade encontraram a melhor solução.

  • Como são tomadas as decisões em nossa comunidade?
  • Quem participa? Qual a reação de todos e todas?

 

  1. Celebrando a vida

Pistas para a celebração

- Rezar os sentimentos que tivemos no início desse encontro ao arrumar a mesa. Deixar um espaço para as pessoas fazerem a sua prece, que pode ser de louvor, de súplica, de pedido de perdão.

Em seguida todos/as são convidados/as para novamente arrumar a mesa. Cada um, cada uma irá dar a sua colaboração, mesmo que seja bem pequena, Juntos e juntas construímos a comunidade, Concluir rezando o Salmo 133, sobre a vida em comunidade.

 

  1. Preparar o próximo encontro

Para a próxima reunião ler At 16,11-15. É importante ler o subsídio em preparação ao 6º encontro. A pessoa que tem dificuldade de ler poderá pedir a ajuda de uma pessoa amiga.

- Distribuir as tarefas para a próxima reunião. Encarregar os homens de fazer a acolhida do próximo encontro.

— Combinar a data e o local da próxima reunião do grupo.

 

  1. Gesto concreto

— Visitar um grupo de mulheres ou uma comunidade coordenada por mulheres e conversar sobre a maneira como as decisões são tomadas. Todas as pessoas participam nas decisões da comunidade ou do grupo?

- Encerrar com o Pai-nosso ecumênico e a bênção.

 

Orientações para o quinto encontro

Situando o texto

A comunidade cristã cresce. Chega aos gentios. "Aqueles que se haviam espalhado por causa da tribulação que se seguiu à morte de Estêvão, chegaram à Fenícia, à ilha de Chipre e à cidade de Antioquia, embora não pregassem a Palavra a ninguém que não fosse judeu. Contudo, alguns deles, habitantes de Chipre e da cidade de Cirene, chegaram a Antioquia e começaram a pregar também para os gregos, anunciando-lhes a Boa Nova do Senhor Jesus" (1 1, 19-20). E o texto conclui dizendo que muitos abraçaram a fé. Esta notícia chega até a igreja de Jerusalém, que envia Barnabé para confirmar a fé dos discípulos (11,22).

 

Barnabé vai para a cidade de Tarso procurar Saulo. Os dois permaneceram um bom tempo em Antioquia, capital da Síria e uma das cidades mais importantes no império greco-romano. Eles conseguiram grande sucesso nesta igreja (11,25-26). Antioquia recebe a visita de alguns profetas. E um deles anuncia a situação de miséria dos cristãos de Jerusalém. A igreja de Antioquia organiza uma coleta e a envia aos anciãos por meio de Barnabé e Saulo (11,29; 12,25). Este gesto de solidariedade une as duas igrejas: a de Jerusalém e a de Antioquia. É um gesto profético. A igreja dos helenistas, formada por pessoas consideradas como impuras, envia recursos para atender às necessidades da igreja de Jerusalém.

 

Ao mesmo tempo, começa a perseguição contra o grupo dos hebreus em Jerusalém (12,1-2). Por que a perseguição atinge os cristãos hebreus, homens fiéis à Lei e ao Templo, uma vez que eles não foram incomodados por ocasião da perseguição contra os helenistas? (8, l) Parece que a situação está mudando... A igreja de Jerusalém recebe recursos de Antioquia, de gente considerada impura. E também a conversão de Cornélio e os de sua casa, pessoas estrangeiras. A igreja dos Jerusalém começa a aceitar que a salvação de Deus é pata todos os povos. Isso deve ter provocado os judeus fariseus de Jerusalém. E o rei, Herodes Agripa (41-44 para agradar ao povo, começa a maltratar os membros da comunidade cristã de Jerusalém.

 

Tiago, irmão de João, é assassinado. Pedro é preso, para ser morto depois da Páscoa. No entanto, é libertado de maneira milagrosa. Ele refugia-se na casa de Maria, uma comunidade cristã helenista, dirigida por uma mulher (12,12). A comunidade é solidária e fiel na perseguição. Nessa realidade, a igreja perseguida experimenta a presença libertadora de Deus. Esse testemunho faz a igreja crescer ainda mais: "a palavra de Deus crescia e se multiplicava" (12,24).

 

Barnabé e Saulo voltam a Antioquia. Em Antioquia temos uma assembleia da comunidade (13,1-13). A igreja de Antioquia é liderada por profetas. É uma igreja orante, que se reúne e envia missionários e missionárias para a missão. Barnabé e Saulo são enviados para anunciar a boa nova aos gentios. A partir desta missão Saulo faz uma ruptura radical com o seu passado. De agora em diante ele será tratado sempre por Paulo (13,9). Os missionários e missionárias visitam várias regiões anunciando a boa nova. Em todos os lugares por onde passam conseguem atrair a simpatia e a conversão de muitos homens e mulheres, mas também são perseguidos pelos judeus (14, 19) e pela elite das cidades do império greco romano (13,50; 16,19).

 

Antioquia torna-se um importante centro cristão de não-judeus. Algumas pessoas da comunidade judeu cristã de Jerusalém, mesmo experimentando a irmandade e a solidariedade da igreja dos helenistas, continuava afirmando a necessidade da circuncisão para a salvação.

 

A imposição desse rito hebraico implica a observância de todas as prescrições judaicas. Esta exigência coloca em questão a opção crista. Pois, se a circuncisão e condição para ser cristão, quer dizer que a fé não é suficiente para a salvação, ou seja, a pessoa, ser salva, tem de se tornar, de alguma forma Judia. E agora, como resolver a questão? Afinal a religião cristã é uma comunidade aberta a todos ou apenas mais um grupo judaico?

 

O problema é levado para a comunidade de Jerusalém, composta basicamente por judeus. Em Jerusalém se reúnem representantes de todos os grupos cristãos. Lá estão os líderes da igreja de Jerusalém: Pedro, representando a igreja dos apóstolos; Tiago, o irmão do Senhor, o chefe do clá de Jesus; e os enviados da igreja helenista de Antioquia: Barnabé, Saulo e outros irmãos. Cada grupo com o seu interesse. Chegar a um consenso não deve ter sido fácil, só mesmo pela força do Espírito, como está escrito: "porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não impor sobre vocês nenhum fardo" (15,28).

 

Os apóstolos e os anciãos têm nas mãos uma questão muito importante: a circuncisão deve ou não ser exigida dos não-judeus? Esse conflito, vivido entre os judeus cristãos e gentios cristãos, fez acontecer a primeira assembleia.

 

Comentando o texto

A primeira assembleia da igreja cristã é narrada em Atos 15,1-29 e em Gálatas 2,1-10. As duas versões têm alguns pontos em comum como também algumas diferenças. Vejamos:

 

  • Atos 15,2 e Gl 2,1: os representantes da igreja de Antioquia viajam a Jerusalém. Em Atos os representantes são enviados pela comunidade. Em Gl 2,2: Paulo sobe a Jerusalém em virtude de uma visão. Eles sobem para resolver a questão se os gentios que se convertiam a Cristo precisavam da circuncisão.
  • Atos 15,2: os representantes de Antioquia são Barnabé, Paulo e alguns outros. Em Gl 2,1.3: Paulo, Barnabé e Tito. É importante lembrar que Tito não era circuncidado;
  • Atos 15,5 e Gl 2,4: os dois textos concordam que não eram as colunas da igreja que queriam a circuncisão (Gl 2,4);
  • Atos fala de uma assembleia de apóstolos e anciãos (15,4). Em Gálatas, Paulo menciona Tiago, Cefas e João (Gl 2,9);
  • O resultado da assembleia é que os gentios não precisam ser circuncidados (Gl 2,9). Atos coloca esta decisão na boca de Tiago (15,19).

 

Dois relatos diferentes. Paulo participou da assembleia, por isso apresenta uma descrição mais viva, com certeza, quando ele escreveu, o sangue ainda estava quente, a questão não estava totalmente resolvida. E uma prova disso é que ele questiona fortemente a atitude de Pedro (Gl 2,11-14). Atos dos Apóstolos traz uma descrição mais pacífica, tranquila, tudo resolvido... Está distante do acontecimento. Atos apresenta uma releitura das comunidades quase 40 anos depois.

 

Vamos ver como as comunidades dos Atos fazem memória da assembleia de Jerusalém. Em primeiro lugar, destaca a unidade entre as duas igrejas: a igreja helenista é bem recebida pela igreja hebraica de Jerusalém (15,4). A questão da circuncisão não era um problema com a igreja oficial, representada por Pedro e Tiago, mas com alguns membros da igreja dos hebreus cristãos de Jerusalém. Isso se torna mais claro no v. 5: "Alguns daqueles que tinham pertencido ao partido dos fariseus e que tinham abraçado a fé intervieram, declarando que era preciso circuncidar os pagãos e mandar que eles observassem a Lei de Moisés". Para esse grupo é claro que a salvação vem por meio da Lei.

