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18.2- 2ª Aula - Conhecendo a cidade de Tessalonica
18.2- 2ª Aula - Conhecendo a cidade de Tessalonica

 

Curso Bíblico Online

2ª Aula: Conhecendo a cidade de Tessalonica

 

A Primeira Carta aos Tessalonicenses deixa transparecer o afeto, o amor e a preocupação de Paulo e seus colaboradores com a comunidade de Tessalônica, recém fundada, perseguida e ameaçada: ternura de uma mãe “acariciando os filhos” (2,7); “Tratamos cada um de vocês como um pai trata seus filhos” (2,11b); “Quanto a nós, irmãos, por algum tempo estivemos de vista separados de vocês, mas não de coração, e redobramos nossos esforços pelo ardente desejo de vê-los novamente" (2,17).

 

Como mãe, pai e irmão, Paulo expressa forte laço familiar com a comunidade, sobretudo na primeira parte da carta (lTs 1-3) e, ao mesmo tempo, orienta, encoraja e exorta seus fiéis na segunda parte (lTs 4-5): “Irmãos, nós lhes pedimos e encorajamos no Senhor Jesus: Vocês aprenderam de nós como devem viver para agradar a Deus. Vocês já vivem assim, mas devem continuar progredindo” (4,1); “Nós, que somos do dia, fiquemos sóbrios, revestindo a armadura da fé e do amor, e o capacete da esperança da salvação” (5,8).

 

 

Uma carta repleta de amor, alegria, preocupação e exortação! Vendo o contexto no qual a carta surgiu, compreende-se o imenso desejo de Paulo de estar com seus fiéis para "acariciar” e “encorajar”. Expulsos de Filipos, da Macedônia, por causa da perseguição da autoridade romana (2,2), Paulo e Silas (Silvano) dirigiram-se à cidade de Tessalônica, capital da província, onde fundaram a comunidade. Com a mesma ameaça, eles fugiram da cidade e partiram para Bereia, até aí os perseguiram. A perseguição só parou quando os mis­sionários saíram da Macedônia e chegaram a Atenas, província da Acaia, outra jurisdição romana. Em Atenas, Paulo enviou seu fiel colaborador Timóteo para verifi­car a situação da comunidade de Tessalônica. De volta, Timóteo encontrou Paulo em Corinto, dando-lhe a boa notícia da perseverança da comunidade e também sobre a tribulação e os problemas do cotidiano: “É que vocês se tornaram imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a Palavra com a alegria do Espírito Santo, apesar de tantas tribulações” (1,6).

 

As tribulações eram inevitáveis! Ao anunciar o evan­gelho de Jesus crucificado como Messias e Salvador, Paulo e seus seguidores ameaçavam a sociedade escravagista, controlada pela força do Império Romano com a figura poderosa do imperador, messias e salvador: “O nosso evangelho não chegou a vocês apenas com palavras, mas também com poder, com o Espírito Santo, e com toda a convicção” (1,5). O Evangelho teve o poder de formar a comunidade na liberdade, igualdade e fraternidade no mundo escravista. O evangelho de Jesus crucificado estava na contramão da proposta do Império Romano. Daí a perseguição!

 

A perseguição atingiu duramente Paulo, seus cola­boradores e a comunidade, cujas vidas já eram bastante castigadas: a maioria dos membros da comunidade cristã de Tessalônica, como a de Corinto, era constituída por escravos: trabalhadores braçais sem direitos de cidada­nia, sofriam muito mais com a exploração, violência e humilhação: “Passamos fome e sede, estamos mal vesti­dos, somos maltratados, não temos morada certa, e nos cansamos trabalhando com as próprias mãos” (1Cor 4,11-12; cf. 1Ts 2,9). Uma vida ameaçada! Por isso, é muito compreensível que a comunidade de Tessalônica esperasse ansiosamente pela vinda do Senhor Jesus, o dia da salvação: “Quanto a datas e momentos, irmãos, não é necessário escrever-lhes. Pois vocês sabem muito bem que o Dia do Senhor virá como ladrão à noite” (5,1).

