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3º Passo: Oração
3º Passo: Oração

3. A oração: suplicar, louvar, recitar.  A atitude de oração está presente desde o começo da Lectio Divina. No início da leitura invoca-se o Espírito Santo. Durante a leitura sempre aparecem momentos de oração, pois, por si mesma, transforma-se em prece. Mas dentro da dinâmica da Lectio Divina, apesar de tudo ser regado com oração, deve haver um momento de especial, próprio para a prece. Esse momento é o terceiro degrau, o da oração. Através da leitura, procuramos descobrir: "0 que o Texto diz"? A meditação aplica a Leitura em nossa vida: "0 que o texto diz para nós"? Até agora era Deus quem falava. Chegou o momento da oração propriamente dita: "0 que o texto me faz dizer, nos faz dizer a Deus"?

A atitude da oração diante da palavra de Deus deve ser como aquela de Maria, que disse: "Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc. 1,38). A palavra que Maria ouviu não era uma palavra da Bíblia, mas sim uma palavra percebida nos fatos da vida, por ocasião da visita do anjo. Maria foi capaz de percebê-la, porque a ruminação (cf. Lc. 2,19.51) tinha purificado o seu olhar e o seu coração. Os puros de coração percebem a ação de Deus nos fatos (cf. Mt 5,8). Rezando e cantando (cf. Lc 1,46-56), eles a encarnam na vida. Essa atitude de oração deve ser realista e não ingênua, o que se alcança pela leitura deve nascer pela experiência do nosso nada e dos problemas reais da vida, o que se alcança pela meditação. Deve tomar-se uma atitude permanente de vida, o que se alcança na contemplação.

A oração provocada pela meditação, inicia por uma atitude de admiração silenciosa e de adoração ao Senhor. A partir daí, brota a nossa resposta à palavra de Deus. Desde os tempos do novo testamento, os cristãos descobriram que nós não sabemos rezar como convém. É o próprio espírito que ora em nós (Rm 8,26). Quem melhor fala a Deus é o próprio Deus. Por isso a oração dos salmos ainda é a melhor oração. O próprio Jesus usou várias vezes os salmos e orações da Bíblia. Ele é o grande cantor dos salmos (St. Agostinho). Com Ele e nele, os cristãos prolongam a Lectio Divina pela oração pessoal, pela oração litúrgica e pelas preces da igreja.

Nesta grande comunhão eclesial é importante que a palavra de Deus suscite em nós, uma intensa vida de oração individual. Dependendo do que se ouviu da parte de Deus na leitura e na meditação, a resposta pode ser de louvor ou de ação de graças, de súplica ou de perdão, pode ser até de revolta ou de imprecação, como foi a resposta de JÓ, de Jeremias e de tantos salmos. Como na meditação é importante que esta oração espontânea não seja só individual, mas também tenha sua expressão comunitária, em forma de partilha.

A oração, provocada pela meditação, também pode ser recitação de preces já existentes. Neste ponto o oficio Divino presta urna grande ajuda. Ele espalha a leitura através das horas do dia. Infelizmente, a Liturgia das Horas que, nos primeiros séculos, alimentava a oração pessoal do Povo de Deus ficou restrita aos monges e clérigos. O monge ouvia a Palavra, memorizava-a e a levava consigo para ruminá-la nos intervalos, durante o trabalho manual. Além disso, urna das primeiras tarefas do monge, ao entrar no mosteiro, era decorar os salmos para que servissem de porta-voz e apoio no seu diálogo com Deus.

Hoje em dia, já não podemos repetir o esquema dos antigos monges. Os tempos mudaram. Fica, porém, a inspiração, o modelo e o desafio: decorar algum salmo para as horas de precisão; carregar consigo alguma frase da Bíblia para ruminá-la ao longo do dia, nos intervalos, durante o trabalho, no ônibus, no roçado; criar um esquema de vida, adaptado ao nosso modo de viver, que alcance para nós o mesmo objetivo.

Além do que já vimos, a Lectio Divina procura acentuar outro aspecto muito importante da oração, a saber, a sua ligação bem concreta com a vida, com a caminhada e a luta do povo. É um assunto delicado e difícil, que exige uma breve reflexão para situá-lo.

A Palavra de Deus vale não só pela ideia que transmite, mas também pela força que comunica. Não só diz, mas também faz. Um exemplo concreto é o sacramento: a palavra "Isto é o meu corpo!" faz o que diz. Na Criação, Deus fala e as coisas começam a existir (Sl 148,5; Gn 1,3). O povo judeu, muito mais do que nós hoje temos sensibilidade para valorizar esses dois aspectos da palavra e mantê-los unidos. Eles diziam na língua deles: dabar, o que significava, ao mesmo tempo, palavra e coisa: diz e faz, anuncia e traz; ensina e anima, ilumina e fortalece, luz e força, Palavra e Espírito.

Ora, a Lectio Divina, que tem suas raízes no povo judeu, também valoriza os dois aspectos e os mantém unidos. Pela leitura, procura descobrir a ideia, a mensagem, que a palavra transmite e ensina. Pela meditação, e sobretudo pela oração, ela cria o espaço onde a palavra faz o que diz, traz o que anuncia, comunica a sua força e nos revigora para a caminhada. Os dois aspectos não podem ser separados, pois ambos existem unidos na unidade de Deus, no Seio da Santíssima Trindade.

Desde toda a eternidade, o Pai pronuncia a sua Palavra e coloca nela a força do seu Espírito. A Palavra se fez carne em Jesus, no qual repousa a plenitude do Espírito Santo.

Infelizmente, na pratica pastoral, estes dois aspectos da Palavra estão separados. De um lado, os movimentos carismáticos; de outro lado, os movimentos de libertação. Os carismáticos têm muita oração, mas muitas vezes carecem de visão crítica. Às vezes, não fazem a leitura como deve ser feita: não situam o texto dentro do seu contexto de origem e, por isso mesmo, tendem para uma interpretação Fundamentalista, moralizante e individualista da Bíblia. Por isso, a sua interpretação e oração, muitas vezes carecem de fundamento real no texto e na realidade. Os movimentos de libertação têm muita consciência crítica, fazem boa leitura mas, às vezes, carecem de perseverança e de fé, quando se trata de enfrentar situações humanas que, dentro da análise científica da realidade, em nada contribuem para a transformação da sociedade. Às vezes, eles têm uma certa dificuldade para enxergar a utilidade de longas horas gastas em oração sem resultado imediato. A Lectio Divina, quando bem conduzida nos seus vários passos, talvez possa ser uma ajuda para corrigir as falhas e aproximar o que não deveria estar separado.

Finalmente, na oração reflete-se ainda o itinerário pessoal de cada rim no seu caminhar em direção a Deus e no seu esforço de esvaziar-se de si para dar Lugar a Deus, ao irmão, ao pobre, à comunidade. E aqui que se situam as noites escuras com suas crises e dificuldades, com seus desertos e tentações, rezadas, meditadas e enfrentadas à luz da Palavra de Deus (Mt 4,1-11).

Qual o momento de se passar da oração para a contemplação? Aqui não há resposta. A contemplação é o que sobra nos olhos e no coração, depois que a oração termina. Ela fica para além do caminho da Lectio Divina, pois é o seu ponto de chegada. Por ser o ponto de chegada é também ponto de partida de um novo começo de Leitura, meditação, oração. A contemplação é como a fruta da árvore: já estava dentro da semente. Vai crescendo aos poucos, amadurece lentamente.