 

Pedro toma a palavra (15,7). O seu discurso é radical. Primeiro lembra o que aconteceu na casa de Cornélio: Deus concedeu aos gentios o Espírito Santo como a nós (15,8). Aqui, os judeus cristãos são a referência. Já no v.11, na conclusão do discurso, Pedro diz: "Ao contrário, é pela graça do Senhor Jesus que nós cremos ser salvos, da mesma forma como também eles". Nesta frase, os gentios são a referência.

 

No discurso fica bem claro que Deus não faz distinção entre os povos. Portanto, não se deve impor o jugo da Lei sobre nenhum seguidor ou seguidora de Jesus.

 

Barnabé e Paulo, enviados para falar do problema da circuncisão dos não-judeus, passam a falar "quantos sinais e prodígios Deus operara entre os gentios por meio deles" (15,12). Espertos. Falam da sua prática. É o próprio Deus que age através deles. Argumento algum é suficiente para ir contra a ação de Deus. Para eles, a Salvação vem pelo Espírito.

 

Tiago retoma a palavra e profere um discurso (15, 14-18). Tiago busca luz na palavra de Deus para iluminar o conflito da comunidade (Am 9,11-12). E conclui: "Eu sou do parecer que não devemos importunar os pagãos que se convertem a Deus" (15, 19). Não é necessário circuncidar-se. Mas exige a abstenção de alimentos contaminados por ídolos (LV 17,8); a união com parentes próximos (LV 18,6-8) e não comer animais com seu sangue (LV 17,10). Por trás desta proibição está a crença de que a vida está no sangue. A pessoa, ao comer a carne com sangue, come a vida. E a vida é sagrada.

 

Como decisão final, a assembleia envia, por meio de Judas e Silas, uma carta aos gentios cristãos de Antioquia, Síria e Cilícia. A exigência imposta aos gentios cristãos era uma decisão conjunta do Espírito Santo e dos Apóstolos (15,28), De acordo com Atos (15,31), os gentios cristãos aceitaram as restrições propostas, isto tornou possível o mínimo de vida comum entre os dois povos. Para não romper a comunhão, os dois grupos cederam em suas posições. A maneira de organizar da comunidade crista favoreceu o consenso entre os diferentes grupos.

 

Aprofundando: diferentes modelos de organização social

A comunidade cristã entra em confronto com diferentes formas de organização. O sistema dos gregos estava organizado no modelo da cidade, ou seja, da pólis. A principal organização dos judeus era a sinagoga. E entre os cristãos começa a nascer um outro modelo, baseado na organização já existente da casa. Vejamos alguns detalhes sobre a organização desses grupos.

 

Pólis: o governo dos gregos era realizado por meio das assembleias. Somente os cidadãos livres podiam participar da assembleia da pólis. Quem era considerado cidadão livre? Era o senhor e dono de grandes propriedades e de muitos escravos; a pessoa que não precisava trabalhar para sobreviver. Em Atenas, na Grécia, no século V a.C., 2.000 cidadãos livres viviam à custa do trabalho de 400.000 escravos, por isso é que os cidadãos podiam se dedicar a atividades políticas e filosóficas. Nas assembleias, todos os cidadãos, o que na prática correspondia a 0,5% da população, tinham o direito de falar, mas a questão proposta deveria ser bem argumentada. Nessa reunião eram tomadas as decisões fundamentais.

 

Sinagoga: estar ligado à sinagoga significava pala 0 judeu ter cidadania: identificava a sua pertença a Israel, o Povo de Deus. O termo sinagoga era usado para a reunião dos judeus e também descreve o lugar da reunião da comunidade judaica. A sinagoga surgiu na história de Israel, possivelmente no período do pós-exílio para preservar a identidade do povo Judeus em terra estrangeira.  A sinagoga era o lugar do culto e da observância da Lei, A reunião litúrgica incluía leitura, interpretação da Escritura, orações, refeições comunitárias. Com o tempo, sobretudo após o ano 70 d.C., a sinagoga tornou-se a principal instituição judaica, era uma cidade dentro da cidade, tinha suas próprias Leis e administração. As pessoas que pertenciam a essa instituição tinham muitos privilégios, até o de seguir a religião judaica, de observar o sábado e o de participar do exército romano em batalhões só de judeus. A sinagoga mantinha fundos para assistência aos mais pobres, escola, tribunal para julgar disputas entre judeus e locais para culto e sepultamentos. Era também o local para reuniões sobre assuntos comunitários. Só os judeus "puros", aqueles que estavam em dia com todas as exigências da Lei, podiam participar das reuniões da sinagoga.

 

Casa: o ministério de Jesus se organizou a partir da casa: Simão (Mc 1,29); Levi (Mc 2,15), uma casa em Tiro (MC 7,24), a casa de Simão, o leproso (Mc 14,3), e outras. Dando continuidade à prática de Jesus, as comunidades cristãs primitivas se reuniam em casas particulares (At 10,6, 17; 12,12; 16,32; 17,7; 18,7). A casa era o espaço onde se alimentava o sonho "de ser um só coração e uma só alma", procurando diminuir as divisões de nacionalidade, política e social entre as pessoas. A nova comunidade, organizada a partir da casa, ajudou a manter viva a prática de Jesus, procurando viver o ensinamento dos apóstolos, a partilha dos bens, o atendimento aos pobres e necessitados (2,42-27).

 

Mas, apesar das relações fraternas, a estrutura da casa era patriarcal, ou seja, o poder ainda estava centrado no homem. É interessante observar que a primeira assembleia dos cristãos nasceu por causa da discriminação contra o grupo dos não-judeus. Embora a comunidade cristã procurasse incluir a todos e todas, Atos, quando fala da assembleia, não menciona a presença mulheres. Não se ouve a voz delas... total silêncio. que elas estavam realmente ausentes? A circuncisão zia respeito aos homens. Mas, fica a pergunta: E para mulheres, qual a condição para a salvação?

 

Em nossas comunidades as assembleias sempre contam com a presença maciça de mulheres, até porque no dia-a-dia são elas que estão presentes versos serviços comunitários, como: liturgia, pastoral da criança e do adolescente, pastoral do dízimo. CEBs, grupos de evangelização, pastoral das minorias. Em todas as pastorais as mulheres engrossam as É um fato. Não há como negar.

 

Mas, em nível de decisão e organização das comunidades, a conversa é outra... a quem competem as decisões? Como é a participação das mulheres nesses momentos? No próximo encontro, vamos refletir sobre o papel delas na organização da igreja.  Até lá?

 

Curiosidade

Circuncisão

No livro dos Atos dos Apóstolos há um sério entre os judeus cristãos, os circuncisos, e os cristãos judeus, os incircuncisos. Mas o que é a circuncisão? palma-a significa cortar ao redor. E um rito antigo, comum entre os povos do Oriente Antigo, praticado na passagem da infância para a idade adulta, em preparação ao matrimônio. O rito consiste em cortar e retira: o excesso da membrana externa que envolve a extremidade ou a cabeça do membro genital masculino.

Entre os hebreus, circuncidados oito dias após o nascimento, esse rito se tornou sinal da Aliança entre Israel e Javé (Gn 17,10; LV 12,3). O prepúcio a pele externa do membro genital --- era considerado como um ponto onde se concentrava a impureza, que era removida pela circuncisão. No Antigo e no Novo Testamento, a circuncisão é sinal de pertença e adesão à Aliança.

 

 

6º Encontro

 

Tema: A participação das mulheres na comunidade primitiva

Personagens: mulheres, Lídia, Paulo, Silas 

Texto: At 16,11-15

Palavra Chave: sábado, mulheres reunidas, casa.

Perspectiva: Perceber a presença da mulher na organização e liderança das primeiras comunidades. 

Falamos às mulheres que aí estavam reunidas (At 16,13c)

 

 

1- Prepara o ambiente

- Arrumar o local com flores, Bíblia, vela acesa, sementes, objetos que falam da presença, da beleza, da força e garra da mulher na sociedade, família, etc.

- Escrever a frase; "A mulher é força na organização e na liderança das comunidades-,

- Desenhar as formas de uma mulher e deixar no centro

 

2 A colhida

- A acolhida deverá ser feita pelos homens.

- Partilhar como foi o encontro com as mulheres na comunidade ou nos grupos que trabalham especificamente com mulheres.

- Oração. Cantar o refrão: "Tão meiga, cor bonita, feminina". Agradecer a Deus pelo espaço que as mulheres vêm ocupando na sociedade. Rezar pedindo pelas mulheres que ainda são vítimas de 'violência, seja em casa, no trabalho, na igreja, nos diversos espaços sociais.

 

3- Encontro do dia

- Lembrar, em silêncio, a presença de uma mulher que foi ou é fundamental em sua caminhada, Cantar: "Maria, Maria é um dom..,", ou outro que a comunidade achar apropriado.

- Convidar os/as participantes do encontro a escrever, no desenho, uma qualidade ou característica da mulher que mais admira.

- Em nossa comunidade (ou grupo) reconhecemos como é importante a presença da mulher na Organização e no desenvolvimento das pastorais? As mulheres estão presentes no dia-a-dia, assumindo com garra os pequenos serviços á comunidade. Não tem tempo ruim, elas estão aí, dispostas a colaborar em tudo. É como costumamos dizer: “Pau para toda obra”. Vamos conhecer a comunidade de Filipos, um grupo que nasceu sob a liderança de mulheres.