 

A vida ameaçada também faz parte da realidade experimentada em nossa sociedade. Basta recordar algu­mas notícias nos meios de comunicação: “6 homens têm a mesma riqueza que 100 milhões de brasileiros juntos”; “O desemprego no Brasil atinge mais de doze milhões”; "Dos cinco milhões de estabelecimentos rurais, a meta­de possui menos de 10 hectares, numa área de aproxi­madamente 7,9 milhões de hectares. Já os 37 maiores latifúndios possuem juntos 8,3 milhões de hectares”; “Hoje, no Brasil, temos 60 milhões de pobres e outros tantos milhões abaixo da linha de indigência”; “Onda de violência gera morte dentro e fora de presídios”; “A operação Lava Jato, fraude e corrupção na administra­ção política”; “Desastre ambiental da Samarco”, entre tantas outras.

 

A má distribuição de renda, concentração da terra, desemprego, corrupção, violência, desastre ambiental, pobreza, fome, doença e morte ameaçam a vida cotidia­na das pessoas. Como no tempo de Paulo, os poderosos de hoje, com sua ganância e ambição, estão sacrificando ida humana e a mãe natureza: “Pois bem, sabemos a criação inteira geme e sofre até agora com dores parto” (Rm 8,22).

 

Com afeto e preocupação, Paulo e seus colaboradores escreveram a Primeira Carta aos Tessalonicenses, a encorajar e orientar a comunidade que estava ameaçada: “Sem cessar, lembramos a obra da fé, o esforço amor e a constância da esperança que vocês têm no Senhor nosso Jesus Cristo, diante de Deus nosso Pai” (1,3). É necessário fortalecer a perseverança da comunidade com a fé ativa, o amor fraterno e a esperança teimosa, como motor na caminhada, rumo à realização projeto de Jesus crucificado e ressuscitado: Para que nele nossos povos tenham vida.

 

Que o estudo e a meditação da Primeira Carta aos salonicenses renovem nossas comunidades cristãs, a que elas sejam, em um mundo no qual a vida está ameaçada, sinal do projeto do evangelho de “Jesus cru­zado” e assumido por Paulo e suas colaboradoras e colaboradores: reino de justiça, igualdade e fraternidade sobretudo, do amor solidário com as crucificadas e os crucificados de hoje. Nosso diálogo com a carta quer ser animado com o mesmo afeto, carinho e amor de Paulo: Tínhamos tanto carinho por vocês, que estávamos dispostos a dar-lhes não somente o evangelho de Deus, mas a nossa própria vida, tão amados vocês se tornaram a nós” (2,8).

 

Conhecendo a cidade de Tessalônica

 

Na segunda viagem missionária (49-52 d.C.), Paulo atravessou a província da Ásia (a atual Turquia) e chegou à cidade de Filipos, na província da Macedônia (Europa, atualmente Grécia meridional), por volta do ano 50 d.C. Esse foi o início de sua missão na Europa! Depois de passar alguns meses pregando o Evangelho, Paulo e seu colaborador Silas (Silvano) foram perseguidos: “mesmo depois de sofrermos e termos sido insultados em Filipos” (1Ts 2,2a).

 

Expulsos de Filipos, eles seguiram para o oeste, pela via Egnatia, a grande estrada romana que ligava Roma com as províncias do Oriente, fazendo conexão com importantes estradas, como a via Ápia (vinda de Roma). Depois de uma jornada de cerca de 150 quilômetros, Pau­lo e Silas chegaram à cidade de Tessalônica (atualmente Salônica, Grécia), capital da província da Macedônia. Uma das cidades mais movimentadas e prósperas do Império Romano no século I.

 

Tessalônica foi fundada em 315 a.C., por Cassandro, um general de Alexandre Magno, que lhe deu o nome de sua mulher, Tessalônica, irmã de Alexandre. Por ter uma área rural fértil, um bom porto e, especialmente, localização estratégica, a cidade de Tessalônica sempre fora cobiçada pelos romanos. Na batalha de Pidna, em 168 a.C., os romanos finalmente conquistaram a cidade, e a transformaram na capital da Macedônia. Mais tarde, por ocasião da batalha de Filipe, em 42 a.C., Tessalônica obteve do imperador Augusto as regalias de “cidade livre”, tendo administração e tribunais próprios.