 

4- Situando o texto

Vamos visitar a comunidade de Filipos. Uma cidade que era colônia romana, local onde moravam muitos militares aposentados. Nesta cidade não havia sinagoga, e as pessoas que não seguiam a religião oficial do império romano não bem-aceitas. Paulo e Silas estavam em Filipos e no sábado eles saíram da cidade para rezar. Foram procurar um lugar de oração. Junto ao rio encontraram um grupo de mulheres. Tendo presente que aas mulheres no mundo greco-romano não eram valorizadas, o anúncio da boa nova deixa claro que a mensagem de jesus é para todos e todas. Vamos acompanhar, com atenção, o encontro de Paulo e Silas com algumas mulheres!

 

  1. Leitura do texto

- Iniciar com um refrão sobre a Palavra de Deus, como, por exemplo: “A Bíblia é a Palavra de Deus, semeada no meio do povo...”

- Ler Atos 16,11-15- Ler encenando. Destacar o encontro com as mulheres

- Recontar a história em mutirão: Cada pessoa lembra uma parte e diz com suas próprias palavras. Dar tempo para reflexão pessoal.

 

Para conversar:

1) Como acontece o anúncio da boa nova em Filipos?

2) Quem são as pessoas que acolhem a boa nova e qual é a reação delas?

 

  1. Iluminando a nossa vida

No texto que acabamos de ler aparece uma nova personagem: Lídia. Ela é uma pessoa influente, independente economicamente e líder de um grupo. Ela e todos de sua casa acolhem a boa nova. Em seguida, oferece hospedagem e proteção aos missionários. É uma comunidade que nasce marcada pela solidariedade.

  • Alguma das mulheres aqui presentes já viveu a experiência de ser discriminada? Como enfrentou essa situação?
  • Estamos dispostas e dispostos a estabelecer novas relações?
  • Como aceitamos a presença e a liderança de mulheres na organização e no desenvolvimento de nossa casa, de nossa comunidade e nas várias dimensões da sociedade?

 

  1. Celebrando a vida

— Lembrar os vários grupos e movimentos de mulheres existentes.

— Em seguida pode-se fazer uma corrente com os braços e repetir a frase exposta no centro da sala.

— Cada pessoa poderá falar o que mais admira na mulher.

— Encerrar com a bênção.

 

  1. Preparar o próximo encontro

- Para a próxima reunião ler At 17,22b-34. Para que o encontro possa ser mais rico, é bom ler o subsídio em preparação ao 7º encontro. Se alguém tiver dificuldade, pedir a colaboração de outra pessoa.

- Distribuir as tarefas para a próxima reunião e pedir que cada pessoa traga um objeto típico de sua região de origem ou da região de seus pais. Combinar a data e o local da próxima reunião do grupo.

 

  1. Gesto concreto

— Observar em casa, no bairro, no trabalho, nos meios de comunicação, situações de discriminação da mulher. Fazer uma lista de situações vividas na comunidade que demonstram crescimento e valorização da mulher.

— Encerrar o encontro com a oração do Pai-nosso e a seguinte bênção:

"Pelo Deus de seu pai, que o socorre, por El Shaddai que o abençoa: as bênçãos que descem dos céus e as bênçãos do oceano embaixo, bênçãos das mamas e dos seios" (Gn 49,25).

 

Orientações para o sexto encontro

Situando o texto

Estamos diante da história de Lídia: estrangeira, temente a Deus, comerciante de púrpura. Ela acolhe a mensagem de Paulo. Para poder compreender o sentido dessa história é importante conhecer a sociedade greco-romana.

 

Uma sociedade dividida cm diferentes classes sociais. Entre elas encontramos os nobres, geralmente membros das famílias do imperador, dos senadores e dos cavaleiros. Esta classe não chegava a 2% da população. A classe trabalhadora era formada por mestres, comerciantes, artesãos, médicos e outros. Naquele tempo, o trabalho era visto como uma fatalidade. Uma desgraça.

 

Abaixo da classe trabalhadora estavam os pobres e os mendigos. A riqueza não era o elemento principal que determinava a posição social. Por exemplo: uma pessoa podia ser escrava e viver bem; livre e endividada; mendigo e cidadão; rico e estrangeiro. Ser cidadão era muito importante, e quem tinha o título de cidadão romano estava acima de todos. Ser livre era mais importante que ser rico ou pobre. Os nascidos livres estavam acima dos libertos — pessoas que conseguiram comprar sua liberdade.

 

Os escravos eram considerados como coisas, propriedades de seus senhores. Muitas pessoas, para poder pagar suas dívidas e sobreviver, assumiam a condição de escravos. Eram os chamados servos. A pessoa era escrava por ter nascido de pais escravos, por ter sido prisioneira em guerras ou pelos piratas, ou ainda por ter sido comprada ou vendida como tal.

 

Na legislação romana os escravos não tinham direito algum. A escravidão era vista como parte da lei natural. Por sua vez, os escravos cresciam resignados com o seu destino. Na Ásia Menor as condições de vida do escravo eram melhores. Entre eles alguns eram ricos e estudados. O escravo podia conseguir a liberdade, seja como gesto de gratidão de seu senhor ou pela compra de sua liberdade. O liberto não tinha direito à cidadania romana.

 

A estrutura familiar era patriarcal. O pai era a autoridade máxima. No âmbito doméstico a virtude mais apreciada na mulher era a submissão. Em geral, as mulheres eram subordinadas socialmente. Na política, elas não participavam da Assembleia. Na economia, quando necessário, trabalhavam ao lado de seus maridos ou na falta dele, assumiam a responsabilidade da casa. Os homens ditavam a conduta que as mulheres deviam ter. O seu espaço de ação era a casa, e a serviço dos varões da família (1Tm 2,9-14). Em Roma, em certos aspectos, a mulher era menos valorizada que um menino ou escravo. No Oriente, as mulheres eram mais valorizadas, mas sempre ocupando o segundo lugar em relação ao marido.

 

No mundo judaico a situação da mulher não era diferente. Ela sempre aparece subordinada ao homem. No livro dos Atos dos Apóstolos vemos um reflexo dessa mentalidade. Entre os primeiros apóstolos o grupo dos Doze —, a igreja helenista de Jerusalém e a de Antioquia, não cita mulher alguma assumindo a liderança. Os textos destacam o papel da mulher apoiando ou se opondo à missão de Paulo. Atos destaca como personalidades importantes Pedro e Paulo, mas o papel das mulheres é colocado em segundo plano.

 

Paulo e Silas se encontram com Lídia. Dois homens de tradição judaica se encontram com uma mulher estrangeira. Naquele tempo, a tradição judaica não permitia ao homem se dirigir a uma mulher em público. Pois bem, Paulo e Silas desobedecem à Lei, aproximam-se de um grupo de mulheres e lhes anuncia a boa nova (16,13). É um encontro entre dois grupos marginalizados. De um lado está Paulo e Silas, homens e judeus; de outro está Lídia e as pessoas de sua casa, um grupo liderado por urna mulher e, ainda por cima, estrangeira. Em Filipos, colónia romana, os dois grupos são rejeitados pela sociedade, estão na periferia da cidade. A abertura e a superação de preconceitos criou espaço para a acolhida da boa nova, Vejamos alguns detalhes sobre esse encontro,

 

Comentando o texto

Vamos entrar no capítulo 16. Logo no início temos um resumo sobre a viagem de Paulo (16,11). Ao chegar a Filipos, principal cidade da o ano 42 a.C., ela foi transformada em colónia romana. Era uma pequena Roma. Os seus cidadãos gozavam de cidadania romana. Ou seja, estavam livres e gozavam de muitos privilégios. Nesta cidade moravam muitos militares romanos licenciados.

 

Paulo e Silas tiveram de sair da cidade no sábado.  Em todo o império romano, as pessoas de tradição judaica não eram aceitas. Na cidade, eles corriam risco de vida (16,12). "Saímos fora da poita, a um lugar junto ao rio, onde parecia-nos haver um lugar de ovação" (10, 13).

 

Desde o tempo do exílio (586 a.C.), grande número de judeus vivia fora da Palestina. Os judeus estavam morando na Babilônia, na Ásia Menor, na Síria e no Egito. Também em cidades menores havia judeus, e mesmo em colônias militares, como é o caso de Filipos. No tempo de Augusto, imperador romano no período de 27 a.C.14 d.C., o número de judeus chegou a 4,5 milhões no império romano; isso correspondia a 7% da população do império.

 

No local de oração, que não indica propriamente uma sinagoga, mas um ambiente aberto, eles encontram mulheres reunidas (16,13). As mulheres, de acordo com as indicações do texto, já se reuniam para a oração antes da chegada de Paulo. Eram mulheres tementes a Deus. Isto queria dizer que elas viviam alguns aspectos da religião judaica. Existe nelas um espaço de abertura para acolher o diferente e superar o preconceito de raça, de sexo e de classe social. Entre as mulheres que estavam reunidas, ficamos sabendo que Lídia se converteu ao anúncio da boa nova.

 

Mas quem era Lídia? O seu próprio nome indica a sua origem: nome atribuído a pessoas escravas da Ásia Menor. Ela poderia ter sido uma escrava que conseguiu, de alguma forma, comprar a sua liberdade. Lídia vem de Tiatira, uma cidade famosa pela extração da púrpura vegetal. Uma mulher estrangeira, comerciante de púrpura.

 

Parece que o trabalho de Lídia não consistia só em vender, mas ela também produzia e confeccionava os tecidos. Existiam duas formas de se conseguir a púrpura. Por meio de molusco se extraía a púrpura animal. Era caríssima. Somente os reis e pessoas da aristocracia podiam adquirir essa púrpura. A segunda forma era a vegetal, extraída de uma planta. Era mais barata. Esse era um trabalho pesado e causava muita sujeira, por isso as pessoas que faziam esse serviço moravam na periferia. O grupo de mulheres reunidas para a celebração pode ter sido um grupo que trabalhava em conjunto na produção da púrpura vegetal. Lídia era a responsável por esse grupo.

 

"Se vocês me consideram fiel ao Senhor, permaneçam em minha casa" (16, 15b). Aceitar ou não? Para um judeu entrar na casa de um estrangeiro era sempre um desafio. Por muitos séculos a lei do puro e impuro excluía os estrangeiros, eles não faziam parte do povo eleito. Era uma lei que estava enraizada no coração das pessoas, não era fácil mudar a maneira de pensar de um momento para o outro. E ainda mais: hospedar-se na casa de uma mulher. Isto exigiu verdadeira mudança. Mas a situação era de risco, na cidade as pessoas de tradição judaica corriam risco de vida. Na prática, foi o cotidiano que de fato ajudou a mudar algumas leis, afinal o valor maior era a vida!

 

Lídia convida Paulo e Silas a se hospedarem em sua casa. Nesse texto, casa não pode ser entendida simplesmente no âmbito familiar, mas o conjunto: escravos e escravas, parentes próximos, trabalhadores contratados, capital e toda a produção. O convite de Lídia é motivado por sua fé. O final do versículo 15 diz: "E nos forçou a aceitar". Lídia conhecia bem a cidade onde estava morando. As pessoas de tradição judaica comiam perigo. O convite de Lídia é um gesto de solidariedade. De acordo com a sua tradição, hospedar alguém significava proteger.

 

É a partir do trabalho missionário de Lídia e das pessoas de sua casa que cresce a comunidade cristã em Filipos. A casa de Lídia tornou-se um centro cristão: casa de irmãos (16,40). Nessa casa Paulo e Silas buscam proteção. Não é uma casa sob a orientação de homens. Mas de uma mulher. Uma nova maneira de se organizar dentro de um contexto organizado por estruturas de poder e dominação patriarcais. Isso também mostra que existiam casas dirigidas por mulheres. Lembremos que nessa sociedade, o homem era o chefe, tudo lhe pertencia: objetos, mulheres, parentes, crianças, criados...

 

A presença de Lídia e algumas mulheres evidencia que as mulheres participavam ativamente nas primeiras comunidades cristãs. Organizando, administrando, convocando, liderando, cooperando na formação das comunidades (12,12).

 

Aprofundando: visitando algumas mulheres no livro dos Atos dos Apóstolos

Numa primeira leitura do livro dos Atos dos Apósto10s vemos desfilar, diante de nossos olhos, algumas personagens principais: Pedro, Tiago, Estêvão, Filipe, PauIo, Silas, Barnabé, Timóteo... A história privilegia algumas pessoas e esconde outras, De acordo com a narrativa dos Atos, parece que a origem das comunidades cristãs está ligada a essas pessoas: o grupo dos Doze --- as testemunhas da ressurreição os helenistas e Paulo.

 

O grupo dos Doze assume o serviço da os Sete, líderes do grupo dos helenistas, foram escolhidos para o serviço à mesa. Nenhuma mulher é aparecem servindo, colocando seus bens à disposição dos apóstolos. Não existe referência sobre a atuação das mulheres no ministério da Palavra. E é possível que exercessem esse ministério, pois sabemos que a comunidade cristã de Filipos cresceu graças à atuação missionária de Lídia e das pessoas de sua casa.

 

A história das primeiras comunidades, de acordo com o livro dos Atos, parece ser construída pelo dinamismo de alguns homens. Mas fica uma pergunta: e os/as missionários/as que atuam no dia-a-dia? E os profetas? Onde estão as mulheres, as crianças, os escravos e escravas, os libertos e libertas? E o trabalho missionário das comunidades? É necessária uma segunda leitura: Olhar com calma, tentando perceber os detalhes e se perguntar sempre: quem aparece e quem não aparece. Vamos lá! Tentaremos juntos e juntas descobrir a presença das mulheres nas comunidades dos Atos Eis aqui alguns textos:

— Abrindo o livro encontramos a comunidade reunida: "Todos unânimes eram assíduos com algumas mulheres, entre as quais a mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus” (1,14).

— No dia de Pentecostes, a comunidade estava reunida. O Espírito desceu sobre todos: homens. Todos saíram a pregar... Vemos a leitura de um texto do profeta Joel 3,1-5, onde fala: “vossos filhos e vossas filhas serão profetas (2,18) ‘.

-- As viúvas helenistas (6,1).

- Tabita (9,36), uma discípula, mulher independente e economicamente, solidária com as viúvas (9,39).

- A casa de Mana, a mãe de João Marcos, era um centro de reunião dos cristãos (12,12-17). Nesta casa-comunidade é importante observar a presença da serva Rode, que exerce um serviço especial (12,13).

- A conversão de Lídia e das pessoas de sua casa (16,1 1-15).

— A conversão de Damaris (17,34).

— A presença de profetisas na Igreja primitiva (21,9).

 

Bastou uma segunda leitura para perceber que mulheres estão presentes no livro dos Atos dos Apóstolos. Tente uma terceira leitura... você poderá descobrir outras novidades.

 

Pois bem, no início as mulheres são nomeadas entre os membros da comunidade (1,14). Porém, o liT0 mostra que há um obstáculo que as impedem de ocupar o lugar de apóstolas: "Há homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus caminhou à nossa frente é preciso, pois, que um dentre eles se torne conosco testemunha de sua ressurreição" (1,21-22). E como ficam as mulheres que também acompanharam Jesus desde o início?

 

O critério para ser apóstolo era ter caminhado durante todo o tempo com o Senhor. Por meio do evangelho de Lucas sabemos que algumas mulheres foram discípulas fiéis (LC 8,1-3; 23,49), mas sem ocupar posição de liderança. O fato de o texto não registrar a liderança das mulheres não significa que elas não exerciam. Lídia era uma líder de comunidade.

 

A discípula Tabita (9,36) é outro exemplo que podemos lembrar. Mulher independente economicamente, solidária com as viúvas (9,39). Ela adoece e morre. Pedro a ressuscita. Tabita, como viúva, não estava sob o total controle dos homens, tinham a sua própria casa e organização. Provavelmente, sob a liderança de Tabita havia uma comunidade cristã independente.

 

Outro núcleo dos cristãos era a casa de Maria, a mãe de João Marcos, uma comunidade cristã helenista em Jerusalém. Quando Pedro, milagrosamente, saiu da prisão, foi se refugiar nesta casa. As autoridades romanas não conseguiram localizá-lo. Ninguém da comunidade denunciou. Isso mostra que na casa de Maria havia uma comunidade fiel e solidária na perseguição (12,12).

 

Em todos os grupos sociais e nações, as mulheres eram a maioria nos grupos cristãos. Em Atenas (17,2234), diante da pregação de Paulo no Areópago, recebemos a informação sobre a conversão de Dâmaris. Nesta cidade era comum a discussão filosófica na ágora - praça pública. A presença de Dâmaris indica que naquele lugar havia mulheres filósofas. Mulheres que não aceitaram o espaço restrito da casa, mulheres que ousaram sonhar alto e por causa disso foram à luta.

 

Fica para nós o grande desafio: resgatar o papel das mulheres, de ontem e de hoje, como sujeitos da história; criar espaços em nossas casas, comunidades e igrejas para atuação de todos/as, sem distinção... Mulheres e homens são diferentes, mas iguais em direito e dignidade. E somando nossas forças que podemos fazer o Reino de Deus acontecer.

 

Amor, partilha, solidariedade, justiça, igualdade... valores presentes no evangelho. Precisamos descobrir formas adequadas de continuar fazendo ecoar a mensagem de Jesus às mulheres e homens de hoje. Que tal um encontro com Paulo, apóstolo que usou de todos os meios para anunciar a boa nova? Venha, vamos juntos e juntas ouvir a pregação que ele fez em Atenas, no Areópago. Foi um grande desafio!