 

Sabe-se que esse privilégio dado a Tessalônica não era devido ao tamanho da cidade. Comparando com as outras capitais provinciais, como Éfeso asiática, Antioquia da síria ou Alexandria egípcia, Tessalônica era uma das menores capitais. Mas tornou-se a sede natural do poder romano por sua localização: na via Egnatia, a ci­dade tinha acesso à estrada vinda da província da Acaia (Atenas e Corinto), à via Ápia (Roma - o mar Adriático) e às principais estradas para o Oriente. Estava situada junto a uma pequena baía (porto natural), no Norte da Grécia, no mar Egeu (o golfo Termaico). Enfim, uma localização geográfica privilegiada, com conexão para todos os pontos do império!

 

Tudo isso favoreceu Tessalônica a tornar-se um importante centro comercial, político e cultural, contri­buindo para a exploração e comercialização das riquezas agrícolas e minerais da Macedônia, como também para a chegada de vários povos, atraídos pelas oportunidades de comércio, trabalho, prazer etc. Era grande a circulação de pessoas e de mercadorias! A capital da Macedônia gozava de prosperidade, poder e diversidade sem precedentes.

 

No tempo de Paulo, Tessalônica possuía uma po­pulação ao redor de quarenta mil habitantes, pessoas provenientes de todas as partes do Mediterrâneo. As informações históricas atestam, entre a população grega da cidade, a presença de vários povos: egípcios, trácios (povo indo-europeu), ítalos (da antiga Itália), sírios, ju­deus, entre outros. O destaque entre eles eram os comer­ciantes italianos que viajavam atrás das oportunidades comerciais no Império Romano.

 

A diversidade da população da cidade se refletia tam­bém em sua diversidade religiosa. Além dos cultos locais e das divindades do Olimpo grego (Zeus, Apoio, Ares, Afrodite, Dionísio etc.), a presença de cultos às divinda­des “estrangeiras” é bem atestada em Tessalônica: cultos romanos com suas divindades (Júpiter, Febo, Martes, Vênus etc.), culto obrigatório ao imperador (salvador e messias), divindades egípcias (Serápis, Osíris, Anúbis), asiáticas (Átis e Cibele) e o judaísmo, reconhecido como a religião lícita. Também não faltavam novas religiões de mistérios, vindas do Oriente. Seus pregadores circulavam pelas ruas da cidade, vendendo o “êxtase espiritual”. Era um grande mercado religioso!

 

Diversidade, poder e prosperidade sem precedentes! Tessalônica era uma verdadeira cidade cosmopolita: muitas mercadorias e muitas pessoas circulavam por via terrestre e marítima. Entre elas, os ricos comerciantes, fazendeiros, militares aposentados, atraídos a Tessalônica pelo fato de ser cidade capital e livre, e por sua riqueza, grandeza, beleza e glória, sem falar de farra e prazer de um típico centro urbano.

 

Dito isso, é preciso acrescentar também a ganância, exploração, manipulação política, corrupção, violência, imoralidade, desigualdade, miséria, fome e morte em Tessalônica, típica sociedade escravagista. A riqueza era conquistada a partir do trabalho escravo e do comér­cio. Talvez cerca de dois terços da população fosse de escravos, vivendo à margem da sociedade! Os escravos, considerados como uma propriedade qualquer, sofriam muitas vezes injustiça e crueldade.

 

Os estudos descrevem os ambientes em que vi­viam os pobres da periferia da cidade: ruas estreitas e malcheirosas e casas mal construídas. Miséria, fome e doença tomavam conta dos pobres escravos. A vida era curta! Talvez a duração da vida de um escravo fosse um pouco mais de vinte anos. Havia uma grande incidência de suicídios.

 

A grande massa de "imigrantes pobres e escravos” do Oriente Médio e das margens do Mediterrâneo chegou a Tessalônica para ganhar a vida ou sobreviver na cidade cosmopolita. Eram pobres desenraizados! Eles sofriam com a insegurança, exploração e violência na vida da periferia. E, nela, o próprio Paulo acabou trabalhando e pregando a Boa-Nova de Jesus crucificado.