 

Curiosidade

Domingo: dia do Senhor

As comunidades cristãs do primeiro século, de origem judaica, continuaram a celebrar o sábado como o dia de descanso, juntamente com o primeiro dia, ou seja, o domingo, como um dia de culto fazendo memória do dia da ressurreição de Jesus (Mt 28,1; Mc 16,29; LC 24,1; Jo 20, 1). Por volta do ano 57 d.C. é possível encontrar indícios da observância do Primeiro Dia entre os cristãos (1 Cor 16, 1)

 

No ano 321 d.C. Constantino, que apropriou e oficializou a religião cristã como religião do império, decretou o domingo como dia de descanso. Esse dia recebeu, ao longo da história, diversos nomes. Os ingleses e alemães usam o nome dado por um dos padres da igreja, Justino, no século II: dia do Sol. O Oriente e a Rússia chamam de dia pascal ou dia da ressurreição. Os franceses, italianos, espanhóis e portugueses: desde o fim do século I, dia do Senhor.

 

 

7º Encontro

 

TEMA: Dialogar, escutar, compreender e anunciar. PERSONAGENS: Paulo, filósofos gregos, Dionísio, Damaris e outros mais.

TEXTO: At 17,22b-34.

PALAVRAS-CHAVE: anunciar, deus desconhecido e ressurreição dos mortos.

PERSPECTIVA: Escutar, compreender e entender a Palavra de Deus nas diferentes culturas.

Eu vos anuncio o Deus que criou o universo e tudo o que nele se encontra (17,24a).

 

  1. Preparar o ambiente

- Arrumar o local com velas coloridas, Bíblia, flores, tecidos coloridos, e objetos que simbolizem as regiões de seus avós e bisavós. Recolher os símbolos que cada pessoa trouxe e deixar expostos no centro.

- Fazer um cartaz com o versículo que motiva o encontro (At 17,24a).

 

  1. Acolhida

— O/a coordenador/a dá as boas-vindas e inicia o encontro com o canto: "Em nome do Pai, em nome do Filho...

— Partilhar a vivência do gesto concreto proposto no encontro anterior: colocar em comum as situações de discriminação da mulher bem como as situações de crescimento e valorização.

 

  1. Encontro do dia

- Iniciando o nosso encontro de hoje, vamos ler, em voz alta, o tema de nossa reflexão de hoje: dialogar, escutar, compreender e anunciar.

— Convidar as pessoas a lembrar um refrão ou uma parte de uma música muito comum que lembra a sua região de origem... Cada pessoa canta na sua vez e os que souberem cantam junto. Se todas as pessoas forem da mesma região, cantar uma canção popular que fale dos valores de sua terra.

— Observar os símbolos expostos, lembrar-se das coisas que aprendeu na infância, junto de sua comunidade, de sua família (em silêncio, por alguns instantes. Em seguida levantara as mãos em forma de prece de agradecimento e fazer uma prece espontânea a Deus, pelo dom da vida, vivida de diferentes maneiras. Concluir cantando um refrão apropriado

 

Situando o texto

Paulo chega a Atenas, cidade muito importante para todos os gregos. Eva a capital da Grécia, onde havia pessoas de muitas regiões, pessoas que vinham para estudar. Atenas era um centro cultural. Foi um verdadeiro desafio para o anúncio da boa nova. Pois a proposta crista tinha suas raízes na cultura judaica, muito diferente da cultura grega baseada na filosofia. Os primeiros missionários e missionárias não estavam preparados. A proposta cristã entra em choque com o jeito de pensar dos gregos. Vamos ver como Paulo anunciou a boa nova aos atenienses?

 

  1. Leitura do texto

- Cantar um refrão apropriado,

- Ler At 17,22b-34.

- Fazer a leitura em mutirão, Pausa para reflexão.

 

Para conversar:

1) De que maneira Paulo anuncia o evangelho?

2) Por que o anúncio de Paulo não foi aceito?

 

  1. Iluminando a nossa vida

Paulo procurou adaptar o anúncio do evangelho aos gregos. Mesmo assim foi inevitável o choque entre a proposta cristã e a cultura grega.

  1. E nós como vivemos e respeitarmos cm nosso meio as diferentes culturas e religiões?
  2. Como anunciar a boa nova de Jesus na realidade em que vivemos?

 

  1. Celebrando a vida

Pistas para a celebração

- Convidar as pessoas a erguer os símbolos que trouxeram, que lembram sua cultura. Com os símbolos nas mãos fazer uma prece agradecendo a Deus a sua história e a presença do Espírito de Deus na sua vida, na sua cultura (podem-se intercalar as preces cantando um refrão apropriado).

- Após as preces, permanecer por alguns instantes em silêncio e tentar perceber o que mais lhe chamou a atenção neste encontro. Encerrar rezando: "Ó Deus, nós ouvimos com nossos ouvidos, nossos pais nos contaram a obra que realizaste em seus dias, nos dias de outrora, com tua mão" (Sl 44,2).

 

  1. Preparar o próximo encontro

-Para a próxima reunião ler At 22,1-21 e também o subsídio em preparação ao 80 encontro, Lembrando que as pessoas que tiverem dificuldade de fazer a leitura, devem pedir ajuda para alguém.

- Distribuir as tarefas para a próxima reunião. Na próxima semana será o último encontro com as comunidades dos Atos. Sugerimos que se faça um encontro festivo. Todos/as devem trazer uma vela e também e comes e bebe parar partilhar. Organizar uma equipe para preparar o ambiente e ajudar na acolhida e animação. Convidar outras pessoas a participar desse encontro. Se houver mais grupo na comunidade, fazer o último encontro no salão comunitário.

- Combinar a data e o local da próxima reunião.

 

  1. Gesto concreto

- Buscar conhecer mais a história de seus antepassados. Que tal uma boa conversa com o pai, o avô ou alguém mais experiente que ajude você a descobrir suas raízes? Tentar descobrir como eles rezavam, como faziam suas festas.

- Pai-nosso ecumênico e a bênção.

 

Orientações para o sétimo encontro

Situando o texto

Paulo está em Atenas e dialoga com representantes das escolas filosóficas dominantes da época: epicureus e estoicos. Mas quem é essa gente? Eram membros de dois importantes grupos de reflexão que não aceitavam a ideia da ressurreição. Para o grupo dos chamados epicureus o fim do ser humano estava na busca do prazer, na satisfação dos justos desejos. Na visão deles, os deuses estavam distantes do mundo. O importante era desfrutar a própria vida. Eles buscavam a verdade como o único caminho para a felicidade. O mais importante era o pensamento, a razão. O outro grupo, chamado de estoicos, acreditava que a divindade estava presente em todo o universo. Tudo era Deus. As pessoas desse grupo eram admiradas por sua vida simples c austera. Elas pregavam a igualdade entre os seres humanos, independente da classe social de cada um, porém viam a morte como o fim natural de tudo. Era ponto final.

Essas duas maneiras de pensar eram muito comum na Grécia e teve o seu maior desenvolvimento no século IV a.C. No tempo de Paulo, século I d.C. a cidade de Atenas continuava sendo símbolo da cultura e da filosofia grega. Era uma cidade muito respeitada pelos romanos. Em Atenas havia muitas religiões... O povo era muitíssimo religioso, chegava mesmo ao nível da superstição. Até dedicavam um altar aos deuses anônimos ou desconhecidos, com medo de deixar alguma divindade sem cultuar e assim não atrair os seus favores. Os gregos acreditavam que as divindades estavam próximas das pessoas. Elas eram imortais e possuíam uma força superior, porém, também estavam submetidas ao destino, podiam ser castigadas ou transformadas.

Além das religiões tradicionais, existia também as religiões de mistério. Religiões que prometiam a libertação total do ser humano e lhe assegurava a salvação que superava o medo da morte. Essas religiões tinham seus ritos ou cultos secretos dos quais somente os iniciados participavam.

Nesse contexto cultural e religioso acontece a pregação cristã, vista pelos gregos como uma religião totalmente estranha. Porque eles não aceitavam a ressurreição. Para os gregos a pessoa humana tinha a parte superior, o espírito, e a parte inferior, o corpo. Na parte superior encontra-se a inteligência, o "nous". Para os gregos, o que ressuscita é o "nous", o espírito. Para os judeus, a compreensão de ressurreição era muito diferente,

Entre os judeus o conceito de ressurreição aparece na Bíblia com os Macabeus (2Mc 7,9.11.14.23.29.36). Na guerra dos Macabeus, muitas pessoas justas morreram defendendo a Lei. [09:45, 29/06/2022] Pe Ray: Na tentativa de encontrar um sentido para a morte dos justos, os judeus começaram a afirmar que o justo não morre para sempre... Para os judeu-cristãos a vida era o corpo. Com a ressurreição, todo o corpo seria ressuscitado pelo espírito, a força de Deus, tornando-se "corpo espiritual" (1 Cor 15,44).

 

Atos situa Paulo no Areópago, uma colina onde se reunia o conselho da cidade e também era local dos discursos públicos. Paulo é levado a esse lugar para fazer o seu anúncio. Ele fala de Jesus que ressuscitou dos mortos... Na mentalidade dos gregos era uma ideia absurda, inaceitável. O resultado foi que poucas pessoas aderiram à mensagem anunciada por Paulo. Vamos ver mais de perto como aconteceu esse encontro?