 

Conhecendo a comunidade cristã de Tessalônica

 

Estando em Tessalônica, Paulo era grato aos filipenses pelo auxílio recebido: “E quando eu estava em Tessalônica, vocês mais de uma vez me enviaram ajuda para minhas necessidades” (Fl 4,16). Por que a comunidade cristã de Filipos auxiliou as atividades missionárias de Paulo em Tessalônica? O que a comunidade de Tessalônica teria feito? Parece haver, nesse fato, problema na comunidade? Que tipo de comunidade havia em Tessalônica?

 

Como princípio geral, Paulo preferiu trabalhar para a própria manutenção e inclusive trabalhou em Tessa­lônica: “Pois vocês ainda se lembram, irmãos, de nosso trabalho e fadiga. Noite e dia trabalhando para não sermos de peso para nenhum de vocês, nós assim lhes proclamamos o evangelho de Deus” (2,9).

 

O recebimento do auxílio dos filipenses para o traba­lho missionário em Tessalônica e o fato de trabalhar noite e dia, como o próprio Paulo afirma: “Para não sermos peso para nenhum de vocês”, são elementos que lançam uma luz indireta sobre a realidade da comunidade cristã de Tessalônica:

 

1. A princípio, Paulo trabalhava de dia para ganhar o pão e, de noite, pregava o Evangelho. Com o aumento da atividade pastoral, teria pouco a pouco deixado de trabalhar e ganhado menos. Necessitava de auxílio para a sua manutenção. Mas a comunidade tinha poucos recursos, porque a maioria de seus membros era pobre!

 

2.O próprio Paulo trabalhou e exortou a comuni­dade a trabalhar com as próprias mãos (4,11). Na sociedade greco-romana, o trabalho manual era normalmente função de escravos. É muito pro­vável que a comunidade, em grande parte, fosse formada por escravos, sem direitos de cidadania.

 

Tudo leva a crer, portanto, que os membros da co­munidade de Tessalônica eram pessoas empobrecidas e sofridas, vivendo na periferia, em “extrema pobreza” (2Cor 8,2). Trabalhavam “de noite e dia” com suas pró­prias mãos, alguns como carregadores no porto. Eles ansiavam por liberdade, segurança e vida digna: ter co­mida, roupas e moradia decente (cf. 1Cor 4,11-13). Cer­tamente sonhavam poder possuir direitos de cidadania e participar das decisões em assembleia. Esse era o mundo dos pobres trabalhadores das grandes cidades do império!

 

Exatamente nesse mundo, Paulo entrou, trabalhou com suas próprias mãos e lançou as sementes do Evan­gelho, nascendo aí uma pequena comunidade cristã. Esta foi a sua estratégica pastoral: entrar no mundo dos trabalhadores pobres.

 

Havia, nas cidades do Império Romano, associações voluntárias ou confrarias de pessoas em tomo da mesma atividade profissional, da devoção à mesma divindade ou da mesma localidade. Elas organizavam convívio, reuniões, festas, cultos e, sobretudo, as refeições comuni­tárias. Uma forma de proporcionar senso de identidade, solidariedade, dignidade, segurança, promovendo a ajuda mútua e a fraternidade.

 

Não há dúvida de que Paulo, como artesão de tenda, trabalhou, participou ou organizou a associação dos tra­balhadores pobres na periferia da cidade de Tessalônica. A oficina na qual Paulo trabalhava se tornou a base es­tável de contatos entre os trabalhadores, seus familiares e amigos. Era um espaço favorável para a semente do Evangelho (1,4-6). A semente brotou, cresceu e nasceu a comunidade cristã, proporcionando honra, dignidade, fraternidade e esperança para o pequeno grupo de pobres tão sofridos, humilhados e machucados.