 

Comentando o texto

Paulo percorre a cidade de Atenas. Diante da enorme quantidade de monumentos sagrados, fica perplexo. O texto diz que ele fica indignado. Mas mesmo assim não desanima. Como é de seu costume, segundo Atos, Paulo dirige a Palavra aos judeus na sinagoga (13,5.14; 14,1; 17,1-2.10.17). Mas, agora tem uma novidade! Paulo está na praça pública falando a toda a gente (17,17).

 

Na rua encontra-se com filósofos epicureus e estóicos (17,18). Há reações à sua pregação, ele é tachado de tagarela, parasita; é visto como pregador de divindades estrangeiras: Jesus e a ressurreição. Isso para os gregos soou como se fosse mais um casal de divindades. Paulo é levado por aqueles homens cultos ao Areópago. Eles querem estar por dentro das últimas novidades (17,21).

 

Todos estão curiosos, querem ouvir Paulo. O momento é solene, Paulo fala de pé no meio do Areópago (17,22a). Ele busca ganhar o afeto de seus ouvintes. Inicia elogiando os atenienses: "Cidadãos atenienses! Vejo que sob todos os aspectos, sois os mais religiosos dos homens" (17,22b). Ele quer ganhar a confiança dos presentes. Fala do que observou na cidade: os muitos monumentos e o altar ao deus desconhecido (17,23c). Foi a brecha que ele encontrou para anunciar a sua mensagem.

 

Paulo está preparando o terreno para fazer o seu anúncio. Ele diz: "eu venho anunciar"... Apoiado em Is 42,5 e SI 146,6 ele anuncia que Deus é único e ele criou todo o universo (17 ,24a). E continua: "Ele não habita em santuários feitos por mãos humanas. Também não é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa; pois é ele que dá a todos vida, respiração e tudo o mais" (17,24b-25). O santuário é o próprio ser humano.

 

Na tentativa de estabelecer uma verdadeira comunicação com os gregos, Paulo valoriza a cultura deles, chega a citar poetas gregos para anunciar o evangelho, por exemplo: "é nele que temos a vida, o movimento e o ser" (17,28). "Somos próximos de Deus e por isso mesmo distante dos ídolos" (17,29). Com essa afirmação, Paulo rejeita os ídolos e coloca-se claramente contra a idolatria. Coloca-se na linha profética contra os sistemas idolátricos opressores.

 

Paulo toca num ponto central: apesar de toda filosofia, o ser humano continua na ignorância (17,30). Isso devia ser muito motivador para o filósofo grego. Paulo está preparando o desfecho final. Anuncia que Deus ressuscitou Jesus dos mortos para julgar o mundo com justiça (17,31). Esse anúncio caiu como uma bomba! A reação não podia ser outra... Os ouvintes se dividiram. Os epicureus começaram a zombar dele ao ouvir falar da ressurreição dos mortos. Os estóicos retiraram-se de maneira delicada: "sobre isso te ouviremos outra vez' (17,32b). E outros foram indiferentes.

Mas... apesar de tudo, muitas pessoas aderiram e acreditaram, entre elas Dionísio, o Areopagita, Dâmaris e outros mais (17,34). Os dois nomes citados deviam ser pessoas influentes, pois como já falamos, era costume do autor dos Atos nomear apenas as pessoas importantes na sociedade.

 

Aprofundando: várias formas de anunciar a boa nova

Atos dos Apóstolos é um texto construído com muitos discursos. Entre eles encontramos discursos de defesa perante os tribunais judaicos ou romanos (4,8-12; 5,2932; 7,2-53; 22, 1-21; 24, 10-21; 26,2-33), discursos dirigidos a outros cristãos (1,16-22; 11,4-17; 15,7-11.13-21; 20,1835), pequenos discursos (5,35-39; 19,25-27.35-40; 24,2-8; 25,14-21), alguns dirigidos aos judeus (2,14-36; 3,12-26; 13,16-41) e aos não-judeus (10,34-43; 14,15-17; 17,22-31). Os discursos foram escritos para comunidades missionárias com o objetivo de facilitar a missão.

 

A imagem de Paulo que o livro dos Atos nos dá é a de um orador grego, sempre levantando a mão para falar (cf. 13, 16; 21 ,40). Os discursos de Paulo provavelmente foram relidos pelas comunidades dos Atos, transmitidos e reconstruídos pela comunidade onde o livro foi escrito (80-90 d.C.). Esses discursos seguem a mesma estrutura. Existe um cuidado especial em conquistar a confiança do ouvinte para depois anunciar a boa nova.

 

Vamos ver dois exemplos de discursos, um dirigido aos judeus e o outro aos gregos. O primeiro discurso de Paulo que Atos apresenta é dirigido aos judeus que viviam fora da Palestina e eram simpatizantes da religião judaica (13, 16-41). O discurso acontece na sinagoga, num momento litúrgico (13, 15). Paulo faz três apelos aos destinatários: "Homens de Israel, e vós que temeis a Deus, escutai!" (13, 16); Irmãos, filhos da raça de Abraão, e vós aqui presentes, que temeis a Deus" (13,26); "Ficai sabendo, pois, irmãos" (13,38). Nesses apelos, Paulo se identifica com os seus ouvintes. Antes de tudo ele se coloca como um judeu.

 

Vejamos este discurso por partes:

- 13,16-25: apresenta uma síntese da história da Salvação, mostrando que, conforme a promessa feita a Davi, Deus fez nascer para Israel um Salvador.

  1. - 13,26-37: é o anúncio da morte e ressureição de Jesus. O autor deixa claro que a salvação foi enviada aos judeus, que a rejeitaram. Tudo conforme estava escrito nas Escrituras.

- 13,38-41: é um convite à conversão: É pela graça de Deus, não por meio da Lei, que vem o perdão dos pecados... Em Atos, a salvação, anunciada e trazida por Jesus, é antes de tudo o perdão dos pecados (2,38; 5,31; 10,43; 26,18).

Este discurso de Paulo, dirigido aos judeus de Antioquia da Pisídia é semelhante ao discurso de Estêvão e aos discursos missionários de Pedro. Os argumentos foram tirados da Lei e dos Profetas. Fazia parte do universo cultural e religioso dos judeus.

Outro discurso que vamos lembrar nos apresenta o anúncio da boa nova aos gregos. As estratégias são as mesmas. Vejamos:

 

  1. 17,22b-23: introdução — Logo no início ele procura ganhar a confiança das pessoas; elogia os seus ouvintes e apresenta o que observou. Fala do altar dedicado ao Deus desconhecido.
  2. 17,24-29: parte da realidade de seus ouvintes: fala de Deus e da busca de Deus; cita frases de grandes poetas gregos e afirma que acima de tudo Deus é o criador de tudo e não é servido com sacrifícios (17,24-26) e atinge o problema central: a idolatria.
  3. 17,30-31: anuncia a boa nova.

 

Nos dois exemplos há um esforço de adaptar o anúncio da boa nova aos ouvintes. No caso dos gregos a pregação considera a cultura de seus ouvintes. A maioria não estava preparada para ouvir a boa nova, estava simplesmente à procura de novidades (17,21). A reação foi natural: zombaria, indiferença, somente algumas pessoas se converteram (17,32-34). No anúncio aos judeus a acolhida também não foi total (13,43).

 

A conversão não depende unicamente do esforço do missionário ou da missionária, mas da graça de Deus. É a palavra certa, dita na hora certa que pode tocar o coração da pessoa e levá-la a uma transformação de vida. A presença do Espírito de Jesus nos faz perseverantes na oração e na vida de partilha solidária e faz acontecer a festa da vida, a festa de Pentecostes.

 

As estratégias apostólicas apontadas no livro dos Atos dos Apóstolos continuam válidas. É preciso respeitar a diversidade religiosa, dialogar, entrar na cultura do outro para compreender e valorizar. Reconhecer e aceitar as infinitas manifestações do sagrado, não querer enquadrá-las em nossa maneira de pensar e viver a nossa fé. Só mesmo a presença do Espírito de Deus é capaz de nos ajudar nessa missão. Nesse sentido temos muito o que aprender com o apóstolo Paulo, o apóstolo dos gentios. Venha, vamos juntos e juntas conhecer a vida e a vocação deste companheiro.

 

Curiosidade

Religiões no inundo greco-romano

Atenas, na Grécia, havia muitos deuses... As divindades representavam as forças da natureza. Por exemplo: Zeus era considerado a divindade dos raios; Afrodite, a deusa da beleza e do amor; Possêidon, o deus do mar e da tempestade; Apolo, aquele que fere com seus raios, mas também o deus que cura; Atenas, a deusa da inteligência... Os banquetes cultuais eram, na maioria das vezes, realizados nas dependências dos templos. Muitos momentos da vida social e comunitária acontecia no e ao redor dos templos (1Cor 10,25-28). Na época helenística, o culto aos deuses estava difundido por toda a parte.