 

Na Primeira Carta aos Tessalonicenses, Paulo agradece a Deus pela fé, amor e esperança, presentes na comunidade recém-nascida. Até um grande elogio: “Tanto que vocês se tornaram modelo para todos os fiéis da Macedônia e Acaia” (1,7). Nas entrelinhas da carta, também é possível ver as dificuldades e os problemas da comunidade cristã de Tessalônica:

 

1. Perseguição contra a comunidade: no seu evan­gelho, Paulo apresentava Jesus crucificado e ressuscitado como Senhor, título reservado ao imperador e dono de escravos, pregando um mundo de liberdade, igualdade e fraternidade. A pregação correspondia aos anseios dos pobres escravos, mas, ao mesmo tempo, ameaçava a pró­pria sociedade escravista. Os poderosos tentaram destruir as sementes lançadas na comunidade (1,6).

 

2. Costumes e cultura: as cidades com privilégios imperiais, como Tessalônica, por exemplo, eram marcadas por farras e prazeres. Moralidade e vida sexual com liberdade sem limite. Era difí­cil viver na “santidade” cristã, abandonando os costumes fortemente enraizados na vida diária (4,1-8).

 

3. Diferentes religiões e divindades: na cidade cosmo­polita, a religião ganhava um amplo espaço. Era muito comum haver rituais com prática sexual. Por exemplo, tal prática é atestada nos cultos para as divindades Dionísio, Afrodite, Osíris, e íris. Para os cristãos de Tessalônica, provenientes de outros cultos (1,9), era até incompreensível abandonar os ritos com liberdade sexual para servir ao “Deus vivo e verdadeiro”.

 

4. Trabalho braçal: no dia a dia, os pobres da peri­feria sofriam com o trabalho braçal pesado. Para eles, era difícil aceitar a proposta de considerar o trabalho manual como “honra” (4,11).

 

5. Vinda do Senhor: a comunidade pensava que a vin­da gloriosa do Senhor Jesus se realizaria logo, e começou a apresentar preocupações e problemas (4,13-5,11): os fiéis já falecidos não vão participar desse grande evento? Como a vinda do Senhor era iminente, só se poderia rezar e olhar para o alto? Até se poderia parar de trabalhar? f) Vida comunitária: no mundo helenista, o espírito de busca desenfreada de riqueza, poder, prazer e honra dominava a sociedade. Competição, desi­gualdade, violência faziam parte da vida diária do povo. Dentro desse ambiente, é difícil viver "em paz uns com os outros”, contribuindo para o bem comum da comunidade e repartir os bens com os menos favorecidos (5,12-22).

 

Diante dessas inquietações manifestadas na comuni­dade recém-nascida, perseguida e ameaçada, Paulo temia que a comunidade abandonasse a semente do Evangelho: fé, amor e esperança. Então, ele escreveu imediatamente esta carta: Primeira Carta aos Tessalonicenses.

 

Conhecendo a Primeira Carta aos Tessalonicenses

A Primeira Carta aos Tessalonicenses nos faz vibrar com a alegria de Paulo e seus colaboradores, porque a comunidade, apesar da perseguição e dos sofrimentos, continua fiel ao evangelho de Jesus crucificado e ressus­citado! No primeiro versículo, de forma breve, há um ca­beçalho contendo remetentes, destinatários e uma breve saudação, seguida de uma extensa ação de graças (1,2-10). Paulo agradece pela fé, amor e esperança vivenciados pela comunidade, e anuncia os temas de sua carta, destacando como principal o dia da vinda do Senhor.

 

Na primeira parte, Paulo e seus colaboradores re­lembram o modo como eles exerceram a sua atividade missionária em Tessalônica (2,1-12). Em 1Ts 2,13-16, há uma outra ação de graças pela perseverança dos tessaloni­censes. Paulo lamenta o fato de não poder ir a Tessalônica e envia seu fiel colaborador, Timóteo, que lhe traz boas notícias ao voltar da Macedônia (2,17-3,10), concluindo com uma oração de bênção (3,11-13).

 

Na segunda parte da carta, há dois pedidos: "nós lhes pedimos e encorajamos” a viver uma vida de santi­dade e a apresentação de várias exortações sobre a vida cristã (4,1-5,11); o segundo pedido é um convite a viver em atitude de ação de graças, seguido de algumas reco­mendações sobre a vida fraterna (5,12-22). Essa carta procura resposta a algumas questões da comunidade sobre o amor fraterno (4,9-12), como será a vinda de Cristo para os fiéis já falecidos (4,13-18) e a respeito dos tempos e momentos (5,1).