Os deuses de Roma estavam ligados ao mundo rural ou aos antepassados da família. Os romanos identificaram os deuses gregos com seus deuses: Júpiter com Zeus; Juno com Hera; Vênus com Afrodite, Mercúrio com Hermes, e assim por diante. Os deuses tinham seus templos, seus cultos, suas festas. As festas solenes eram acompanhadas de jogos públicos.

 

 

8º Encontro

 

TEMA: A missão de Paulo e a nossa missão. PERSONAGENS: Paulo e os judeus fariseus.

TEXTO: At 22,1-21.

PALAVRAS-CHAVE: Lei, Templo, nações pagãs.

PERSPECTIVA: Mostrar que a missão de Paulo às nações estrangeiras é dada pelo próprio Jesus e que o Templo, o espaço sagrado, não é o único lugar da manifestação de Deus.

 

Mas ele me disse: Vai, é para longe, para as nações pagãs que eu vou te enviar (22,21).

 

1- Preparar o ambiente

- Cada comunidade ou grupo pode usar de sua criatividade para preparar um ambiente agradável para este encontro.

— Usar como símbolo a Bíblia, vela, flores, mochila, um par de sandálias, chinelos e um pedaço de pão.

 

2-Acolhida

— O/a coordenador/a acolhe a todos/as com as boas-vindas. Dedicar uma atenção especial às pessoas convidadas a participar da reunião de encerramento. É interessante pedir que as pessoas se apresentem. Se for gente conhecida da comunidade, pedir para dizer qual a sua expectativa para esse encontro.

— Partilhar a vivência do gesto concreto proposto na reunião anterior: como foi a conversa com seus pais, avós ou bisavós? O que você descobriu sobre as suas raízes?

 

3- Motivando a conversa

— Convidar as pessoas a refletir sobre o seu próprio nome procurando responder: Por que você tem esse nome? Em pequenos grupos, 3 ou 4, partilhar a história do seu nome.

— Em seguida, o/a coordenador/a chama os/as participantes pelo nome, pede que se aproximem dos símbolos, até que todos/as fiquem no círculo. Em silêncio agradecer a Deus que chama cada pessoa. Encerrar este momento com o canto: "Deus chama a gente pra um momento novo ou outro apropriado.

Hoje estamos concluindo a caminhada que fizemos com as comunidades dos Atos dos Apóstolos. Vimos que a Palavra, pela força do Espírito, encontrou espaço no coração de muitas pessoas. Tivemos vários encontros, fizemos algumas descobertas importantes. Vamos lembrar alguns fatos importantes que vivemos nestes encontros? (Deixar que cada pessoa se expresse.)

 

4- Situando o texto

Para finalizar os nossos encontros, escolhemos outro discurso de Paulo. Inicialmente, ele se apresenta, diz que foi educado na tradição dos fariseus. Em tudo foi fiel. Era perseguidor dos cristãos. Mas em determinado momento de sua vida ele fez a experiência de encontrar o Cristo crucificado, morto e ressuscitado. A fidelidade a Deus foi uma constante na vida de Paulo. O que mudou foi sua compreensão e sua forma de servir a Deus e aos irmãos. Por meio do testemunho dos cristãos, Paulo descobre a presença de Jesus ressuscitado. Com a mesma força que perseguia os cristãos, ele agora passa a defender a causa de Jesus Cristo, Paulo se sente chamado pelo próprio Jesus para anunciar a boa nova às nações.

 

5- Leitura do texto

- Canto para aclamar a Palavra de Deus.

- Ler At 22,1-21,

- Reler o texto e pedir para as pessoas repetirem as frases ou expressões mais significativas. Pausa para reflexão.

 

Para conversar

  • O que mais lhe chama a atenção neste teto?
  • Qual a missão que Paulo recebe?

 

  1. Iluminando a nossa vida

Todos/as somos amados/as por Deus. Por isso ele nos chama. Quem se encontra cara a cara com Deus não fica indiferente. A sua presença aponta novo rumo para a nossa vida.

  • Quais as dificuldades que encontro para ser fiel à minha vocação? O que posso fazer para vencê-las?
  • Como estou respondendo aos apelos de Deus?

 

  1. Celebrando a vida

Pistas para a celebração

- Cada pessoa é convidada para acender sua vela na vela que estiver acesa no centro (no altar, no chão, no círculo) e renovar o seu compromisso de responder ao chamado de Deus.

— Após todos terem acendido as velas, cantar: "O Senhor me chamou a trabalhar", ou outro canto apropriado.

— Fazer um semicírculo, virar para a porta e todos/ as com a mão direita no ombro da pessoa que está ao lado diz: Vá! Eu envio você para anunciar o evangelho! Em seguida, pedir para uma criança dar a bênção final,

Após a bênção, o/a coordenador/a convida para a festa, sinal da força da Palavra que nos congrega pelo Espírito, A festa que não deve terminar jamais!

 

Orientações para o oitavo encontro

Situando o texto

Após a morte e a ressurreição de Jesus, o seu grupo de seguidores e seguidoras, animados pela presença viva do Espírito de Jesus, continuou anunciando a boa nova. Muitas pessoas acolheram a nova proposta de vida. Entre elas nós encontramos Paulo, que se tornou um grande apóstolo.

 

Saulo e Paulo: o primeiro é um nome judaico, e o segundo é romano. Era comum no império greco-romano as pessoas receberem dois nomes. Saulo é um nome de caráter religioso. No encontro entre Jesus e Paulo no caminho de Damasco o nome utilizado é Saulo. O nome Paulo era mais para as atividades civis.

 

Paulo era um judeu. Ele mesmo afirma: "Pois eu mesmo sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim" (Rm 11,1); "Circunciso no oitavo dia, da raça de Israel, hebreu, filho de hebreus" (FI 3,5). Nem todos os israelitas conseguiam provar sua origem.

 

Conforme Atos dos Apóstolos, Paulo nasceu em Tarso (At 9,11.30; 11,25; 21,39; 22,3). Em 42 a.C., esta cidade, por sua lealdade a Roma, recebeu a isenção de impostos e a liberdade. Era a capital da província romana na Cilícia, tinha suas leis e seus próprios magistrados. Um importante centro comercial e cultural da Ásia Menor.

 

Nos tempos de Paulo, em Tarso devia haver, aproximadamente, trezentos mil habitantes. Cidade famosa por suas escolas de medicina, direito, gramática e filosofia, de orientação estóica, Era costume dos jovens de Tarso completarem sua educação no exterior. Paulo foi educado em Jerusalém, aos pés de Gamaliel (22,3; 26,4).

 

Paulo afirma que é hebreu. Só precisa afirmar a sua origem quem se sente ameaçado (Rm 11,1; 2Cor 11,22). Ser hebreu significa pertencer ao povo judeu, por nascimento ou por conversão. Paulo, conforme a descrição dos Atos, é cidadão romano por nascimento (16,37; 22,27-29; 23,27). Nas cartas de Paulo não há nenhuma referência sobre isso. Quanto a seus parentes, Atos nos informa que ele tem irmã e sobrinho morando em Jerusalém (23,16).

 

Paulo era fariseu, seguia rigorosamente o judaísmo, em tudo era irrepreensível (Gl 1,14; FI 3,6;). A primeira vez que Paulo é citado nos Atos é na execução de Estêvão (7,58). Ele estava de acordo com a sentença dada a Estêvão (8,1). Em seguida, Paulo é nomeado como um grande perseguidor: Saulo devastava a Igreja: entrando pelas casas, arrancava homens e mulheres e metia-os na prisão (8,3; cf. 9,1-2; 22,45). "Prendi muitos cristãos com autorização dos chefes dos sacerdotes, e dei o voto para que fossem condenados à morte" (26,10). Ele se auto apresenta como sendo perseguidor da Igreja (1 Cor 15,9; Gl 1,13; FI 3,6).

 

Foi a vivência e o testemunho dos cristãos que chamou a atenção de Paulo. É possível concluir que Paulo estava bem informado a respeito de Jesus. Devia saber que ele era um mestre — tinha seguidores e seguidoras — e os seus ensinamentos referentes ao sábado. O testemunho dos judeus cristãos, o apedrejamento de Estêvão foram tocando no coração de Paulo.

 

Na estrada de Damasco, Paulo se encontra com Jesus. Ele compreende que perseguir os cristãos é perseguir o próprio Jesus (9,4-5; 22,5; 26,15). A iniciativa de ir ao encontro de Paulo é de Jesus. Esse momento transforma a vida de Paulo. Ele que era dono de si, agora se deixa conduzir por outros (9,8). Por experiência ele sabe que Jesus está vivo. A partir desse momento, ele passa a defender a proposta de Jesus.

 

Segundo Paulo, a sua conversão era para os não judeus: "Mas quando Aquele que me pôs à parte desde o seio de minha mãe e me chamou por sua graça houve por bem revelar em mim o seu Filho, a fim de que eu o anuncie entre os pagãos" (Gl 1,15-16; cf. At 9,15. 22, 15.21). Paulo foi fiel ao seu chamado.