 

Eis um possível esquema para a carta:

 

1,1-10- Introdução

1,1 - Cabeçalho: remetente, destinatário e saudação.

1,2-10- Ação de graças pela escolha e vida da comunidade.

 

2,1-3,13 - Relação entre a comunidade e os apóstolos.

             2,1-12: Vida e atividade dos missionários como modelo para a comunidade.

             2,13-16: Ação de graças pela fidelidade da comunidade.

              2,17-20: Paulo tentou várias vezes ir a Tessalônica.

              3,1-10: Timóteo é enviado a Tessalônica. 3,11-13: Oração pela comunidade.

              4,1-5,22: Exortações à comunidade

              4,1-12: Orientações morais sobre a vida cristã.

              4,13-18: O dia da vinda do Senhor para os mortos e os vivos.

              5,1-11: Apelo à vigilância na expectativa da parusia.

              5,12-22: Orientações para a vida da comunidade.

 

 5,23-28: Conclusão - intercessão, pedido que a carta seja lida a todos, saudações e bênção final.

 

Embora seja uma carta escrita com o coração, existem alguns problemas literários. Vejamos: em 1Ts 2,14-16, há afirmações antijudaicas e expressões não paulinas; uma outra questão é a organização do texto: 1Ts 4,1-5,11 vem depois de uma longa ação de graças (1,2-3,13) e ainda se podem observar evidências de dois inícios (1,2-10; 2,13-16) e de duas conclusões: 3,11-13 e 5,23-28. Eis alguns pontos para considerarmos:

 

1. Em 1 Ts 2,14-16, há uma comparação com a situ­ação dos judeus cristãos da Judeia: ambos sofrem da parte de seus respectivos conterrâneos. O texto afirma que os judeus “mataram o Senhor Jesus e os profetas, e nos perseguiram. Não agradam a Deus e estão contra todas as pessoas” (2,15). Podemos ver a presença de dois temas: o primeiro é o da incredulidade de Israel e o segundo é o do antissemitismo das elites romanas que condenava os judeus por seu sectarismo: “Querem impedir­mos de pregar às nações para que se salvem” (2,16a). 1Ts 2,14-16 é um acréscimo posterior, e não da autoria de Paulo.

 

2. 1Tessalonicenses: uma ou duas cartas? Os estu­diosos distinguem duas cartas: Carta A (2,13 a 4,2): nesse escrito, Paulo e seus colaboradores agradecem a perseverança dos tessalonicenses e, diante da impossibilidade de ir a Tessalônica, enviam Timóteo, que traz notícias da fidelidade da comunidade, encerrando essa parte com uma oração de bênção. Carta B (1,1 a 2,12 e4,3 a 5,28): trata das perseguições e das exigências da vida cristã (4,3-12 e 5,12-22), além disso, aborda os temas relativos ao Dia do Senhor (4,13 a 5,11). Assim, é possível que originalmente houvesse duas cartas que foram reunidas, formando uma só carta.

 

A Primeira Carta aos Tessalonicenses continua sendo para nós um apelo para confiarmos nas pessoas que co­laboram em nossa missão e um desafio à nossa vivência cristã. É uma carta endereçada à comunidade cristã de Tessalônica e às pessoas cristãs de todos os tempos.

 

Com respeito e amor, queremos reler a Primeira Carta aos Tessalonicenses, aprender como ser missio­nária e missionário com Paulo e seus colaboradores e, ao mesmo tempo, queremos também aprender com a comunidade como viver e perseverar no Evangelho de Deus e de Jesus Cristo. Que possamos reavivar a certeza de que Deus é fiel e agirá (cf. 5,24). O desafio nos é lan­çado. “Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja conosco" (5,28).

 

Obs: Use a caixa de comentário abaixo e deixe o seu parecer sobre esta lição.

 

Para ir para a 3ª aula: http://leituraorante.comunidades.net/163-3-aula-o-anuncio-do-evangelho-de-deus