 

O livro dos Atos dos Apóstolos nos apresenta Paulo anunciando nas sinagogas, nas praças públicas, nas casas, nos cárceres. Foi perseguido pelas autoridades judaicas por ensinar os judeus a colocar o amor acima da Lei de Moisés. Em Atos 22,1-21 está a defesa que Paulo faz de si perante os judeus.

 

Comentando o texto

As autoridades judaicas que estavam no Templo incitam o povo contra Paulo. A multidão fica enfurecida, quer matar Paulo. Mas ele é salvo pelas autoridades romanas. Diante do tumulto, Paulo levanta a mão e pede a palavra (21,40). O silêncio é grande, e torna-se ainda maior quando ele fala em hebraico (22,2), a língua popular dos judeus. Com apenas um gesto e com a palavra é possível conter uma multidão enfurecida? É quase impossível. Na realidade o historiador quer ressaltar a autoridade de Paulo como testemunha de Jesus.

 

Ele se dirige ao povo como um verdadeiro judeu: "Irmãos e pais, escutai a defesa que eu tenho para vos apresentar agora" (22,1). O título de pais era atribuído somente aos membros do Conselho dos judeus (7,2). Ao chamar os judeus de irmãos, o texto quer mostrar que Paulo e os judeus têm a mesma origem, seguem os mesmos princípios e ideais. Em seguida, Paulo apresenta o seu currículo, inicia com os seus dados pessoais: "Eu sou judeu, nascido em Tarso, na Cilícia, mas é aqui, nesta cidade, que fui educado" (22,3).

 

Paulo foi educado em Jerusalém, ou seja, recebeu formação conforme orientação judaica. E mais: ele "foi educado aos pés de Gamaliel, conforme a Lei de nossos pais" (22,31)). Gamaliel está incluído na lista dos grandes rabinos. Um mestre que desempenhou papel ativo nas deliberações do Templo (5,34-39). Era um mestre respeitado e admirado. Homem que exerceu forte influência na formação dos judeus no início do século I d.C.

 

Em seguida, Paulo fala de sua vida no judaísmo. Era um judeu fervoroso. O ponto culminante de sua vivência era a perseguição aos cristãos: "Perseguindo este Caminho até a morte, mandei acorrentar e jogar na prisão homens e mulheres" (22,4). Era um homem reconhecido pelas autoridades judaicas (22,5).

 

O ponto culminante de sua defesa é a experiência no caminho de Damasco. Ele estava indo a Damasco para perseguir os cristãos. No caminho é envolvido por uma grande luz — em pleno meio-dia, sol a pino, a luz é intensa e o cega (22, 11). Ao colocar o detalhe da hora, o autor enfatiza quão grande e intensa era essa luz. "Caí por terra." O que significa a luz e a queda? Num momento de lucidez total, Paulo revê toda a sua vida. Ele faz a experiência de Deus presente nos seguidores e seguidoras de Jesus. Ele cai em si (LC 15,17), reflete nos seus gestos e atitudes...

 

Cai a certeza da Lei. O que fazer? É um momento de confusão. Paulo coloca-se à disposição do Senhor (22, 10). É enviado à casa de Ananias, um judeu piedoso, também fiel à Lei. Esse homem confirma que o Deus de nossos pais o chama para ser testemunha diante de todas as pessoas (22, 14-15). Após ter recebido o batismo e o perdão dos pecados, Paulo volta para Jerusalém. E estando em oração, no Templo ele vê Jesus, que o envia às nações pagãs (22, 17-21 No mesmo lugar onde ele estava sendo acusado pelos judeus fariseus, ele havia recebido a missão do próprio Jesus.

 

Ah! isso foi demais para os judeus fariseus. Começou a gritaria: "Livrem a terra dum indivíduo desses! Ele não deve ficar vivo!" (22,22)

 

Ao narrar o encontro entre Paulo e Jesus, o autor dos Atos é muito cuidadoso em mostrar que Paulo, em tudo, foi fiel à Lei. Este discurso foi escrito para todo o povo de Israel, em especial para os leitores dos Atos. Paulo como judeu fariseu, era fiel à Lei. Por sua fidelidade foi escolhido para ser apóstolo das nações. Paulo se converteu. Em sua vida houve uma transformação radical: de perseguidor a apóstolo.

 

Aprofundando: conversão

Conversão é fazer a volta; é con-vergir (LC 15,18). Quando ouvimos a palavra conversão, normalmente associamos à mudança de religião ou correção de um comportamento considerado errado. Associamos a palavra conversão à saída de uma situação de pecado e adesão a uma religião considerada a verdadeira. Esse é um dos significados do termo conversão. Mas conversão é muito mais que simples mudança de comportamento. Não se limita a determinados momentos de nossa vida, mas é um processo que acontece nas pequenas escolhas que fazemos em nosso cotidiano.

 

Conversão é toda opção que nos aproxima, de alguma maneira, de nós mesmos/as, das outras pessoas e de Deus. Implica acolher o projeto de Deus e assumir uma nova vida, nova maneira de ver e sentir.

 

No livro dos Atos dos Apóstolos há muitos registros de conversões. Pessoas e grupos que foram aderindo ao plano de Deus, revelado em Jesus. Logo no início encontramos o apelo: "Convertei-vos: receba cada um de vós 0 batismo em nome de Jesus Cristo para o perdão dos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo... Os que acolheram sua palavra receberam o batismo e houve cerca de três mil pessoas que nesse dia se juntaram a eles" (2,38.41).

 

O batismo vem acompanhado pelo perdão e pelo dom do Espírito Santo. Perdoar é libertar a pessoa; é deixá-la livre da escravidão da Lei. Isso acontece pela força do Espírito presente na comunidade. O batismo é adesão pública a uma vida nova e condição para receber o Espírito Santo: "O Senhor acrescentava cada dia ao seu número os que queriam ser salvos" (2,47). "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, a fim de que sejam apagados os vossos pecados" (3, 19). "Muitos dos que tinham ouvido a Palavra abraçaram a fé" (4,4).

 

O livro dos Atos, em sua maneira de apresentar a história das primeiras comunidades cristãs, insiste em mostrar que o testemunho, a vivência e a pregação dos primeiros seguidores e seguidoras de Jesus conseguiram converter multidões de homens e de mulheres. É constante a afirmação de que "mais e mais aderiam ao Senhor, pela fé" (5,14).

 

Diferentes grupos e classes sociais acolhem o anúncio da boa nova: muitos judeus (2,41.47; 5,14; 14,1; 17,10), gentios (11,18; 15,3; 18,8) e gregos (11,24; 14,1; 17,34; 17 ,4.12). Muitas pessoas importantes estão aderindo à fé cristã, por exemplo: sacerdotes (6,7), o eunuco (8,38), Paulo (9,17; 22,16; 26,17-18), Cornélio, um general do exército romano (10,1), Lídia, uma comerciante de púrpura (16,14), o carcereiro (16,33), mulheres gregas de alta posição (17, 12), Dionísio, Dâmaris (17,34), Crispo, o chefe da sinagoga (18,8).

 

Na Bíblia conversão e vocação estão intimamente relacionadas. As necessidades, as injustiças e o sofrimento das pessoas tocam a sensibilidade de mulheres e homens (Mt 9,35-36). O sonho de uma sociedade igualitária, querida e abençoada por Deus, vem à tona. Desse encontro, nasce o desejo de lutar por uma sociedade justa e digna. É uma experiência contagiante. Não dá para voltar atrás (Jr 20,9). Paulo, em meio a prisões e torturas, repetia: "o amor de Cristo me constrange. Ai de mim se eu não evangelizar" (1Cor 9,16).

 

Paulo, no encontro com os seguidores e seguidoras de Jesus, encontrou-se com o próprio Jesus. Esse encontro foi uma profunda experiência religiosa que o levou a uma transformação. Quem vive essa experiência não fica indiferente... Coloca-se à disposição: "Senhor, que queres que eu faça?" (22,10). Esse serviço gera vida nova para si e para muitas outras pessoas. É condição para recriar a festa, fazer um novo Pentecostes acontecer.

Venha, você é convidado, convidada a preparar e celebrar esta festa!

 

Curiosidade

Caminho

"Confesso-lhe, porém, uma coisa: eu estou a serviço do Deus de nossos pais, segundo o Caminho, que eles chamam de seita. Acredito em tudo que está conforme a Lei e em tudo que se encontra escrito nos Profetas" (24,14). O termo Caminho aparece várias vezes no livro dos Atos dos Apóstolos e pode identificar o movimento de Jesus ou a comunidade dos discípulos e discípulas (9,1-2), bem como os ensinamentos e a doutrina cristã (24,22).

O livro dos Atos dos Apóstolos pode ser resumido como o livro do Caminho. Apresenta o movimento de Jesus entre os anos 30 e 60. Caminho é uma abreviação de caminho de Deus ou caminho de Jesus de Nazaré. O movimento de Jesus é mais do que ritos e fórmulas, é uma maneira de viver, organizar, libertar e criar espaço para viver o amor e a solidariedade.